“Hoje temos boas marcas de hotelaria portuguesa”

Numa altura em que o Turismo “dá cartas” na economia do país, Ambitur lançou o desafio a Manuel Caldeira Cabral e o Ministro da Economia aceitou-o. O governante partilha a sua visão sobre a importância do Turismo a nível nacional, a sua vitalidade e o que está a ser feito para que continue a crescer, de forma sustentada.

Na área da promoção turística, é possível que esta se torne mais ampla no sentido de promover o país também para o investimento turístico, como aconteceu na recente Missão Empresarial à Índia?
Na reunião que eu próprio tive na Índia, e nas subsequentes da secretária de Estado do Turismo, houve encontros com investidores e alguns grupos indianos interessados em investir em Portugal. Tivemos já com este Governo um grande investimento de um grupo tailandês nos Hotéis Tivoli, dos maiores investimentos de sempre no turismo nacional. Atrair grandes grupos internacionais para investir em Portugal é importante e pode ser interessante, não para substituir os grupos portugueses, mas como complementaridade. Interessam-nos principalmente grupos que tragam consigo os seus próprios clientes, que abram novos mercados. Hoje temos boas marcas de hotelaria portuguesa, mas a presença de alguns grupos internacionais pode ser interessante para criar uma primeira visita.

Espera-se que a partir deste ano, o investimento do setor, estrangeiro e nacional, possa acelerar ainda mais…
Se queremos ter um crescimento sustentável tem que haver também uma retoma importante do investimento no turismo. Isso está a acontecer. Da nossa parte, mobilizámos o programa Portugal 2020. Temos 466 projetos aprovados no Portugal 2020, com um investimento superior a 300 milhões de euros. Estamos a falar de projetos em novos hotéis, mas também alguns projetos de requalificação.

O Programa Capitalizar, cujas linhas foram lançadas em fevereiro, também já tem 36 operações aprovadas na área do turismo.
Quanto às linhas de apoio à qualificação da oferta do Turismo de Portugal, lançadas há quase um ano, têm 77 projetos aprovados e já em construção, num valor de 143 milhões de euros de investimento. Posso avançar aqui, tendo em conta que estas linhas estão esgotadas em menos de um ano, que vamos abrir uma nova linha com 75 milhões de euros. Este é um reforço maior do que fizemos há um ano atrás, porque de facto houve uma grande adesão.

Este conjunto de investimentos demonstra bem que há um forte interesse em investir. O crescimento do turismo só é possível se houver uma permanente melhoria e renovação da oferta, e esta visão que temos de um turismo mais qualificado requer esse investimento.

O que está a ser feito a nível da formação?
A formação é outra área essencial para a sustentabilidade do turismo nacional. As escolas do Turismo de Portugal têm aqui um papel muito importante. Estamos a reforçar essas escolas e aumentar o número de alunos que lá entram. Estamos também a fazer investimentos como reativar ou ativar hotéis de aplicação nessas escolas. Nos próximos dois meses vai abrir um Hotel Aplicação na Escola de Hotelaria de Setúbal.

Ao nível da formação fizemos uma campanha interessante de angariação de talento para o turismo, salientando que este é um setor com futuro e com uma oferta e estilo de vida interessante para quem adira.

Por outro lado, estamos a rever os currículos das Escolas de Hotelaria, atualizando-os e diferenciando-os. Queremos trazer mais criatividade e inovação a todas as escolas, e que possam ter uma oferta específica diferenciada. A revisão dos currículos foi muito feita com o envolvimento do setor, dos hoteleiros. Insistimos muito em reforçar as competências digitais, em particular o Marketing Digital. Em reforçar também as línguas. Estamos a apostar na internacionalização, reforçando os acordos internacionais para que venham mais alunos estrangeiros. Estamos também a apostar muito nas soft skills.

Ao nível das Escolas de Turismo estamos a abri-las ao setor e a toda a gente. Os Open Kitchen Labs são uma forma de dizer que quem queira experimentar coisas novas no turismo, tem nas Escolas de Turismo uma porta aberta. Temos já uma plataforma em que as pessoas se podem inscrever para utilizarem esses equipamentos. Isto é importante porque temos de estimular mais inovação no nosso turismo e temos que estimular mais inovação a um nível mais elevado.

Em 2016, abriu um grande número de empresas de animação turística: se em 2015 abriram 660 novas empresas, o ano passado abriram 1500. Há muitas pessoas a querer inovar e trazer criatividade.

O que se pretende então com o Centro de Inovação para o Turismo?
O Centro de Inovação no Turismo é muito importante, porque tem que haver um meio que permita reforçar os projetos de inovação e, ao nível de algumas competências tecnológicas que os empresários possam não ter individualmente mas que, trabalhando em conjunto, lhes permita ganhar novas competências.

Estamos a estimular as empresas na área das startups, informática… O que queremos é que estas ofertas diferenciadas surjam cada mais, mas também cada vez mais estruturadas.

Por exemplo, o projeto “Portugal destino Wi-Fi”, que prevê colocar Wi-Fi gratuito nos centros históricos, cuja conclusão do concurso de Fundos Comunitários está para breve, é um projeto que tem interesse em si próprio, e também para o turismo. Ao termos estas plataformas, estamos a criar uma estrutura sobre a qual podem nascer ofertas inovadoras. Se todos os turistas que estiverem a visitar uma cidade tiverem Wi-Fi, sabemos que através dele podemos oferecer-lhes serviços. Esta plataforma pode ajudar a que muitas empresas inovadoras na área das startups do turismo tenham muito mais facilidade em encontrar os seus clientes.
Uma última questão é que este Wi-Fi vai permitir a ligação às redes sociais e a promoção do país no próprio momento, na primeira pessoa, que é a que mais eficácia tem. Estamos assim a receber uma promoção gratuita fantástica, para além de uma plataforma que permitirá oferecer mais serviços aos turistas e, quem sabe, desafiá-los a gastarem mais ou a ficarem no destino mais um dia na cidade. Estamos de facto a promover a inovação no turismo.

Esta é a 2ª Parte da Grande Entrevista publicada na Edição 299 da Ambitur.

Leia aqui a 1ª Parte e a 3ª Parte desta entrevista.