“Há que estar efetivamente bem atento” à alteração de fluxos turísticos na Europa

A situação da Turquia e Canárias deve constituir um alerta para a evolução do turismo nacional. Se a Turquia está com uma postura muito agressiva e a retomar os índices de fluxos turísticos de há cinco/seis anos, por outro lado as Canárias demonstram atualmente sinais de alguns decréscimos para o próximo verão. Para António Trindade, CEO do PortoBay Hotels, há sinais de que os verdadeiros desafios para o turismo nacional se aproximam. E por aqui passa “a necessidade que a hotelaria e a oferta turística portuguesa têm de não permanecerem distraídas”, por um lado, por outro lado de uma perceção dos empresários hoteleiros têm que encarar o turismo como negócio e perceber onde está o foco da competitividade.

O responsável falou ao Ambitur.pt no âmbito da ITB Berlim, onde evidenciou a importância do certame para se compreender as tendências dos fluxos turísticos europeus. “Não nos podemos esquecer que a ITB se passa em Berlim, na Alemanha, onde está efetivamente sediada a nossa segunda maior produção para Portugal e também do facto de a ITB ser historicamente o ponto de encontro do mundo para o mundo e, por isso, é aproveitar estas oportunidades para nós que dificilmente teríamos”. António Trindade indica ainda que, por outro lado, a ITB também representa a possibilidade de se cruzar muita informação com os destinos que efetivamente são concorrentes ou que, no fundo, são parceiros da oferta turística portuguesa.

Mas que dados se podem retirar para Portugal da edição da ITB deste ano? “Venho de um encontro com dois amigos hoteleiros que me passaram a informação do que é a situação na Turquia e a situação nas Canárias, e que vêm efetivamente confirmar essas tendências: uma muito agressiva, a subir e a retomar índices e números de há cinco/ seis anos atrás, e as Canárias a passarem-nos uma situação de alerta para que o próximo verão apresente aqui alguns decréscimos, ainda não preocupantes, mas que de certa forma obrigam a ter aqui particulares cuidados”, indica o hoteleiro. E acrescenta que “para nós é particularmente importante para saber se podemos ter aqui uma correspondência entre países que foram obrigados a descer preços, países que se requalificaram ou países que aumentaram os preços num momento e onde”.

Olhando para o que se passa atualmente, “fundamentalmente é a confirmação em 2018 de que a bacia do Mediterrâneo tem camas a mais. A oferta é superior à procura. Portanto, há aqui algum ganho que Portugal foi tendo em termos de afirmação e protagonismo europeu, mas também ganhou com o facto de ter havido deslocação do tráfego turístico do Leste para Oeste, e é este tráfego que se movimentou para Oeste que agora tem aqui algum regresso para Leste”.

Desafios para as empresas nacionais
Por outro lado, lembra o empresário que “o facto de no Leste do Mediterrâneo haver muito mais investimento da operação turística europeia do que propriamente na parte Ocidental do Mediterrâneo” significa que “os grandes operadores turísticos têm fortes investimentos e fortes parcerias, por exemplo, na Turquia. A Turquia que é, evidentemente, o segundo maior proprietário em número de camas da Bacia do Mediterrâneo, e aí inclui-se toda a Europa Ocidental. E este regresso de uma Turquia irá pressupor algum reposicionamento do mercado nacional, mas também, e isto é sempre bom lembrar, a necessidade que a hotelaria e a oferta turística portuguesa têm de não permanecerem distraídas”.

Para António Trindade, “não houve um esforço de requalificação dos produtos nacionais como houve em Espanha, e até no caso mais concreto das Baleares. O facto de se terem requalificado na altura certa permite que se coloquem agora no mercado com uma oferta manifestamente melhorada. Infelizmente, não foi tanto isso que aconteceu em termos de Portugal”. O empresário espera “que não aconteça, com o ambiente de repercussão das Canárias – destino que tem o dobro das camas de Portugal inteiro, pois qualquer coisa que afete um destino como este tem sempre implicações…”.

Os hoteleiros e a competitividade
António Trindade quer, no fundo, passar dois a mensagem de dois objetivos essenciais: “Primeiro, é fundamental que a indústria, que a oferta turística, perceba que tem de separar conceptualmente a propriedade da gestão”. O hoteleiro explica que a dimensão e a economia de escala permitem que quem tenha mais expertise esteja mais dentro do negócio e possa, inclusivamente, obter melhores resultados para si e para quem é proprietário.

“Julgo que este é efetivamente o momento onde os próprios hotéis, já de uma certa dimensão mas que não estão inseridos em ambiente de rede de distribuição, darem a oportunidade a outros hotéis e a outros grupos hoteleiros, é uma forma de melhor se ressarcirem do investimento que fizeram. Têm efetivamente um melhor retorno do investimento feito se encontrarem ambientes de novas redes de distribuição”, frisa o CEO do PortoBay.

O empresário esclarece ainda que o que pode suceder se não se verificarem alterações nesta lógica de negócio é que, ao primeiro indicador de algum decréscimo turístico, a primeira opção que estes hotéis tomem será a de descer o preço para conseguirem manter-se no mercado. ” Esta perda de competitividade advém não só da ocupação mas também do facto de não poderem vender ao preço que gostariam de vender”, adianta.