Publicamos aqui a 3ª parte do trabalho sobre o setor hoteleiro e a forma como as empresas deste setor se organizam. Antes falámos sobre o que distingue os melhores gestores hoteleiros e quais as características necessárias para fazer face aos desafios na gestão hoteleira. Ao longo deste trabalho, publicado na íntegra na edição 340 da Ambitur, falámos com hoteleiros e consultores, procurando saber a importância da gestão e da liderança para assegurar o futuro do Turismo e da Hotelaria do país. Além da paixão pela hotelaria, o ponto de partida para uma carreira neste setor, todos apontam a importância de saber gerir a mudança, de um bom equilíbrio entre as competências analíticas e o instinto de gestão direcionado, não só para as suas equipas, como para o cliente, ou de um espírito inovador e criativo como características chave para o sucesso.
Num cenário de incerteza, a Ambitur procurou perceber a estratégia dos gestores das empresas hoteleiras e como priorizam questões como o lucro e a qualidade do serviço/produto. António Trindade, CEO do PortoBay Hotels & Resorts, começa por dizer que um dos principais objetivos do grupo que lidera é superar expectativas, pelo que a “afirmação de qualidade dos produtos” é o “elemento fundamental para termos melhores resultados financeiros”. O empresário explica que a procura de resultados financeiros, sem qualidade do produto como suporte, “é sempre muito arriscado” pois “passamos a estar dependentes de ambientes externos e do que a conjuntura pode determinar”. Daí que “consolidar determinados objetivos e superar as expectativas leva-nos a trabalhar de base e a ter a preocupação pela maior informação possível do cliente que nos procura”.
Na Vila Baleira Hotels & Resorts, o pilar estratégico é a proximidade ao mercado, estar atento à opinião e necessidades do cliente, transformando-as em oportunidade para “nos diferenciarmos da concorrência e anteciparmos tendências, resume Gonçalo Teixeira. O administrador indica que o objetivo é que “as metas a longo prazo sejam o nosso guião estratégico”, sendo que as de curto prazo são “as linhas gerais que nos agitam o dia-a-dia e que, portanto, nos ajudam a manter o foco e sustentam a nossa motivação”. E é com base nesta visão que o grupo está a terminar o orçamento do próximo ano: “Se, por um lado, temos a indefinição, por outro, temos a ambição de fazer sempre mais e melhor”, explica. Para tal, tem já planeados investimentos nos hotéis e projetos para valorizar o principal ativo da empresa, os recursos humanos.
Reconhecendo que é difícil ter uma visão clara do que será 2023, o administrador da Vila Galé, Gonçalo Rebelo de Almeida, diz estar já a trabalhar com cenários que preveem uma ligeira queda nas taxas de ocupação face a 2022, antecipando alguma retração na procura. Mas o objetivo é “manter o caminho que traçámos, e que não difere muito do que temos seguido até aqui”, avança o responsável: continuar a apostar na captação e retenção de talento e a oferecer carreias atrativas e bem remuneradas, oportunidades de progressão e planos de benefícios mais completos. Para manter é também o investimento na atualização das infraestruturas, através do já habitual plano de renovação e melhorias nos hotéis. E seguir o mesmo ritmo de crescimento de novas unidades, sobretudo no interior do país, em projetos de recuperação de património e edifícios históricos. Para abrir em 2023, o grupo hoteleiro tem o Vila Galé Collection Tomar, o Vila Galé Collection São Miguel, e o Vila Galé Nep Kids e o Vila Galé Monte do Vilar, ambos em Beja.
Gonçalo Rebelo de Almeida admite que resultados financeiros positivos são sempre um objetivo e condição necessária para que uma empresa continue a crescer, possa suportar novos investimentos e gerar novas oportunidades de emprego. “Mas continuamos a acreditar que, para os atingir de forma duradoura e sustentável, deveremos trabalhar de forma transparente, mantendo padrões de qualidade elevados, melhorando as condições de vida das nossas equipas, garantindo investimentos em novos produtos e serviço ou desenvolvendo uma hotelaria mais inclusiva e mais sustentável do ponto de vista ambiental e social”, acrescenta. O que implica, sublinha, “ter de sacrificar o lucro de curto prazo em muitas opções, mas será a garantia necessária para a construção de uma empresa cada vez mais forte e sólida a longo prazo”.
Na DHM, “o maior lucro é consequência direta da maior qualidade possível”. É Luís Mexia Alves, o CEO, quem o afirma, frisando que “o nosso principal foco está em elevar e uniformizar os padrões de serviço, aumentar a satisfação dos clientes para continuarmos a ser um grupo de hotelaria de referência nas regiões onde estamos”. O CEO esclarece que a qualidade oferecida aos clientes permite que a empresa de diferencie da concorrência e aumente a elasticidade dos preços. E está otimista, mas realista, quanto ao futuro, com diferentes velocidades. O que corresponde a um crescimento mais agressivo nos Octant Hotels, que estão em fase de consolidação, e mais moderado no segmento de resorts e city hotels. “Queremos continuar a crescer com uma postura orçamental de elevada flexibilidade, assente em planos de contingência pré-definidos e com ativação imediata, caso se confirme um cenário de contração económica”, sublinha o gestor.
Já na Amazing Evolution, a estratégia continuará a focar-se na promoção de conceitos autênticos, procurando os segmentos que valorizam este tipo de experiências. Rita Pereira, Head of Strategy and Business Development, lembra que a ambição continua a ser a criação de valor para o proprietário, mesmo em períodos mais incertos, e para tal a empresa vai repensando sempre a sua estrutura e organização para encontrar os equilíbrios adequados a cada situação, garantindo uma eficiente gestão e recursos.
A responsável não tem dúvidas de que, “é um nível exímio de serviço que tem a capacidade para diferenciar a experiência proporcionada ao hóspede”, mas garante que “também somos sempre muito perseverantes naquilo que é a necessidade de assertividade na gestão, de forma a obter resultados sustentáveis”. Rita Pereira defende que ” é impossível dissociar qualidade de retorno”, e é sempre com o foco da garantia de retorno do investimento aos proprietários das unidades que a empresa gere, que a Amazing alinha interesses e expectativas das várias equipas.
No Vila Vita Parc, “a estratégia passa por uma equipa de ação a nível de gestão muito coesa e unida, com uma estratégia comum que assenta na comunicação entre equipas, avaliação de resultados constante, colocando todos os elementos da equipa sempre no centro da operacionalização da estratégia”. Isso mesmo explica o diretor de Recursos Humanos, Jorge Macedo, que assegura que o foco é “delinear conceitos e serviços exclusivos de alta qualidade que, embora temperados com a variável custo, se apresentam muito ambiciosos no que toca aos mais altos standards de serviço de bem-receber e criação de experiência”.
Por Inês Gromicho