A Ambitur.pt tem estado ao lado do setor da Hotelaria em Portugal, seguindo tendências, anunciando novidades, acompanhando mudanças. Hoje trazemos-lhe mais uma rubrica, desta feita procurando a visão das mulheres que escolheram o mundo dos hotéis para o seu percurso profissional. Como é ser mulher nesta indústria? É o que procuramos saber com “Hotelaria no Feminino”. Assim, conversamos hoje com Susana Tavares, CCO do Vila Foz Hotel & Spa. Para a profissional, as mulheres podem trazer dois pontos fundamentais para a Hotelaria: o foco no detalhe e a sensibilidade.
É difícil ser mulher na hotelaria em Portugal nos dias de hoje? Observa alguma evolução desde o seu primeiro emprego no setor?
Em nenhum momento do meu percurso profissional senti que tive mais ou menos oportunidades pelo facto de ser mulher. Diria, sim, que é desafiante trabalhar na hotelaria, pela exigência da própria atividade, principalmente quando pretendemos crescer e abraçar funções que nos proporcionam um aumento de responsabilidade, sendo um desafio transversal a qualquer um dos géneros.
Desde que iniciei este caminho, recuando a 1999, as oportunidades para o sexo feminino têm aumentado, acreditando que sim, por uma evolução do paradigma, mas também pelo facto da própria mulher, no contexto social ao longo das últimas décadas, ter feito todo um caminho para entrar no mercado de trabalho com igualdade de qualificações e habilitações profissionais que foram tendo a oportunidade de adquirir. Hoje em dia, em Portugal, não sinto discriminação nesta atividade.
Quando começou a trabalhar no setor hoteleiro e onde?
Terminei a minha formação profissional de Gestão Hoteleira, na Escola de Hotelaria e Turismo do Porto, em 1998, sendo que a minha primeira experiência profissional, após estágios, passou pela abertura do Vila Galé Porto, na área de Alojamento, inicialmente em Front Office e posteriormente para a gestão de Reservas de Grupos
O que a motivou a trabalhar na hotelaria?
Na altura, havia algum desconhecimento quanto a este curso e respetivas saídas profissionais, sendo que a oferta de formação era bastante reduzida. Era uma área que me despertava alguma curiosidade, tanto na vertente de Hotelaria como Turismo, com uma componente técnico-profissional e boas saídas para o mercado de trabalho, assim como o contacto e serviço ao cliente. A Hotelaria, em particular, pois via na hospitalidade e no saber receber uma autêntica arte! Ao que parece, acertei em cheio na escolha que fiz, pois hoje é uma verdadeira paixão!
Qual a sua função/cargo no hotel em que trabalha? Desde quando ocupa esse cargo? E como é o seu dia a dia?
Assumi o Departamento de Vendas, como CCO, do Vila Foz Hotel & Spa ainda antes da sua abertura, diria mesmo desde o seu projeto. É uma unidade de 5 estrelas, localizada numa das áreas mais emblemáticas da cidade do Porto –a Foz – bairro que conheço bem, onde estudei e frequentei desde criança. Um Hotel de gestão independente, gerida pela própria família, com quem já colaboro, e com enorme entusiasmo e orgulho, desde há 15 anos.
Também na área comercial, um dia não é igual ao outro, ocupo-me da contratação e da distribuição, assim como o relacionamento com os nossos parceiros e participação nos vários travel shows espalhados pelo mundo, o que obriga a uma gestão das nossas rotinas e planeamento estratégico com as frequentes deslocações. O meu dia-a-dia é constantemente adaptado.
Alguma vez sentiu, ao longo da sua carreira, mais dificuldade em aceder a determinado cargo/função por ser mulher? Considera que ser mulher é um fator que dificulta o crescimento profissional?
Pessoalmente, nunca senti. A nível pessoal, sou mãe, tenho toda uma rotina familiar e atividades às quais gosto de dedicar o meu tempo. E, coincidentemente, as minhas oportunidades profissionais surgiram com mudanças significativas a nível familiar. E sempre foi possível conciliar. Sinto, no entanto, que as mulheres ainda tendem a avaliar variadíssimos fatores de diversas naturezas antes de abraçar uma nova função/cargo, em comparação com os homens. A própria sociedade, apesar da evolução que fomos sentindo na igualdade entre homens e mulheres, ainda coloca uma grande responsabilidade da vida familiar na mulher. No entanto, na sua generalidade e pelo que observo, os cargos e as oportunidades estão disponíveis a ambos os sexos. Até porque, acredito, que temos um bom equilíbrio de qualificações entre homens e mulheres.
Na sua opinião, há um equilíbrio ou desequilíbrio no número de mulheres versus homens que trabalham no setor? De que forma isso se verifica – nos cargos exercidos, nos salários oferecidos? E porque razão considera que é assim?
Uma grande fatia da mão-de-obra setor, na hotelaria, corresponde às mulheres, pois falamos de áreas como o Housekeeping e F&B onde ainda prevalece a força de trabalho feminina. Enquanto que nos cargos de gestão ainda prevalecem os homens. Mais uma vez, vários fatores sociais estão aqui presentes. Nos salários, considerando a mesma função/cargo exercidos, tenho ideia de que os valores andam bastante similares.
No seu hotel/grupo hoteleiro quem está em maioria – mulheres ou homens? E na equipa onde trabalha?
Tende a estar equilibrado. Na minha, mulheres.
No seu caso pessoal, gosta mais de trabalhar com equipas de mulheres, só de homens ou mistas?
Gosto de trabalhar com profissionais, com brio profissional e boa disposição.
É fácil conjugar a sua vida pessoal/familiar com a vida profissional? Sente uma maior pressão em atingir este equilíbrio pelo facto de ser mulher?
Não é fácil, nem para mim, nem para qualquer ser humano, hoje em dia. Principalmente com horários de trabalho flexíveis, como na hotelaria, mas não só. Mas, no meu caso específico, não por ser mulher. Somente porque a vida profissional está cada vez mais exigente. Por isso é que é essencial trabalharmos naquilo que realmente gostamos, no que nos move, para conseguirmos agilizar na parte pessoal com harmonia. E termos a noção que somos humanos e que somos importantes para os dois mundos.
O que pensa que a visão feminina pode trazer de diferenciador e de positivo ao setor hoteleiro?
Bem, não posso deixar de enaltecer as mulheres quanto ao foco no detalhe e alguma sensibilidade! Dois pontos tão importantes para a Hotelaria.