Governo deve criar incentivos à concorrência

Porque está de saída, Adolfo Mesquita Nunes iniciou ontem a sua intervenção no Salão de Negócios e Viagens dizendo que agora tem “mais liberdade para dizer algumas coisas”, prosseguindo com um discurso um pouco fora do habitual, com algumas reflexões da sua passagem pelo Governo.

O secretário de Estado do Turismo lembrou que somos um destino “que está a crescer, com muita experiência do ponto de vista turístico”, salientando que o empreendedorismo tem contribuído para o setor crescer e inovar com novas propostas a surgirem todos os dias.

“Se há área em que Portugal pode ser o país primeiro em matéria de empreendedorismo é precisamente o turismo, o que só é possível estando aberto à concorrência”, referiu, ressalvando que “podemos ser um balão de ensaio para muitas experiências do ponto de vista do empreendedorismo na área do turismo”.

Adolfo Mesquita Nunes afirmou que “inovação e criatividade é tudo o que acontece quando o Governo não está a olhar”, destacando os “limites” que alguns tentam impor à inovação. “Tive que lidar com formas subtis de evitar a concorrência, de evitar a inovação e a criatividade”, explicou, acrescentando as “justificações ou desculpas” utilizadas para a imposição dessas restrições. “Aconteceu dizerem que a ideia é boa mas coloca em causa o modelo de negócio, no caso do alojamento local, e que as nossas empresas têm ou põem em causa a qualidade e a segurança, daí pedirem para regulamentarmos os hostels, que surgiram sem leis”, explicou.

Adolfo Mesquita Nunes deixou claro que, apesar de tanto se falar em criatividade e inovação, “os estímulos que existem vão no sentido contrário, de impedir a inovação”, afirmando em contrapartida que “o nosso papel enquanto membros do governo é criar incentivos para que os novos produtos desafiem mesmo os velhos produtos, que haja concorrência feroz”.

“Quando nos pediram para regulamentar os hostels queriam criar uma barreira à entrada e impedir a nova concorrência. Aquilo que nós fizemos foi regulamentar os hostels da forma mais simples possível para aumentar a concorrência e facilitar a chegada de novos players”, exemplificou, reforçando que “não há nenhuma burocracia em Portugal que não seja criada cuja desculpa não seja a qualidade ou a segurança”.

O secretário de Estado do Turismo aproveitou, ainda, para lembrar os “resultados extraordinários” atingidos pelo setor da animação turística. “Liberalizámos a animação turística em Portugal e, num ano, este setor cresceu mais de 70%. É um setor que conseguiu, sem ajuda do Governo, melhorar as suas performances e isso só é possível com um setor privado de qualidade”, sublinhou.

Adolfo Mesquita Nunes concluiu o discurso afirmando que trabalhou com um setor que “soube sempre perceber as minhas posições e que conseguiu responder a vários dos desafios que foram sendo lançados pela concorrência”.