A Ambitur.pt tem estado ao lado do setor da Hotelaria em Portugal, seguindo tendências, anunciando novidades, acompanhando mudanças. Hoje trazemos-lhe mais uma rubrica, desta feita procurando a visão das mulheres que escolheram o mundo dos hotéis para o seu percurso profissional. Como é ser mulher nesta indústria? É o que procuramos saber com “Hotelaria no Feminino”. Esta semana a conversa é com Maria da Paz Garcia, Operations General Manager no Pestana Hotel Group. A profissional não duvida que as mulheres tem algumas características que acabam por funcionar como mais-valias: maior tolerância na gestão de conflitos, bom senso comum, maior planificação e foco na gestão de custos.
É difícil ser mulher na hotelaria em Portugal nos dias de hoje? Observa alguma evolução desde o seu primeiro emprego no setor?
Não considero difícil ser mulher na hotelaria em Portugal. Desenvolver uma carreira hoteleira não está diretamente ligada ao sexo masculino, e creio que ao longo dos últimos anos o aparecimento de mulheres em cargos de gestão tem vindo a aumentar consideravelmente e a comprovar que são igualmente capazes.
Quando começou a trabalhar no setor hoteleiro e onde?
Iniciei a minha carreira em Lisboa, na abertura do Holiday Inn Crowne Plaza em 1991. Seis meses depois voltei à Madeira onde trabalhei no Reid’s Belmont, na abertura do Monumental Lido e finalmente no Grupo Pestana onde permaneço até hoje.
O que a motivou a trabalhar na hotelaria?
A hotelaria desde sempre teve um papel importante na RAM e consequentemente na vida dos Madeirenses. A minha escolha recai nesta área essencialmente pelo facto de envolver um contacto direto com pessoas, culturas e ideologias completamente diferentes. Nenhum dia é igual ao outro, e essa dinâmica sempre me atraiu. A Hotelaria tem a vantagem de abranger uma serie de áreas distintas, que num só, representam um desafio diversificado e enriquecedor.
Qual a sua função no grupo hoteleiro em que trabalha? Desde quando ocupa esse cargo? E como é o seu dia a dia?
Sou diretora hoteleira desde 2006 no Grupo Pestana, onde desenvolvi o meu percurso profissional ao longo dos últimos 31 anos, e onde sempre encontrei as oportunidades e os desafios que me motivavam a crescer. O meu dia é idêntico a todos aqueles que desempenham estas funções, e são passados entre os trabalhos que me obrigam a permanecer no escritório e o tempo que exige a minha presença na operação.
Alguma vez sentiu, ao longo da sua carreira, mais dificuldade em aceder a determinado cargo/função por ser mulher? Considera que ser mulher é um fator que dificulta o crescimento profissional?
De todo. Não poderei opinar se na verdade esse poderá ser um obstáculo que uma mulher possa sentir no mundo da hotelaria. Garanto sim, que no Grupo Pestana isso nunca foi questão. Ao longo da minha carreira senti-me sempre acarinhada pela empresa e por todos os colegas que comigo trabalharam ao longo destes anos.
Na sua opinião, há um equilíbrio ou desequilíbrio no número de mulheres versus homens que trabalham no setor? De que forma isso se verifica – nos cargos exercidos, nos salários oferecidos? E porque razão considera que é assim?
Não sinto que exista desequilíbrio ou diferenciação por género. Julgo que cada vez mais as mulheres têm demonstrado capacidade para desempenhar qualquer cargo independentemente dos setores, e isso reflete-se na empresa em que trabalho.
No seu grupo hoteleiro quem está em maioria – mulheres ou homens? E na equipa onde trabalha?
As nossas equipas são completamente mistas, e por conseguinte não sentimos esse tipo de distinção ou desequilíbrio.
No seu caso pessoal, gosta mais de trabalhar com equipas de mulheres, só de homens ou mistas?
Pessoalmente gosto imenso de trabalhar com equipas mistas. Acho que se consegue um equilíbrio interessante quando assim é. As mulheres tendem a ser mais sensíveis, os homens mais racionais, e o equilíbrio entre essas duas forças dão origem a equipas mais coesas.
É fácil conjugar a sua vida pessoal/familiar com a vida profissional? Sente uma maior pressão em atingir este equilíbrio pelo facto de ser mulher?
Tem os seus desafios, é inegável, mas julgo que tudo é uma questão de mindset, organização e muita cumplicidade familiar. Caso contrário, torna-se realmente muito difícil para qualquer mulher almejar cargos que envolvam uma disponibilidade como aquela que é exigida na industria hoteleira.
O que pensa que a visão feminina pode trazer de diferenciador e de positivo ao setor hoteleiro?
As mulheres de uma forma geral têm uma predisposição para dois papéis que as diferenciam à partida dos homens: ser uma boa gestora nas lides de casa e ter o papel de mãe. Esta educação não só induz a uma natural atenção aos detalhes, como a uma maior tolerância na gestão de conflitos, bom senso comum, maior planificação e foco na gestão de custos. Julgo que as mulheres conseguem trazer ao ambiente das unidades, um toque de sensibilidade feminina que é percetível aos mais atentos ao detalhe.
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