A Ambitur.pt tem estado ao lado do setor da Hotelaria em Portugal, seguindo tendências, anunciando novidades, acompanhando mudanças. Hoje trazemos-lhe mais uma rubrica, desta feita procurando a visão das mulheres que escolheram o mundo dos hotéis para o seu percurso profissional. Como é ser mulher nesta indústria? É o que procuramos saber com “Hotelaria no Feminino”. Falamos agora com Elsa Rodrigues, diretora comercial da PHC Hotels, que defende que o olhar feminino traz mais-valias ao setor hoteleiro por ser mais detalhista e sensível, elevando assim o refinamento dos serviços.
É difícil ser mulher na hotelaria em Portugal nos dias de hoje? Observa alguma evolução desde o seu primeiro emprego no setor?
Aquilo que observo é que as mulheres têm progressivamente alcançado um posicionamento mais vincado no que diz respeito a cargos de liderança, o que pode ser considerada uma evolução significativa face à realidade de há algumas décadas e isso é muito positivo. Numa sociedade como a nossa, com raízes culturais marcadamente patriarcais – mas que, felizmente, encontra-se em processo de transformação e consciencialização quanto às suas ideias pré-concebidas e arreigadas sobre os géneros – gostaria de pensar que cada vez mais as mulheres abraçarão os desafios da liderança de forma natural e orgânica até chegarmos ao momento em que isso seja tão ou mais frequente que no universo masculino.
Quando começou a trabalhar no setor hoteleiro e onde?
No saudoso antigo Hotel São João, na Ilha da Madeira, como Rececionista, há mais de 30 anos.
O que a motivou a trabalhar na hotelaria?
O meu gosto pelo serviço transformou-se rapidamente numa verdadeira paixão pela hotelaria, em especial, pela área de vendas – um fascínio que me acompanha até hoje. Na adolescência, acreditei que o jornalismo seria o meu caminho, mas o primeiro contacto com os hóspedes e a minha curiosidade inata levaram-me a mergulhar nos bastidores das operações hoteleiras. Queria perceber cada detalhe do ‘behind the scenes’, no fundo, da arte da hospitalidade, desvendar os segredos e a mestria que garantem uma experiência extraordinária ao cliente desde o primeiro momento. Quando satisfiz essa curiosidade, um novo encanto nasceu: o mundo das vendas. Fascinava-me compreender os processos comerciais que fazem uma unidade hoteleira prosperar, e, no instante em que fechei a minha primeira venda, soube, com absoluta certeza, que era isto que queria fazer para o resto da minha vida – ou, pelo menos, durante muito tempo.
Qual a sua função no /grupo hoteleiro em que trabalha? Desde quando ocupa esse cargo? E como é o seu dia a dia?
Tenho muito orgulho em desempenhar a função de Diretora Comercial da PHC Hotels desde 11 de julho de 2022. Sou responsável pela supervisão da gestão comercial das nossas quatro unidades: o icónico Hotel Mundial, o charmoso Portugal Boutique Hotel, o exclusivo Convent Square Lisbon Hotel, Vignette Collection – sob a chancela da IHG –, e o boémio My Suite Lisbon Hotel. A Portuguese Hospitality Collection conta com mais de 500 quartos, todos localizados no coração da cidade, além de espaços de F&B de grande renome como o Restaurante Varanda de Lisboa e o famoso Rooftop do Hotel Mundial, bem como o Restaurante e Bar Capítulo, do Convent Square Hotel.
Alguma vez sentiu, ao longo da sua carreira, mais dificuldade em aceder a determinado cargo/função por ser mulher? Considera que ser mulher é um fator que dificulta o crescimento profissional?
Não, nunca senti que o facto de ser mulher tenha sido um obstáculo para alcançar qualquer cargo ou função. Felizmente, sempre trabalhei em empresas, onde o género não era um critério ou preferência para a progressão profissional. Acredito que essas organizações sempre priorizaram as competências técnicas e as características individuais de cada candidato – independentemente do género – visando um desempenho de excelência. Da mesma forma, no meu caso pessoal, nunca senti que o facto de ser mulher tenha dificultado o meu crescimento profissional.
Na sua opinião, há um equilíbrio ou desequilíbrio no número de mulheres versus homens que trabalham no setor? De que forma isso se verifica nos cargos exercidos, nos salários oferecidos? E porque razão considera que é assim?
Acredito que ainda existe algum desequilíbrio, continua a haver mais homens em posições de liderança do que mulheres. No entanto, essa diferença tem vindo a diminuir gradualmente e o número de mulheres em cargos de chefia e liderança tem vindo a crescer gradualmente. Vejo essa evolução como uma tendência do mercado de trabalho em geral, não apenas da hotelaria – as mulheres estão a conquistar, de forma progressiva e segura, o seu merecido espaço no ecossistema corporativo.
No seu grupo hoteleiro quem está em maioria – mulheres ou homens? E na equipa onde trabalha?
Na PHC Hotels, promovemos um equilíbrio saudável entre géneros, refletido de forma transversal em todas as equipas. Na minha equipa, a maioria dos colaboradores são mulheres, enquanto na Direção Executiva dos nossos hotéis, mantemos uma distribuição equitativa, com igual representação de homens e mulheres.
No seu caso pessoal, gosta mais de trabalhar com equipas de mulheres, só de homens ou mistas?
A minha preferência é trabalhar com equipas mistas, uma vez que, geralmente, oferecem uma maior diversidade de perspetivas em diferentes contextos e situações, além de proporcionarem um ótimo equilíbrio e complementaridade. Nas minhas experiências mais recentes, trabalhei com equipas predominantemente femininas e, em certa ocasião, liderei uma equipa composta exclusivamente por mulheres – não por escolha, mas porque simplesmente era essa a configuração existente.
É fácil conjugar a sua vida pessoal/familiar com a vida profissional? Sente uma maior pressão em atingir este equilíbrio pelo facto de ser mulher?
Conciliar a vida familiar com a profissional tem-se tornado progressivamente mais fácil. No passado, enfrentei momentos mais desafiantes, especialmente devido às frequentes viagens de trabalho e aos horários extensos característicos da hotelaria. Essas ausências dificultavam o equilíbrio. Hoje, busco ativamente essa harmonia, pois entendo que ela é essencial para o bem-estar pessoal, refletindo-se diretamente em maior produtividade e foco na vida profissional.
O que pensa que a visão feminina pode trazer de diferenciador e de positivo ao setor hoteleiro?
O olhar feminino é, naturalmente, mais detalhista e sensível, pelo que agrega valor ao setor hoteleiro ao elevar o refinamento dos serviços e a eficiência da gestão diária das unidades. A comunicação empática e a inteligência emocional das mulheres contribuem para um ambiente organizacional mais harmonioso, refletindo-se diretamente na qualidade do atendimento ao cliente. Além disso, a combinação entre pensamento analítico e sensibilidade emocional conduz tomadas de decisão mais equilibradas e estratégicas. As mulheres gerem frequentemente múltiplas tarefas em simultâneo, trazendo alta eficácia e dinamismo para a produtividade.
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