A Igreja de São Francisco, o monumento mais visitado de Évora, tem vindo a apostar numa crescente valorização da sua missão cultural assente na diversidade e qualidade de um amplo conjunto patrimonial, material e imaterial. Se a cidade beneficiou dos efeitos decorrentes da prolongada estadia dos reis e da fixação da corte durante os séculos XV/XVI, tal efeito sentiu-se particularmente na casa franciscana tornada por estes anos em palácio real.
Testemunho maior da arquitetura tardo-gótica no Alentejo, mostra logo sobre o portal de entrada o real patrocínio nos emblemas de D. João II, de D. Manuel e no escudo de Portugal. A grandiosidade e originalidade impressionam pela extraordinária proporção do edifício e da abóbada que cobre a nave única, com seis capelas de cada lado, variedade de altares, objetos devocionais e artísticos que se estendem desde o século XV à atualidade.
Indissociável da popularidade de São Francisco é a natureza singular da maior e mais antiga Capela dos Ossos de Portugal, sintetizada na célebre frase NÓS OSSOS QUE AQUI ESTAMOS PELOS VOSSOS ESPERAMOS. Utiliza como revestimento integral das paredes ossadas humanas, ali colocadas no século XVII com uma função decorativa mas sobretudo catequética, de lembrar ao visitante que está num espaço de reflexão sobre a condição humana e de aceitação da morte como inseparável da vida, morte essa que é na verdade a condição de passagem para uma vida eterna, desejavelmente no esplendor e glória de Deus.
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Decorrente da campanha de obras realizada entre 2014-16, foram-se desenhando novos desafios e o reconhecimento do valor da Igreja de São Francisco enquanto conjunto integrado, pelo incremento da missão espiritual, cultural e turística decorrente da abertura de novos espaços religiosos e museológicos, no remanescente conventual, de que se destacam a instalação de um Núcleo de Arte Sacra com uma centena de peças, uma exposição com mais de 500 presépios de todo o mundo ou a abertura de áreas exteriores com vistas panorâmicas únicas.
Outros aspectos relevantes prendem-se com uma aposta clara na salvaguarda do seu património, pela criação de uma Oficina de Conservação e Restauro, na sistematização e transmissão dos conteúdos necessários para um entendimento e fruição plenos, e numa importante ação mecenática que se desenvolve a vários níveis. Apenas dois exemplos:
– o extraordinário Presépio Évora, que põe em evidência quatro valores culturais do Alentejo classificados como Património Mundial: o Centro Histórico de Évora como cenário, os Bonecos de Estremoz no seu figurado de barro, o Cante Alentejano representado pelo grupo coral e os Chocalhos de Alcáçovas representados sob as arcadas;
– a vontade de voltar a trazer com regularidade música à igreja determinou um complexo processo de restituição da plenitude estética e funcional a quatro órgãos de Pascoal Caetano Oldovino, dos mais de trinta que construiu na segunda metade do século XVIII. Desta forma, tocando em simultâneo ou individualmente, os dois órgãos de coro, um monumental e um portátil têm vindo a possibilitar a realização de uma programação musical cada vez mais consistente, e a presença assídua de um organista a tocar ao vivo.