Hotelaria no Feminino com Marta Cunha, do Centro de Congressos do Algarve e Tivoli Marina Vilamoura

A Ambitur.pt tem estado ao lado do setor da Hotelaria em Portugal, seguindo tendências, anunciando novidades, acompanhando mudanças. Hoje trazemos-lhe mais uma rubrica, desta feita procurando a visão das mulheres que escolheram o mundo dos hotéis para o seu percurso profissional. Como é ser mulher nesta indústria? É o que procuramos saber com “Hotelaria no Feminino”. Hoje falamos com Marta Cunha, diretora de Vendas do Centro de Congressos do Algarve e responsável pelo departamento de Coordenação de Grupos e Eventos do Tivoli Marina Vilamoura Algarve Resort. A profissional acredita que desde que concluiu a sua formação, tem havido uma evolução no setor hoteleiro e um verdadeiro empoderamento feminino.

É difícil ser mulher na hotelaria em Portugal nos dias de hoje? Observa alguma evolução desde o seu primeiro emprego no setor?

Acredito que, desde que terminei o curso em 2003, a hotelaria em Portugal evoluiu significativamente, sobretudo no que diz respeito à qualidade do serviço prestado. Hoje em dia, o setor está mais atento às necessidades individuais dos clientes, com uma abordagem que valoriza a personalização, a atenção ao detalhe e a antecipação das necessidades, marcando um grande avanço.

Enquanto mulher, sinto que características como a empatia, a capacidade de organização e a atenção ao detalhe me ajudam a criar relações de confiança com os clientes. Estas qualidades, aliadas a uma abordagem mais personalizada, tornam possível proporcionar experiências em que o cliente se sente acompanhado e com segurança no serviço prestado.

Nos últimos anos, temos também assistido a um verdadeiro empoderamento feminino na hotelaria. As mulheres têm conseguido combinar a energia do cuidado e da organização, frequentemente associadas a este género, com a estratégia, a ação e a capacidade de decisão. Este equilíbrio explica porque hoje há cada vez mais mulheres em cargos de grande responsabilidade no setor, algo que não era tão evidente no início do meu percurso.

Pessoalmente, sempre acreditei que as características que possuo são valorizadas na hotelaria, independente do meu género, e talvez essa convicção tenha aberto portas ao longo do meu percurso. Além disso, o facto de ter direcionado a minha carreira para o segmento MICE, onde tradicionalmente existe uma maior representatividade feminina, também pode ter contribuído para uma integração mais natural e para que não tenha sentido que tive menos oportunidades.

Quando começou a trabalhar no setor hoteleiro e onde?

A minha primeira experiência em hotelaria foi em 2004, durante a abertura do Vila Sol SPA & Golf Resort, na altura um hotel de 5 estrelas e membro da Leading Hotels of the World. Foi uma experiência incrível, repleta de aprendizagens que foram muito valiosas para criar algumas bases importantes para o meu trabalho. Comecei com um estágio profissional no departamento comercial e, mais tarde, passei para o departamento de marketing, em ambos os departamentos trabalhei com excelentes profissionais que já tinham muita experiência na área.

No entanto, foi em 2008, no Hotel Quinta do Lago, que assumi a minha primeira experiência com mais responsabilidades. Foi lá que desempenhei a função de Duty Manager pela primeira vez, assumi a promoção do hotel tanto em Portugal como no estrangeiro, e coordenei grupos e eventos com autonomia.

Por ser, novamente, um hotel membro da Leading Hotels of the World, tive a oportunidade de trabalhar profundamente características pessoais como a atenção ao detalhe, o cuidado no contacto com o cliente e a excelência na prestação de serviço. Essa experiência consolidou o meu gosto pela hotelaria de luxo e mostrou-me o caminho que queria seguir a nível profissional.

O que a motivou a trabalhar na hotelaria?

Ao contrário de muitos dos meus amigos, quando chegou o momento de decidir qual curso superior a seguir, eu não tinha dúvidas. Desde cedo, identifiquei a minha paixão pela área comercial, marketing e organização de eventos, e a hotelaria sempre me fascinou.

No entanto, confesso que havia uma certa ambiguidade entre aquilo que mais queria fazer profissionalmente e a minha personalidade tímida e introvertida durante os tempos do ensino secundário. Apesar disso, essa paixão foi mais forte e motivou-me a sair da minha zona de conforto, acreditando que podia crescer e desenvolver-me no setor.

De fora, via a hotelaria como um “mundo cor-de-rosa”, onde tudo parecia perfeito. Hoje sei que nem sempre é assim, mas também sei que é um setor incrível, reservado àqueles que têm verdadeira paixão pelo que fazem. Para mim, o que me motivou foi a possibilidade de trabalhar na área comercial em hotéis, gerir grupos e eventos, e estar em contacto direto com os clientes – experiências que me desafiam constantemente, que me permitiram crescer enquanto pessoa e me fizeram sentir realizada.

Qual a sua função/cargo no hotel/grupo hoteleiro em que trabalha? Desde quando ocupa esse cargo? E como é o seu dia a dia?

Sou Diretora de Vendas do Centro de Congressos do Algarve e responsável pelo departamento de Coordenação de Grupos e Eventos do Tivoli Marina Vilamoura Algarve Resort desde Abril de 2024.

As minhas funções estão principalmente ligadas à área comercial, promoção e business development. No entanto, estando baseada num resort que recebe constantemente eventos de grande dimensão, também faço parte da gestão de todas as questões logísticas associadas a esses eventos. Hoje em dia, as exigências são cada vez mais desafiadoras, com funções e formatos inovadores que requerem uma logística minuciosa e uma gestão altamente atenta.

Os meus dias nunca são iguais nem monótonos, e o dinamismo da função envolve o contacto constante com diferentes departamentos do hotel, o que torna o trabalho ainda mais enriquecedor e estimulante.

Alguma vez sentiu, ao longo da sua carreira, mais dificuldade em aceder a determinado cargo/função por ser mulher? Considera que ser mulher é um fator que dificulta o crescimento profissional?

Ao longo do meu percurso, não senti que ser mulher fosse um obstáculo para aceder aos cargos ou funções que eu ambicionei. Mas uma vez mais deixo a ressalva de que a minha paixão estava numa área onde tradicionalmente existe uma maior representatividade feminina.

Conheço mulheres em posições de direção e chefia em praticamente todas as áreas da hotelaria, desde a direção geral, alojamentos, comercial, marketing, F&B , entretenimento, recursos humanos, SPA, purchasing, financeiro, qualidade, health and safety. A única exceção, pelo menos na minha experiência, é na área de manutenção, onde pessoalmente ainda não conheci mulheres em cargos de chefia ou direção.

Acredito firmemente que, com perseverança, dedicação e confiança nas nossas capacidades, é possível construir uma carreira sólida e gratificante na hotelaria, independentemente do género.

Na sua opinião, há um equilíbrio ou desequilíbrio no número de mulheres versus homens que trabalham no setor? De que forma isso se verifica – nos cargos exercidos, nos salários oferecidos? E porque razão considera que é assim?

No Tivoli Marina Vilamoura Algarve Resort e Centro de Congressos do Algarve, sinto que há igualdade de oportunidades.

Os cargos de chefia / direção estão equilibrados entre homens e mulheres, e, em 2024, fomos reconhecidos com o “Selo da Igualdade Salarial”, um reflexo claro do compromisso com a paridade e a valorização do talento, independentemente do género.

No seu hotel/grupo hoteleiro quem está em maioria – mulheres ou homens? E na equipa onde trabalha?

A Minor Hotels e o Tivoli Marina Vilamoura Algarve Resort valorizam muito os seus colaboradores e investem ativamente no crescimento profissional de todos, oferecendo formação e apoio para que cada pessoa encontre oportunidades de desenvolvimento dentro da companhia, independentemente do género.

Na minha experiência como responsável pela equipa de Grupos e Eventos do resort, observo que há uma predominância de mulheres nas funções de coordenação. Mesmo quando homens iniciam a carreira neste tipo de posição, é comum que direcionem o seu desenvolvimento profissional para a área de vendas, ainda que dentro do segmento MI.

Por consequência, é mais frequente que o desenvolvimento de carreira em funções de coordenação neste setor esteja associado ao género feminino – e a minha equipa reflete essa tendência.

No seu caso pessoal, gosta mais de trabalhar com equipas de mulheres, só de homens ou mistas?

Gosto de trabalhar com bons profissionais, talentosos, criativos, motivados pela excelência e crescimento pessoal e profissional. Não procuro trabalhar com géneros específicos mas com profissionais que têm características especificas.

É fácil conjugar a sua vida pessoal/familiar com a vida profissional? Sente uma maior pressão em atingir este equilíbrio pelo facto de ser mulher?

A conjugação da vida pessoal e profissional pode ser desafiadora, especialmente para quem trabalha na área comercial e precisa viajar regularmente, como é o meu caso.

No entanto, no meu caso específico, por não ser mãe, não enfrentei o desafio de equilibrar a maternidade com as exigências da profissão. No entanto, reconheço que para muitas mulheres que desempenham esse papel tão importante, a conciliação entre a família e uma carreira que exige frequentes deslocações deve ser particularmente exigente.

Embora não sinta uma pressão adicional por ser mulher, acredito que ainda existe uma expectativa social maior em relação às mulheres, o que pode tornar esse equilíbrio mais desafiador.

O que pensa que a visão feminina pode trazer de diferenciador e de positivo ao setor hoteleiro?

Acredito que o verdadeiro diferencial está na conjugação das competências que a diversidade traz. Independentemente do género, cada profissional tem talentos e valências únicas, e é essa diversidade que enriquece este e os outros setores.

O mercado está cada vez mais aberto à igualdade de oportunidades, permitindo que cada pessoa contribua com o seu potencial máximo, trabalhando naquilo que mais gosta e onde realmente pode fazer a diferença. Esta realidade é muito mais presente hoje do que quando iniciei a minha carreira, refletindo uma evolução positiva na forma como o setor valoriza o talento (acredito eu, sem distinções de maior).