No ano em que a Ferpinta celebra o seu 50º aniversário, Ambitur entrevistou Gonçalo Teixeira, administrador da Vila Baleira Hotels & Resorts, uma das 26 empresas que integram este grupo português que vai já na sua terceira geração. Continuar a crescer no turismo é um dos objetivos, um crescimento que passará a curto prazo pela região da Madeira, onde a Vila Baleira passará a ser um dos maiores players com mais camas no destino. No futuro, a aposta será crescer por via da internacionalização. Leia aqui a 2ª parte desta Grande Entrevista.
Quem é Gonçalo Teixeira? Onde nasceu, que percurso a nível de formação fez, que influências o marcaram mais?
Nasci em São João da Madeira, paredes meias com Oliveira de Azeméis, onde a empresa está sedeada. Estudei no Porto. Acompanhei desde muito cedo os negócios da família, em concreto o meu pai e o meu avô, sendo que há uma ligação umbilical muito grande que eles têm ao chão de fábrica. O setor do turismo não é recente, mas diferente deste contexto. Eu cresci em ambiente de fábrica, com muita proximidade ao ambiente industrial. Sempre me fascinou, por outro lado, os negócios que ia ouvindo do dia-a-dia e a tomada de decisão, e tudo o que está relacionado com esta tomada de decisão, o que se aprende na faculdade e na prática. Seja a análise do risco, a estratégia, todos estes conceitos gosto de os ter bem presentes, gosto de ler sobre isso e discuti-los. Esta lógica fez-me optar pela área da gestão. Fui também acompanhando o crescimento do grupo Ferpinta, que acontece ano após ano, conciliando a vertente académica com a prática.
[blockquote style=”1″]Mas nunca se deve perder aquele espírito de sede de conhecimento prático, de se ouvir, experienciar e perceber como as coisas se fazem no dia-a-dia. Esta relação entre estes dois mundos é que faz com que as pessoas cresçam e se tornem bons profissionais.[/blockquote]
O meu avô, com a formação que tem, o quarto ano, e fazendo aquilo que fez, não poderia eu deixar de ter uma componente prática muito importante. Apesar disso considero que a formação deve ser cada vez mais objeto de empenho das pessoas, sendo esta um dos fatores essenciais para o crescimento. Mas nunca se deve perder aquele espírito de sede de conhecimento prático, de se ouvir, experienciar e perceber como as coisas se fazem no dia-a-dia. Esta relação entre estes dois mundos é que faz com que as pessoas cresçam e se tornem bons profissionais.
Como tive sempre esta experiência prática associada a esta base teórica fui sempre procurando atualizar-me. Para o meu presente e para o meu futuro considero que é importante encontrar este equilíbrio entre a rotina do dia-a-dia, os problemas que surgem e vão sempre surgir, com os problemas mais estratégicos da empresa. É determinante para mim ter tempo que me possibilite parar e não estar constantemente na rotina e nos assuntos do dia-a-dia das empresas. Estar sempre preso aos problemas do quotidiano leva a que fiquemos com uma visão de curto prazo, e a garantia da empresa está na vertente de médio e longo prazo, que é mais estratégico.
Na minha curta carreira, também considero importante beber de toda a informação possível e indispensável. Este é um dos bens mais valiosos que o gestor pode ter. Neste momento procuramos que toda a equipa que suporta as empresas possa ter informação para tomar as melhores decisões possíveis. Algo que aprendi no meu percurso mais académico, mas que é um ensinamento que nos dias de hoje é muito importante. Neste momento, só conseguimos diminuir os riscos das decisões pela vasta informação que a tecnologia nos consegue oferecer.
Parar para definir a estratégia correta, em paralelo com a informação correta para tomar as melhores decisões, estas componentes são fundamentais para atingirmos os objetivos traçados, é importante e faz toda a diferença.
[blockquote style=”1″]Neste momento, só conseguimos diminuir os riscos das decisões pela vasta informação que a tecnologia nos consegue oferecer.[/blockquote]
Qual o primeiro contacto com a atividade turística, do ponto de vista de negócio?
Desde o início da reorganização do grupo, em 2016, que iniciei em termos de gestão, o contacto com o grupo. Procurei sempre apoiar-me nas fantásticas bases que a nossa equipa nos oferece, ouvir muito e ter sempre uma proximidade para com as equipas. Este foi um dos principais fatores de sucesso, ser mais um, com a humildade de querer aprender sempre mais. A sede de uma melhoria contínua foi sempre aquilo que tentei incutir nas equipas e uma reciprocidade em termos de conhecimento, que não tinha em todas as áreas, nem de perto nem de longe, mas que procurei construir com as direções de cada área mais operacional dos hotéis. Tentei ter esse papel conciliador, que construísse uma base de conhecimento que fosse mais interessante para o hotel.
Um grupo com outras áreas de negócio pode, de alguma forma, trazer mais-valias para a gestão hoteleira, através da importação de modelos de gestão?
Sim, este é um ponto interessante, falo muitas vezes dele. Precisei de ter maior resiliência e adaptação, porque trabalhando num ambiente industrial e de turismo, dois mundos diferentes, ao nível da gestão existem metodologias próximas que procuramos aplicar de um lado que são benéficas para o outro. Fazemos alguns testes até interessantes nesse sentido, que têm resultado muito bem. Por exemplo, temos um departamento de melhoria contínua no mundo do ambiente industrial e muitos conceitos temos levado para os hotéis para queimar gorduras, melhorar procedimentos, com a ajuda da tecnologia conseguindo partir barreiras no sentido em que há muitas coisas que fazemos no dia-a-dia, tarefas importantes, mas que as máquinas podem fazer, o que nos permite fazer outras tarefas menos rotineiras e de maior valor acrescentado para a organização. Este é o fator mais interessante que temos conseguido aplicar do mundo industrial para o turismo. Instrumentos que permitem que a equipa comercial, a equipa de compras, as reservas, a receção tenham um papel mais produtivo e mais motivador, pois evita-se o trabalho mais rotineiro.
[blockquote style=”1″]Precisei de ter maior resiliência e adaptação, porque trabalhando num ambiente industrial e de turismo, dois mundos diferentes, ao nível da gestão existem metodologias próximas que procuramos aplicar de um lado que são benéficas para o outro.[/blockquote]
Estar num grupo familiar traz vantagens, mas também outras responsabilidades…
Tem sempre pontos negativos e positivos. O ponto principal e mais importante é a confiança, se isso não existir numa relação familiar, não existe de todo. Se transportarmos isso para o ambiente empresarial essa base desbloqueia muitas entropias que possam existir no dia-a-dia. Procuramos, trabalhando muito diretamente com o meu irmão e o meu pai, não levar os assuntos profissionais para casa, para manter o ambiente familiar o mais saudável possível.
Eu e o meu irmão, sendo de áreas de formação diferentes e também de áreas profissionais diferentes, temos o mesmo objetivo, que as empresas cresçam e que o grupo seja o mais saudável e desenvolvido possível. Tendo em conta esta premissa há uma permissão que às vezes eu entre nas áreas dele e o contrário, ao nível de ideias, e é assim que também às vezes surgem projetos, estratégias e visões um pouco diferentes do que as pessoas se calhar estão habituadas.
[blockquote style=”1″]Eu e o meu irmão, sendo de áreas de formação diferentes e também de áreas profissionais diferentes, temos o mesmo objetivo, que as empresas cresçam e que o grupo seja o mais saudável e desenvolvido possível.[/blockquote]
Trabalhando em hotéis, o que mais privilegia num hotel?
Procuro muito nos nossos hotéis, e insisto cada vez mais, que os nossos recursos humanos tenham um sorriso, um bom ambiente de trabalho interno e que a comunicação com a gestão de topo e com as várias hierarquias consiga fluir. Se isto acontecer, tudo se torna mais fácil. Muitas vezes isto num grupo grande é um tema difícil. Para isso tento ter um pé presente no dia-a-dia das empresas, acompanhando as redes sociais e, muitas vezes, respondendo a clientes, deste modo consigo acompanhar o feedback constante dos clientes, seja de satisfação como de insatisfação.
É fundamental que as equipas estejam, de uma forma geral, motivadas, empenhadas, completamente ativas no dia-a-dia. Isso será passado para os clientes e fará com que todo o produto seja coincidente com o nosso posicionamento e estratégia. Esta é a atitude que queremos ter nos hotéis.
[blockquote style=”1″]Procuro muito nos nossos hotéis, e insisto cada vez mais, que os nossos recursos humanos tenham um sorriso, um bom ambiente de trabalho interno e que a comunicação com a gestão de topo e com as várias hierarquias consiga fluir.[/blockquote]
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