A Ambitur.pt tem estado ao lado do setor da Hotelaria em Portugal, seguindo tendências, anunciando novidades, acompanhando mudanças. Hoje trazemos-lhe mais uma rubrica, desta feita procurando a visão das mulheres que escolheram o mundo dos hotéis para o seu percurso profissional. Como é ser mulher nesta indústria? É o que procuramos saber com “Hotelaria no Feminino”. E a conversa de hoje é com Susana Costa, Cluster General Manager da AHM – Ace Hospitality Management. A profissional acredita que, cada vez mais, as empresas têm uma preocupação em ter um equilíbrio saudável entre os dois géneros a nível de cargos de gestão, embora admita que ser mulher ainda é desafiante em determinadas funções, sobretudo na área de F&B.
É difícil ser mulher na hotelaria em Portugal nos dias de hoje? Observa alguma evolução desde o seu primeiro emprego no setor?
Nunca senti dificuldades, mas tive o grande privilégio de ser acompanhada desde o meu primeiro dia por duas mulheres incríveis – a Carla Sá Chaves, a minha primeira diretora e a Mariana Lacerda também minha diretora à posteriori e minha mentora profissional (ambas no Grupo Pestana) e que desde cedo me ensinaram que a ética no trabalho, o espirito de equipa e a empatia são a base para sermos bem sucedidas e que mesmo sendo mulher é possível alcançar os nossos objetivos profissionais e pessoais. Sem os seus exemplos não seria quem sou hoje.
Acredito contudo e apesar da evolução atual, que ainda seja desafiante em determinadas funções (principalmente na área de Food & Beverage) alcançar cargos de gestão uma vez que a predominância masculina ainda é muito visível.
Quando começou a trabalhar no setor hoteleiro e onde?
Comecei a trabalhar em 2000 no Pestana Vintage Porto Hotel como assistente de vendas. Tive o privilégio de fazer parte da equipa de pré abertura deste hotel o que me marcou até hoje como profissional.
O que a motivou a trabalhar na hotelaria?
Os meus pais foram proprietários de um café durante muitos anos e das memórias mais antigas que tenho (com cerca de 6 anos) é de o meu pai me colocar em cima de uma grade de cerveja a tirar cafés. A adrenalina do negócio e o bichinho do contato com o cliente começou aí e levou-me mais tarde a tirar o curso de turismo. Nunca quis ter outra profissão senão trabalhar em hotelaria, apesar de não ter seguido especificamente a área de Food and Beverage.
Qual a sua função no grupo hoteleiro em que trabalha? Desde quando ocupa esse cargo? E como é o seu dia a dia?
Iniciei as minhas funções na AHM em maio de 2021 como Diretora Geral no Fontinha Porto Hotel, um boutique hotel no centro do Porto. No inicio deste ano fui convidada a acumular funções como cluster general manager deste hotel e do mais recente Holiday inn express no Porto. O meu dia a dia começa com uma volta pelos departamentos para cumprimentar os colaboradores e verificar se tudo está a correr bem. Após o briefing da manhã, dedico-me a ver os relatórios financeiros e operacionais de cada unidade. Entre reuniões, dou seguimento a emails e acompanho as chefias no seu dia a dia apoiando no que necessário, sempre com o foco na experiência dos nossos hóspedes.
Alguma vez sentiu, ao longo da sua carreira, mais dificuldade em aceder a determinado cargo/função por ser mulher? Considera que ser mulher é um fator que dificulta o crescimento profissional?
Nunca senti. Trabalhei cerca de 15 anos no Grupo Pestana em diferentes áreas e sempre me foram dadas as mesmas oportunidades (de acordo obviamente com a minha prestação profissional e disponibilidade). Senti sempre que a minha evolução na carreira estava interrelacionada com o meu trabalho e o meu profissionalismo e que as portas se abririam naturalmente independentemente de ser mulher. Mas acredito que em determinadas áreas como a de Food & Beverage as mulheres acabem por sair desfavorecidas principalmente por questões familiares e por terem menos disponibilidade.
Na sua opinião, há um equilíbrio ou desequilíbrio no número de mulheres versus homens que trabalham no setor? De que forma isso se verifica – nos cargos exercidos, nos salários oferecidos? E porque razão considera que é assim?
Penso que cada vez mais a preocupação das empresas é ter um equilíbrio saudável entre os dois géneros, principalmente a nível de cargos de gestão. A nível salarial não tenho dados para formatar uma opinião, mas falando do meu caso pessoal nunca senti que ganhasse menos por ser mulher.
No seu grupo hoteleiro quem está em maioria – mulheres ou homens? E na equipa onde trabalha?
No meu grupo hoteleiro, a igualdade de género é uma prioridade, o que resulta num ambiente equilibrado e inclusivo. Na minha equipa de gestão sou a única mulher a ocupar o cargo de diretora
geral. Acredito que no setor ainda persiste uma preferência pela área de F&B como trajetória tradicional para a função de diretor geral.
No seu caso pessoal, gosta mais de trabalhar com equipas de mulheres, só de homens ou mistas?
Tenho preferência por equipes mistas, pois acredito que a diversidade de perspetivas e experiências enriquecem o trabalho em grupo, tornando-o mais dinâmico.
É fácil conjugar a sua vida pessoal/familiar com a vida profissional? Sente uma maior pressão em atingir este equilíbrio pelo facto de ser mulher?
Já foi mais difícil do que é agora. Quando trabalhava na área das vendas viajava bastante e na área do Front Office em que estamos muito dependentes das dinâmicas dos hóspedes era claramente mais difícil conciliar o melhor dos dois mundos.
Neste momento consigo ter um bom equilíbrio, sendo que no meu seio familiar está acordado que se tiver durante determinadas alturas (por exemplo a abertura de um hotel) de estar 200% focada na vida profissional assim o farei.
Sente uma maior pressão em atingir este equilíbrio pelo facto de ser mulher?
Há obviamente na sociedade uma maior pressão para que as mulheres obtenham este equilíbrio o que por vezes não é fácil e a vertente profissional acaba por ser prejudicada.
O que pensa que a visão feminina pode trazer de diferenciador e de positivo ao setor hoteleiro?
Na minha opinião a visão feminina em geral traz principalmente um sentido mais apurado ao detalhe. As mulheres, por sua natureza, tendem também a ser mais sensíveis às necessidades do outro, o que na minha experiência se reflete numa abordagem mais empática quer junto dos hóspedes quer dos
colaboradores. No entanto, o que realmente importa é que, cada vez mais, a contratação de
profissionais seja feita com base na sua experiência e atitude, e não no seu género.
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