Ideias há muitas, bons negócios também!

Imagine uma versão gastronómica do Airbnb, experiências que combinam turismo e voluntariado ou planear uma viagem através das sugestões de moradores, em tempo real. Já não é preciso imaginar. Estas ideias de negócio existem, são made in Portugal e têm em comum a designação de ‘startups’.

Mais rápidas, mais criativas e mais sonhadoras, vieram agitar as águas e provar que não são uma moda: esse mérito ninguém lhes tira. Poder-se-à até dizer que há na história das startups um pouco de sorte, mesmo quando, à partida, nada o fazia prever. Mas, seja como for, a sorte começa e termina na ideia – palavra chave do seu ADN.

Elas são especialistas em encontrar abordagens disruptivas para resolver os problemas que se colocam às empresas – por mais pequenos que eles sejam -, facilitando o desenvolvimento de negócios já estabelecidos no mercado. Por outras palavras, estão a sacudir o tecido empresarial português, obrigando-o a reinventar-se continuamente para melhorar o seu desempenho e acompanhar a mudança.

É atrás dessa oportunidade de fechar negócio que estão 16 das startups com quem a Ambitur falou. Entre elas está, por exemplo, a ImpacTrip, a Campónio, a Hole19, a Portugal 4all Senses, a City Guru e a Portuguese Table – Experiências Gastronómicas: este texto é sobre elas. Ouvimos também o que têm a dizer sobre estas empresas Gonçalo Rebelo de Almeida e João Machado, em representação dos grupos hoteleiros Vila Galé e Pestana, Miguel Quintas, do Consolidador.com, e Frédéric Frère, CEO da Travelstore.

Tradicional versus inovação. Aquilo que nunca nos contaram
As startups não têm medo de meter mãos à obra. Investem dinheiro e disponibilidade para pôr ideias à prova antes de as fazerem florescer em grande escala. Mas o sucesso não é garantido. Os frutos são, por muito que custe admitir, inesperados. Estará o turismo preparado para elas?: a questão surge recorrentemente.

Mostrando ser um entusiasta deste modelo de negócio emergente, o administrador do grupo Vila Galé está do lado dos que acreditam que estas empresas têm muito para oferecer: “As startups e os produtos e aplicações que lançam baseiam-se na interatividade, na economia da partilha e inovação. Isso permite-nos ter um contacto mais frequente e próximo com o cliente, responder com maior rapidez às suas necessidades, proporcionar-lhes experiências diferenciadoras ou ter melhores desempenhos a nível operacional”. É assim que Gonçalo Rebelo de Almeida explica como funciona a relação entre empreendedores e empresários e as suas mais valias.

Também Miguel Quintas, do Consolidador.com, vê vantagens mútuas no uso de startups, referindo-se àquilo que as empresas podem aprender. Acima de tudo, pela “capacidade que têm de nos colocarem a pensar, ver o mundo de diferentes prismas e, finalmente, de potenciarem o nosso espírito de auto crítica”, diz. No lado oposto, a mesma opinião é partilhada por André Dias, cofundador da Snapcity. “Podem aprender com a resiliência e a necessidade constante de fazer as coisas acontecer, mesmo com poucos meios – uma caraterística de quase todas as startups“, adianta o empresário

“Qualquer empresa, nem que seja um café, é uma startup
Desta geração de profissionais, tipicamente com uma forte cultura digital, também faz parte Tiago Araújo, cofundador da HiJiffy, que não tem dúvidas: “Tem que ser uma empresa relacionada com tecnologia”. Mas a ideia não é consensual.

A tecnologia é, por exemplo, a principal aliada da Ynnov Booking. A startup trouxe para a hotelaria portuguesa uma ferramenta para apoiar a gestão e distribuição de alojamento em múltiplos canais. Através dela, é possível realizar reservas em hotéis, comparar variações de tarifas e consultar a disponibilidade, inclusive estadias mínimas, de forma rápida e muito prática.

O instrumento reconhece, ainda, a incontornável importância do alojamento local, um dos mais produtivos no setor e economia portuguesa. Quem o diz é o fundador, Nelson Barroso, que constata: “Até ao surgimento da nossa plataforma – e no que diz respeito à gestão de unidades para alojamento local – não existia um software capaz de dar resposta às suas especificidades de uma forma eficaz e a preços acessíveis”.

Já João Moedas, CEO da City Guru, desvaloriza a vocação tecnológica e considera que “qualquer empresa, nem que seja um café, é uma startup“. “Uma startup é qualquer empresa que comece com uma ideia, em qualquer área”, continuou.

Quando se passa à ação, quase todos concordam. O que define uma startup, entende Felipe Ávila da Costa, CEO da Infraspeak, é “o ambiente de incerteza em que arrancam, a sua escalabilidade, a capacidade de aprendizagem rápida e adaptação às exigências do mercado”.

E nem todas as situações correspondem ao desejado. Mas não há falhanço que as demova. O sucesso ocorrerá por fases e tudo isto é muito mais que simples mudanças nos processos. A reação imediata e capacidade de regeneração destas empresas irá ditar a sua permanência no mercado.

No top das competências mais valorizadas por estes fazedores está a inovação. Também o fundador da Helppier, Hugo Magalhães, aponta-a como a mais importante, referindo que pode ajudar ao principal objetivo das startups: “Criar soluções simples para resolver problemas complexos que a sociedade enfrenta, com tecnologias e conceitos revolucionários”.

O networking é tudo
As startups estão em todo o lado para se darem a conhecer. O primeiro contato com alguns dos nomes mais sonantes do mercado, com pouca ou nenhuma relação com o mundo do empreendedorismo, é determinante para que alguém lhes abra as portas e dê um incentivo.

Esta parceria é o pontapé de saída e não penaliza o empresário consolidado no mercado, segundo as palavras de um dos cofundadores da Snapcity. Antes pelo contrário, dá-lhes mais dinâmica. Essa perceção não é, no entanto, tão segura como se poderia pensar. E André Dias quer mudar isso, desafiando as empresas a olhar para as startups como “facilitadoras” do negócio.

Raquel Fernandes, fundador da My Portugal for All, dá-lhe razão. “Acabam por ser um repositório de ideias”, reconhece, sublinhando que “vêm, muitas vezes, dar novas diretrizes a alguns produtos e serviços que já existem, mas que precisam de um boost para se renovarem e voltarem a reencontrar com os mercados”.

Embora a noção de incerteza à volta delas seja tão acentuada, arriscamo-nos a dizer que é a vontade de fazer a diferença e o talento destes fazedores que sobressai. Guilherme Conde, managing partner da Around Vector, vai mais longe: “Uma startup tenta desafiar o status quo“. “Só por esse facto – vingando ou não – acabam por melhorar os modelos existentes e a qualidade de vida dos consumidores finais, direta ou indiretamente”, acredita.

Ainda que algumas fiquem pelo caminho, Gil Belford, fundador da Hole19, admite que, “acabam por surgir óptimas ideias que são absorvidas pelo mundo empresarial”. As melhores são, aliás, as mais improváveis.

Esta é a 1ª Parte da Reportagem “Quando a inovação se alia à autenticidade portuguesa!” publicada na Edição 308 da Ambitur.