“Uma marca é um sonho de um homem perpetuado na economia”. Este foi o ponto de partida de mais um webinar “Vê Portugal On”, promovido pelo Turismo Centro de Portugal (TCP). Sob o tema “As Marcas e a Covid-19”, Carlos Coelho, presidente da IVITY Brand Corp, falou sobre o papel das marcas em plena crise económica.
“Uma marca é aquilo que define uma relação que tem que ter um grau de inspiração capaz de mobilizar os que a produzem e a quem é destinada”, afirma o responsável, destacando que, numa marca “territorial, os desafios são maiores”, estando agregados à história, à cultura, à geografia ou à gastronomia que se expressa através da economia. A marca do Turismo do Centro é um bom exemplo disso: identificaram-se “ os fatores diferenciadores da região ao nível geográfico ou histórico” e, depois, tentou-se “encontrar uma forma de sintetizar e de expressar” esses elementos.“Quando criámos a marca e a afirmação ´um país dentro de um país´, era para mostrar a riqueza que o Centro tinha, riqueza essa que neste momento está ainda mais valorizada”, relembra Carlos Coelho.
O contexto de dificuldade que a sociedade vive atualmente é motivo para o fundador da IVITY Brand Corp afirmar que “vamos viver num mundo novo”, sendo esta uma oportunidade única de “fazermos parte da história da humanidade”: por um lado, “vivemos com medo” e receio do vírus; mas, por outro lado, “se formos capazes de sobreviver, temos a responsabilidade de fazer um mundo novo”, onde as marcas “têm que ser cada vez mais verdadeiras”. E apesar de todas afirmarem que têm um propósito, os novos tempos trazem novos desafios: “Vamos querer saber aquilo que as marcas nos têm para entregar”, considera o publicitário, acrescentando que mesmo as marcas de entretenimento “não vão servir apenas para entreter” mas, antes, que, “correspondam às nossas necessidades”.
É no quadrante social que Carlos Coelho considera que as marcas mostravam mais responsabilidade e oportunidade: “Agora, não é apenas um fator de diferenciação mas sim a capacidade que uma marca tem em integrar todos os valores da sociedade”, indicando que estes valores não se resumem “apenas do respeito ambiental”. No caso do Turismo, o responsável afirma que Portugal “vai ter um grande sofrimento de curto-prazo”, mas os “fundamentos” não foram perdidos e ganham aqui grande relevância: “Os territórios de baixa densidade passam a ser territórios de alta atratividade turística”. Além disso, “há uma oportunidade enorme de descentrar o turismo nas zonas urbanas e levá-lo ao resto do nosso país”, reforça. Carlos Coelho acredita que “o turismo vai voltar, primeiro, pelas mãos dos portugueses e o mercado interno passará a ser ibérico”.
“Não vale a pena insistir no passado, mas sim em hábitos diferentes e mais inovadores”
No momento em que a pandemia se instalou, Carlos Coelhos afirma que as marcas ficaram perdidas: “Esqueceram-se do seu conteúdo” e depararam-se com um “problema grave de sustentabilidade” que acabou por colocá-las “todas iguais”. Por isso, esta é altura de uma marca “ser feita sempre em função do conteúdo, esquecendo o contexto”, até porque o “mercado muda de um momento para o outro”.
A crise que hoje Portugal atravessa é diferente da crise de 2008: “Chegamos a esta de uma forma diferente com saldo positivo em relação à nossa autoestima”, o que poderá ser determinante na forma como podem ser encaradas as dificuldades. O publicitário acredita que a altura apela para uma certa necessidade de ter uma “economia solidária”, mudando a forma de “olhar para o país” e fazendo como que se comecem a “consumir as nossas coisas”. Nesta linha, Carlos Coelho, acredita que tudo o que é “extraordinário” terá valor: “Vamos ter que procurar os recantos que temos e vamos dar mais valor a sentir a vida”, sendo este um momento de oportunidade para as marcas. Embora haja consciência das falências que surgirão, a visão do responsável é que “não vale a pena insistir no passado”, mas sim em “hábitos diferentes e mais inovadores”.
A mensagem de Carlos Coelho é de apelo aos “conteúdos sérios” em todas as marcas: “São pilares estruturantes da sociedade e têm que ter significado”. No entanto, é fundamental que as marcas e conteúdos “façam parte desta mudança” e, dentro dela, “não deve ser desperdiçada a oportunidade de sermos verdadeiramente solidários”, remata.