Turismo correspondeu a 14,6% do PIB nacional em 2018

O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou esta manhã os resultados da Conta Satélite do Turismo (CST), apresentando uma primeira estimativa para 2018 de dois agregados principais: o Valor Acrescentado Bruto gerado pelo Turismo (VABGT) e o Consumo do Turismo no Território Económico (CTTE).

De acordo com o documento, estima-se que, em 2018, o VABGT tenha atingido 8,0% do VAB da economia nacional, evidenciando um crescimento de 8,0% em termos nominais, superior ao do VAB da economia nacional (3,9%). No mesmo ano, o CTTE correspondeu a 14,6% do Produto Interno Bruto (PIB), aumentando 7,7% face ao ano anterior.

Consumo do Turismo no Território Económico (procura turística)

A procura turística aumentou 7,7% em 2018, tendo desacelerado relativamente ao ano anterior (cresceu 17,9% em 2017).

  • Despesa do Turismo Recetor

Em 2017, a despesa do turismo recetor continuou a ser a componente mais relevante da procura turística (65,5%), tendo aumentado 22,6% face ao ano anterior, correspondendo a 21,7% do total das exportações nacionais de bens e serviços. No mesmo ano, quase 97% do total da despesa do turismo recetor foi efetuada por turistas, enquanto os excursionistas foram responsáveis por cerca de 3%.

A estrutura de despesa das duas categorias de visitantes registou diferenças significativas:

– Turistas: a despesa incidiu maioritariamente sobre a restauração (26,9%), o alojamento (25,7%) e o transporte de passageiros (21,3%);

– Excursionistas: 40,3% da despesa foi direcionada para produtos não específicos, 30,8% foi para a restauração e 16,4% para os produtos conexos. Estes três produtos congregaram cerca de 88% do total da despesa dos excursionistas não residentes.

  • Despesa do Turismo Interno

No turismo interno, a despesa dos turistas manteve-se predominante e o peso relativo da despesa dos excursionistas diminuiu ligeiramente em 2017, cifrando-se em 36,7%. A despesa do turismo interno por tipo de viajante e por produto evidenciou a seguinte distribuição:

– Turistas: incidiu maioritariamente sobre o alojamento (31,6%), a restauração e bebidas (19,4%) e o transporte de passageiros (14,0%);

– Excursionistas: foi fundamentalmente direcionada para produtos não específicos (29,5%), restauração e bebidas (28,9%) e recreação e lazer (14,1%).

  • Despesa do Turismo Emissor

Em 2017, à semelhança da despesa do turismo recetor, também na despesa do turismo emissor (importações de turismo) predomina a despesa efetuada pelos turistas (89,9%), comparativamente com a realizada pelos excursionistas (10,1%). Observaram-se igualmente diferenças significativas na estrutura de despesa por tipo de viajante e por produto:

– Turistas: concentrou-se no alojamento (25,6%), no transporte de passageiros (23,7%) e na restauração e bebidas (22,4%);

– Excursionistas: foi maioritariamente dirigida para produtos conexos (49,3%) e para produtos não específicos
(39,9%).

A despesa do turismo emissor (importações de turismo) aumentou 13,2% em 2017, correspondendo a 5,9% das importações nacionais de bens e serviços. O saldo dos fluxos turísticos foi positivo, tendo registado um aumento de 26,3% em 2017, impulsionado, de forma mais significativa, pela dinâmica do turismo recetor (cuja estimativa tem como principal fonte de informação a nova série da Balança de Pagamentos).

Consumo Coletivo do Turismo

No contexto da CST são exemplos da despesa de consumo coletivo os serviços de promoção de turismo, serviços de informação ao visitante, serviços administrativos relacionados com o turismo, entre outros.

Em 2017, esta despesa aumentou 7,4%, refletindo um aumento generalizado em todos os sub setores das Administrações Públicas, que foi mais significativo na administração central (14,6%), pelo que o seu peso relativo no total da despesa foi reforçado (29,2%). No entanto, a administração local continua a ser responsável por mais de 50% do total da despesa do consumo coletivo do turismo.

VAB gerado pelo Turismo

Em 2018, o VABGT registou um crescimento de 8,0% face a 2017, representando 8,0% do VAB da economia nacional. De entre as atividades caraterísticas do turismo cuja dinâmica de crescimento do VABGT foi mais significativa em 2017, face ao ano anterior, destacam-se o desporto, recreação e lazer (+27,3%), os restaurantes e similares (+26,5%) e os hotéis e similares (+21,0%). As atividades que mais contribuíram para o VABGT, em 2017, foram os hotéis e similares (32,3%), os restaurantes e similares (19,4%) e as atividades não específicas (17,7%).

Emprego e remunerações

Em 2017, o emprego nas atividades caraterísticas do turismo aumentou 8,7% face a 2016, fixando-se em 413.567 ETC e representando 9,0% do total do emprego nacional. Este crescimento foi superior ao observado na economia nacional (3,4%).

Considerando exclusivamente a componente turística das atividades caraterísticas do turismo, esta correspondeu a 5,1% do total do emprego nacional (231.620 ETC). As atividades caraterísticas do turismo que evidenciaram dinâmicas de crescimento de emprego mais acentuadas foram o desporto, recreação e lazer (+14,5%), os hotéis e similares (+13,7%) e o aluguer de equipamento de transporte (+12,5%).

Cerca de 84% do emprego (ETC) nas atividades caraterísticas do turismo concentrou-se nos restaurantes e similares (51,2%), nos hotéis e similares (20,7%) e no transporte de passageiros (12,2%). Importa igualmente destacar que o peso do emprego não remunerado aumentou de forma significativa nos hotéis e similares (+26,8%), o que poderá ser parcialmente explicado pelo crescimento do alojamento local.

Em 2017, as remunerações nas atividades caraterísticas do turismo representaram 8,3% do total de remunerações da economia nacional. Considerando apenas a componente turística, o peso das remunerações correspondeu a 4,8% do total da economia nacional. À semelhança do que se observou no emprego, o crescimento das remunerações das atividades caraterísticas do turismo (10,7%) foi superior ao observado na economia nacional (6,0%).

Os restaurantes e similares constituíram a atividade mais relevante, congregando cerca de 41,8% do montante global das remunerações. Seguiram-se os transportes de passageiros (20,3%) e os hotéis e similares (19,5%), sendo que estes últimos correspondiam à segunda atividade mais relevante na estrutura de emprego.

Em 2017 a remuneração média por trabalhador nas atividades características do turismo foi inferior em 6,0% à média nacional, registando, no entanto, diferenças relevantes por atividade: face à economia nacional a remuneração média por trabalhador foi mais elevada nos transportes de passageiros (143,7%); em oposição, as atividades onde a
remuneração média foi mais baixa foram os restaurantes e similares (76,3%), os hotéis e similares (90,7%) e os serviços culturais (98,3%).

Comparações internacionais

Considerando a informação disponível para países europeus, nas diversas fontes consultadas para os anos compreendidos entre 2014 e 2017, observou-se que a importância relativa da procura turística (CTTE), expressa pela sua relação com o PIB, foi mais elevada em Portugal (14,1%). Em termos de importância relativa do VABGT no VAB da economia nacional, Portugal ocupa igualmente a posição cimeira (7,7% em 2017) entre os países analisados.

Observou-se ainda que Portugal registou um peso relativo do CTTE na oferta interna de 6,2%, em 2017, sendo apenas superado pela Croácia (9,8%). O número de países com informação disponível para as variáveis relacionadas com o emprego é mais reduzido. Portugal apresenta o terceiro registo mais elevado (9,0%), imediatamente atrás da Hungria (10%) e de Espanha (12,8%), na importância relativa do emprego nas atividades características do turismo no total do emprego nacional.

Aplicação do Sistema Integrado de Matrizes Simétricas Input-Output para 2015 aos resultados da CST

Aplicando o Sistema Integrado de Matrizes Simétricas Input-Output de 2015 aos principais resultados da CST, é possível determinar, além do impacto direto, o impacto indireto da atividade turística na economia nacional. Efetivamente, este sistema, respeitando um equilíbrio geral entre procura e oferta agregadas, representa as
interconexões entre os ramos da atividade económica, permitindo apurar, mediante certas condições e hipóteses, o efeito induzido total que resulta da propagação aos diversos ramos de atividade do impacto da procura turística.

Estima-se que, em 2017, o consumo turístico tenha tido um contributo total de 10,9% para o PIB (21,3 mil milhões de euros) e 10,7% para o VAB (18,1 mil milhões de euros), sendo expectável um aumento de ambas as percentagens em 0,4 pontos percentuais (p.p.) em 2018. De acordo com o referido sistema de matrizes, perspetiva-se que o consumo turístico tenha gerado 6,4 mil milhões de euros de importações (22,9% deste consumo é satisfeito por importações).

Focando a análise nos produtos de consumo turístico com maior impacto na criação de riqueza, estima-se que os serviços de restauração e similares (com 26,7 pontos percentuais – p.p.) e os serviços de alojamento (23,8 p.p.) sejam responsáveis por cerca de 50% do PIB gerado pelo turismo. Num patamar bastante inferior estão os serviços de
transporte aéreo (6,9 p.p.), os serviços imobiliários (4,9 p.p.) e os produtos alimentares (4,1 p.p.).

Comparação dos grandes agregados da CST nas bases 2006, 2011 e 2016 das Contas Nacionais

Apesar das diferenças inerentes a cada mudança de base, podem estabelecer-se algumas comparações referentes aos principais agregados da CST. Em 2017, o CTTE representou 14,1% do PIB e o VABGT 7,7% do VAB nacional. Em 2008 e 2015, nas anteriores bases das Contas Nacionais Portuguesas, o CTTE representava, respetivamente 9,2% e 12,2% do PIB, enquanto o VABGT correspondia a 4,1% e 6,7% do VAB nacional.

O aumento do peso relativo do CTTE no PIB, assim como o do VABGT no VAB nacional, entre 2008 e 2017, reflete a dinâmica de crescimento mais acentuada nas atividades caraterísticas do turismo do que no total da economia nacional.

Apesar de o peso relativo do emprego das atividades caraterísticas do turismo, medido em ETC, ter aumentado entre 2008 e 2017, observou-se uma diminuição dos valores absolutos. No entanto, a variação global do emprego nas atividades características do turismo, observada entre bases, resulta de dinâmicas bem diferenciadas das suas componentes. Com efeito, o emprego nos hotéis e similares registou um aumento de 36,2% no período analisado (2008-2017).