Grande Entrevista I: “A grande missão é atuar sobre a inovação, facilitá-la e acelerá-la”

Conhecer o que é o NEST – Centro de Inovação do Turismo e qual a sua missão foi o objetivo da Ambitur nesta entrevista a Roberto Antunes, diretor executivo desta entidade da qual o Turismo de Portugal é um dos oito sócios fundadores. Esta é a 1ª parte desta Grande Entrevista, publicada na íntegra na edição 342 da Ambitur.

Como define o NEST?

O NEST é a prossecução da componente de inovação delineada na Estratégia de Turismo, promovido pelo Governo, que é ter um centro de inovação despoletador de oportunidades, de tempo, experiência, pilotos, em matérias que possam ser muito relevantes para o turismo no futuro, a três, cinco ou sete anos. Tomou-se desde logo no pensamento estratégico do turismo que poderia ser uma excelente oportunidade ter uma entidade cujo foco fosse a disseminação da tecnologia, do pensamento de inovação dentro de toda a cadeia do setor e que trabalhasse muito competências por conta de programas de capacitação, experimentação e pilotos. No fundo, uma entidade que estabelece pontes dentro do ecossistema, entre as universidades e polos técnicos, detentores de tecnologia, pequenas empresas, startups, aceleradoras e incubadoras. “Roubamos” o tempo e oportunidade para crescermos no entendimento de matérias tecnológicas ou de negócio, que possam ajudar na construção do futuro do turismo que se almeja, sustentável, com melhores oportunidades de emprego e de repercussão no protelar da nossa cultura e identidade.

Que tipo de entidade é o NEST?

Somos bastante pioneiros, na verdade. Foi pensado numa parceria entre entidades públicas e privadas para constituir uma associação sem fins lucrativos e de foro privado. É constituída por oito sócios fundadores: o Turismo de Portugal, que representa o setor público e detentor da estratégia setorial, e que se concerta com sete entidades privadas: BPI, Millennium BCP, Google e Microsoft, Nós, ANA Aeroportos e Brisa. O NEST é um formato inovador porque não se constitui como um departamento, como é típico lá fora, mas sim uma associação que combina a definição clássica do setor com outros adjacentes, como a mobilidade, os serviços digitais, os pagamentos, telecomunicações, entre outros e sem os quais não há turismo bem arquitetado. Esta abertura é fundamental no tipo de atividade e na ousadia que colocamos dentro dos nossos programas, porque pensamos o turismo de uma forma mais lata, mais aberta. Na verdade o turismo é um ponto de encontro de quase todos os outros setores económicos.

Qual a grande missão do NEST?

A grande missão é atuar sobre a inovação, facilitá-la e acelerá-la. Criar uma curva de aprendizagem geral do setor e que sirva para estarmos todos um passo adiante, esse é o nosso chapéu. Do ponto de vista estratégico, os avanços em matéria de digitalização e de sustentabilidade são os nossos grandes objetivos. A nossa estratégia passa por alavancar as pequenas e médias empresas, que compõem cerca de 80% do setor. Para além dos oito sócios fundadores, temos hoje 57 empresas associadas, temos ainda uma relação com 150 startups, que fazem parte do nosso network, do nosso leque de soluções e recursos. Os fundadores são interessados num desenvolvimento do setor como um todo. Estes contribuem para que os projetos possam crescer, numa primeira instância com a dedicação de uma equipa de gestão de projetos, liderada por mim e apoiando em diferentes frentes todas as iniciativas que desenvolvemos anualmente.

A nossa estratégia de atuação decorre em quatro pilares: cultura de inovação; capacitação; pilotos; e a área da colaboração. Na primeira vertente pretendemos estimular e gerar esta visão da necessidade dos negócios terem que evoluir no turismo e fazerem transformações nos seus modelos operacionais, terem que dar respostas com muito maior rapidez às necessidades dos turistas, às oportunidades, às transformações da procura.

Na área da capacitação pretende-se despoletar a visibilidade e o alerta para as oportunidades que existem para com as novas tecnologias e para o que servem, qual a sua potencial aplicação no próprio setor. Aqui temos desde suporte a pós graduações e cursos para transformação digital no turismo, a programas de e-learning construídos para uma das maiores necessidades do turismo, que é o marketing digital, até ao nosso trabalho feito com webinares, com mais de 70 gravados. Somos a maior base vídeo que existe, de conteúdo de turismo em português.

Depois temos a pilotagem, que é experimentar, dar margem para que haja projetos a acontecer que sem a nossa intervenção demorariam mais tempo a acontecer, tomando atenção às tecnologias mais promissoras para o setor. Temos cerca de oito projetos concretizados ou cujo piloto ainda decorre. Queremos que essas experiências se repercutam em conhecimento para que depois o ponto de partida de entendimento da sua utilização ou na sua aplicação seja muito mais evoluído.

Na parte da colaboração estabelecemos parcerias com entidades internacionais, a quem nos juntamos para entrarmos em programas da UE, como o programa Cosme, ou a coordenar organizações que são no fundo consórcios com fins muito bem estabelecidos pela UE como os polos de inovação digitais (DIH) ou até a nossa participação na coordenação de uma agenda que dá entrada no PRR, uma das 51 aprovadas para financiamento dentro das agendas mobilizadoras de inovação, numa coordenação partilhada com a Delloite. Este aspeto colaborativo de montar equipas e juntar as empresas em prol de um benefício maior é também uma área de atuação nossa.

De um modo geral, e daquilo que eu vejo do resto do mundo, somos provavelmente o centro de inovação mais polivalente. Não vejo outro com este espectro alargado de presença e impacto dentro de um setor como o que fazemos em Portugal.

Qual a estrutura do NEST?

É muito simples. É um diretor executivo que reporta diretamente à direção, que é composta pelos representantes dos fundadores. Temos uma equipa executiva com dois gestores de projetos para programas de inovação. Os nossos associados muitas vezes contribuem com recursos, desde serviços a mentoria, e muitas vezes até recursos humanos, mediante os projetos que nos propomos executar.

São o braço armado do Turismo de Portugal para a inovação?

Quase isso, mais uma entidade que, em conjunto com o Turismo de Portugal, atua sobre a inovação. Trazemos esta interlocução com outros setores, até pela forma como o NEST foi criado, e quanto a mim serve muito o propósito do que está definido na estratégia de desenvolvimento do turismo nacional, definida pelo Turismo de Portugal.

Por Pedro Chenrim; Fotos de Raquel Wise