Gonçalo Rebelo de Almeida: “2021 vai ser um ano extremamente desafiante”

O Marketing FutureCast Lab levou a cabo uma conferência virtual sobre “Gestão no Pós-Covid-19 – Exemplos e Tendências Inspiradoras” e o administrador da Vila Galé, Gonçalo Rebelo de Almeida, partilhou a sua experiência no evento durante um painel dedicado ao “Consumidor Pós-Covid-19“.

Gonçalo Rebelo de Almeida começou por afirmar que “nunca fomos forçados a encerrar” mas que a hotelaria sofreu a “maior transformação possível do consumidor” que “deixou de consumir”. Durante o confinamento, entre março e maio, o setor registou uma “ausência total de clientes” que teve como resultado “receita zero”, visto que a pandemia “vai ao core da razão de existirmos que é a circulação de pessoas”, atenta.

Depois disso, a hotelaria teve um momento de “regresso a alguma atividade” mas com “desafios grandes do ponto de vista de restaurar a confiança” dos consumidores sobre o facto de ser seguro ficarem hospedados em hotéis. O administrador da Vila Galé argumenta até que diversos estudos mostram que “não há indícios nenhuns de focos de contágio originados na hotelaria”. No entanto, admite que “tivemos muita dificuldade em retomar a confiança”.

Ainda assim, entre julho e setembro, existiu alguma procura e sem qualquer “transformação radical face aos comportamentos anteriores”. O que Gonçalo Rebelo de Almeida nota são as reservas à última hora, mas uma tendência que já se verificava antes, e o facto dos clientes se sentirem “mais confiantes em permanecer dentro do hotel em vez de circular em zonas exteriores e irem fazer outras atividades”, verificando-se “mais fluxo de pessoas internamente” e consumo, de refeições e serviços de Spa, especialmente pelas famílias, que são o principal target da Vila Galé.

“Não é fácil gerir neste ambiente hostil ao nosso setor de atividade”

A partir de 10 de setembro, com todas as limitações de circulação nos diferentes mercados, a situação piorou. O Grupo Vila Galé, por exemplo, regista uma “queda de 95% nos mercados externos” e os 5% dizem respeito apenas ao “movimento de estrageiros entre janeiro e fevereiro e durante o verão”. O principal mercado da Vila Galé sempre foi o português, que “respondeu bem” durante esse período, segundo o administrador. No entanto, o cenário aponta para se “chegar ao final do ano com quebras de receita na ordem dos 70%” sendo que a média do setor é entre 70% a 80%.

A Vila Galé procurou apostar nos fins de semana e nas escapadinhas, sobretudo no interior, e pensava agora nos feriados no início de dezembro mas “agora temos mais restrições impostas”. Gonçalo Rebelo de Almeida conclui então que “não é fácil gerir neste ambiente hostil ao nosso setor de atividade”.

O responsável defende ainda que tem existido uma “confusão legislativa, semanal ou quinzenal, que baralha completamente o consumidor” e dá como exemplo o facto de ter sido dito que não podia haver ajuntamentos com mais de 10 pessoas e depois “sai um diploma aplicado à indústria dos eventos e congressos a dizer que podem continuar a ser realizados desde que com regras”. O resultado foi que “as pessoas não entenderam que era possível continuar a fazer eventos corporativos, em centros de congressos e hotéis” e “o segmento corporate desapareceu” no mercado nacional.

As zonas urbanas, como Lisboa ou Porto, foram as que mais sofreram os efeitos da quebra de procura turística, até pela questão dos eventos, e sem qualquer tipo de retoma. Pelo contrário, o que “funcionou bem durante os meses de verão” foram os produtos no Alentejo – com ocupação igual ao ano anterior – e o Vila Galé Serra da Estrela. Também os “os resorts do Algarve funcionaram bem”. A estratégia do Grupo foi sempre o “desenvolvimento do interior e descoberta de novos destinos” e assim continuará a ser. A Vila Galé mantém, atualmente, 10 unidades abertas até porque “a estadia nos hotéis é uma coisa perfeitamente segura”, sublinha, “com regras muito rígidas de circulação e higienização dos espaços”.

2021 vai ser um ano extremamente desafiante”

Gonçalo Rebelo de Almeida adianta que 2021 “vai ser um ano extremamente desafiante” até porque será “difícil retomar os fluxos internacionais no 1.º semestre”. Já quanto ao mercado nacional, espera que este “responda na Páscoa” apesar de com uma “retoma muito tímida”. Tudo depende da vacina e da sua rápida distribuição, que pode ter um “efeito impulsionador da retoma”, ou de “algum fenómeno de processo de aprendizagem de convivência da sociedade” com a Covid-19.

O administrador da Vila Galé comenta que “falhou redondamente na UE a articulação das regras” porque “os consumidores não conseguiram perceber se podiam ou não viajar em segurança”. Outro fenómeno que o responsável refere é o “downsizing [redução] das companhias aéreas” que estão a “alienar aviões e a dispensar tripulantes”, sendo a aviação uma atividade que “não retoma rapidamente”, o que significa que “não se consegue prever qual a capacidade aérea que vai existir nos próximos anos” com a IATA a apontar o horizonte de 2024 para que a aviação retome os níveis de 2019.