Hotelaria portuguesa vai passar a medir critérios ESG e estabelecer metas de sustentabilidade

A falta de informação, conhecimento e consciência por parte dos líderes e CEOs serviu de mote para especialistas alertarem para a importância das organizações agirem rapidamente em prol da sustentabilidade, até porque as exigências vão apertar e a preparação de cada uma será algo obrigatório para garantirem um futuro próspero.

Foi em torno do “Financiamento verde, climático e sustentável” que Sofia Santos, fundadora da Systemic, lançou várias questões a um painel composto por João Meneses, secretário-geral do BCSD Portugal, Inês Costa, especialista em ESG na Deloitte, Filipa Saldanha, diretora de Sustentabilidade do Crédito Agrícola, Pedro Teixeira, diretor de Sustentabilidade do NEYA Hotels, sobre esta urgência das empresas acelerarem no caminho da sustentabilidade e como se encontra o setor do turismo neste tema.

João Meneses

A somar à importância das organizações estarem preparadas para as exigências, como um pipeline regulatório muito ambicioso em que as empresas deixarão de reportar nos relatórios de sustentabilidade, mas antes no relatório de contas, João Menezes chama ainda a atenção para a necessidade de se “aprofundar as métricas, medir e de reportar com credibilidade”, sendo essencial “tecnologias de informação ágeis”, possibilitando “processos mais automatizados” para ajudar nesta transição: “Toda a indústria 4.0 pode ajudar”.

Dando continuidade à Carta de Princípio de Gestão ESG, que se focava em aspetos para os quais as empresas deveriam ser sensíveis do ponto de vista social, ambiental e ético, a BCSD Portugal começou por converter esses princípios de gestão em “objetivos, metas e indicadores para década muito concretos”, dando origem ao “lançamento de uma ferramenta de uso gratuito, para que as empresas possam medir o seu grau de maturidade das suas cadeias de valor (ESG) e possam começar a estabelecer objetivos e metas: “Esta ferramenta vai ser objeto de um protocolo com a AHP – Associação da Hotelaria de Portugal, que entendeu que as empresas turísticas precisam de maior facilidade de acesso para iniciar a jornada para a sustentabilidade: pretendemos assim uma transição mais suave e o uso gratuito vai ajudar no processo”, afirma.

“Um dos desafios deste setor é precisamente a falta de meios e de comunicação no setor”

No que diz respeito às exigências dos consumidores, um estudo publicado em janeiro de 2022 sobre tendências que se observam na área do turismo demonstra que “70% dos inquiridos procura saber mais sobre o destino, hotel e companhia de transporte”, havendo uma “procura automática sobre aquilo que se faz em matéria de economia circular, ações no terreno ou ações que estão a impactar os cidadãos”, nota Inês Costa, especialista em ESG na Deloitte.

Inês Costa

A este nível, a antiga secretária de Estado do Ambiente refere que já há também um movimento internacional de grandes empresas que criaram uma plataforma que só se foca na inovação ambiental e social aplicada ao turismo: “Não faria sentido haver uma plataforma destas em âmbito nacional?”, considera, desafiando “as microempresas que estão na vanguarda” a “estarem em conjunto e criarem elas próprias uma aplicação, não estando dependentes do input que os órgãos possam trazer para o tema, mas serem elas motores de atividades e trazerem esta inovação para o terreno, destacando-se por esta via”. Para Inês Costa, se o objetivo é tornar Portugal um destino sustentável, faz sentido avançar nesta direção: “Aliás, um dos desafios deste setor é precisamente a falta de meios e de comunicação no setor”, remata.

A “Smart and Green Tourism II” decorreu no passado dia 3 de março e foi organizada pela Ambitur, em conjunto com a Ambiente Magazine, no âmbito da BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa.

Por: Cristiana Macedo, na BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa 

 📸 ©Raquel Wise