Reportagem: Hubs aéreos – motores de competitividade de um destino

Falar da realidade das cidades de Lisboa e do Porto como hubs turísticos, capazes de atrair e distribuir
fluxos turísticos, não ficaria completo se não abordássemos a questão do transporte aéreo. Até porque o
desenvolvimento turístico de um destino, sobretudo de Portugal com a sua localização geográfica, está
intimamente dependente das ligações aéreas.

Cristina Siza Vieira

Sendo os aeroportos destas duas cidades a principal porta de entrada no país, Cristina Siza Vieira, presidente executiva da AHP, demonstra a sua preocupação com alguns constrangimentos já conhecidos na capital, onde se aguarda pela concretização da opção Montijo bem como o reajuste do atual aeroporto de Lisboa. Uma preocupação compartilhada por Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, que garante ser este o grande problema de Lisboa, neste momento. A representante da AHP propôs já ao Governo que se criem “incentivos para incrementar as ligações aéreas em outros aeroportos para melhor distribuição de fluxos turísticos em todo o país”.

Pedro Costa Ferreira

No caso do Porto, a associação também chama a atenção para a capacidade do aeroporto Francisco Sá Carneiro para o qual “já há muito” propunha também a sua otimização, “absorvendo parte dos voos de longo curso, com vantagens, aliás, para o próprio destino Porto e Norte”. Cristina Siza Vieira afirma estar pois satisfeita com o reforço das rotas diretas da TAP do Porto para o Brasil, EUA e Europa. Para o presidente da APAVT, na Invicta o desafio, mais do que relacionado com espaço no aeroporto, passará “por diversificar as rotas aéreas, permitindo o contacto direto de mais mercados emissores”.

Novas rotas de Lisboa e Porto com a TAP
Ao que fonte oficial da TAP responde que este reforço de rotas não acontecerá apenas na Invicta, onde a companhia irá inaugurar as rotas de Bruxelas, Lyon e Munique, além de reforçar as frequências para São Paulo e Nova Iorque/Newark, que passam a estar disponíveis três e seis vezes por semana, respetivamente. Também a partir da capital será possível viajar, a partir de 2019, para Telavive, Basileia, Dublin, Washington, Chicago, São Francisco, Tenerife e Nápoles.

“O nosso objetivo é dar a conhecer a companhia e impulsionar os nossos destinos nacionais, não só Lisboa e Porto, trazendo cada vez mais estrangeiros a Portugal”, refere a mesma fonte, que adianta que a localização privilegiada de Portugal permite à TAP ser uma plataforma para a grande maioria das cidades europeias, funcionando como portal para as Américas e potenciando o desenvolvimento da economia nacional.

“Acreditamos que o país tem de ser conhecido por todos, por isso – e aproveitando o facto de a companhia
servir como Gateway Atlântico – criámos o programa Portugal Stopover com as ofertas e experiências exclusivas”, subinha a fonte oficial da TAP. Querendo ser mais do que apenas uma transportadora, a
companhia nacional de bandeira afirma querer contribuir para uma experiência do cliente, que começa desde logo com o serviço a bordo e o modo como Portugal é apresentado nos aviões.

Ryanair: aeroportos portugueses já são hubs europeus

Andreia Cunha

A Ryanair, por sua vez, garante já ter convertido os aeroportos portugueses, nomeadamente o Porto, a sua principal base em Portugal, em hubs a nível europeu, alegando poder “fazer muito mais caso as taxas aeroportuárias fossem mais competitivas”, frisa Andreia Cunha, Sales & Marketing manager da companhia. A low-cost sublinha o seu papel na conectividade, tendo já aumentado em Portugal o seu tráfego de um milhão de passageiros transportados em 2008 para 11 milhões este ano, num total de mais de 130 rotas diretas.

Andreia Cunha realça o facto de, contrariamente à TAP, a Ryanair ter desenvolvido a sua estratégia oferecendo
rotas internacionais diretas (53 no Porto, 26 em Lisboa, 37 em Faro e três em Ponta Delgada). “Verificamos que a Ryanair já está a desempenhar um papel determinante no desenvolvimento do turismo português”, conclui a responsável.

No caso do Aeroporto Humberto Delgado, Andreia Cunha não nega que os conhecidos constrangimentos são “uma ameaça ao desenvolvimento de tráfego, não só na capital portuguesa, mas em toda a região servida por este aeroporto. E dá o exemplo do aeroporto de Londres Gatwick que, com apenas uma pista, tem uma capacidade declarada 40% superior aos 40 movimentos por hora do aeroporto de Lisboa. “Se conseguíssemos atingir esta capacidade de 55 movimentos por hora no Humberto Delgado durante apenas quatro horas por dia, poderíamos aumentar a capacidade do aeroporto em 2,5 milhões de passageiros por ano (assumindo um índice de ocupação médio de 80% em aviões com 161 lugares, a média do aeroporto em 2017, a Ryanair poderia transportar ainda mais passageiros devido aos seus elevados índices de ocupação e aeronaves com maior capacidade)”, sublinha.

Razão pela qual a low-cost tem vindo a apelar às autoridades portuguesas para que solucionem rapidamente a situação, tanto através da abertura célere do aeroporto do Montijo como de melhorias nas infraestruturas e controlo de tráfego aéreo no atual aeroporto Humberto Delgado, que permitiriam um aumento imediato de
tráfego.

Nuno Barjona, Head of Marketing and New Mobility da Europcar Portugal

As duas principais cidades portuguesas têm vindo a evoluir muito positivamente na respetiva oferta turística, mas existem públicos chave que podem elevar a fasquia para que sejam os destinos preferidos por um tipo de turista. Os golfistas, por exemplo, deslocam-se a Portugal durante todo o ano e são usualmente turistas com um elevado poder de compra e que procuram hotelaria de qualidade. O público empresarial cuja vinda está muito relacionada com uma questão, que também tem vindo a ser trabalhada, que é trazer eventos de impacto mundial para Portugal, tal qual como fizemos com European Song Contest, mas também com a Web Summit, por exemplo. Lisboa tem potencial para atrair mais eventos, pela capacidade que os portugueses demonstram a organização, mas também pela situação natural, pelo clima, pela segurança e todos os atributos que são conhecidos.

Naquilo que à Europcar Portugal diz respeito, sabemos que a mobilidade é um elemento essencial ao turismo e dispomos de uma frota cada vez mais diversificada e que corresponde aos vários perfis de turista e tipo de turismo, assim como acontece com os serviços que lançámos. Os turistas procuram cada vez mais as bicicletas e nós disponibilizamos essa solução alternativa de mobilidade, mas também as scooters; efetuamos transfers, que nos são solicitados através do serviço de motorista, o Chauffeur Service, tanto para grupos como individualmente — um serviço também muito procurado – e, é claro, o aluguer de automóvel puro e duro. Uma cidade em que o turista se movimenta como quer e tem numerosas alternativas, é uma cidade em que a experiência de viagem é fluída e faz querer voltar mais uma vez“.

 

Este artigo faz parte de um Trabalho Especial publicado na edição 319 da Ambitur.

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