O Instituto Nacional de Estatística (INE) apresenta a estimativa preliminar da Conta Satélite do Turismo (CST) para 2023, para quatro agregados principais: o Consumo do Turismo no Território Económico (CTTE) e, com recurso ao sistema de matrizes Input-Output, o Valor Acrescentado Bruto gerado pelo Turismo (VABGT), o VAB total do turismo e o PIB total do turismo.
Em 2023, o Valor Acrescentado Bruto gerado pelo Turismo (VABGT) e o Consumo do Turismo no Território Económico (CTTE) registaram, respetivamente, aumentos nominais de 16,0% e 15,5%, revelando um dinamismo superior ao da economia nacional (o VAB e o PIB nacionais cresceram 10,1% e 9,6%, respetivamente). Estes crescimentos consolidaram a recuperação do turismo no período pós-pandemia, após se terem observado aumentos muito intensos do VABGT e do CTTE em 2022 (69,6% e 78,1%, respetivamente).
O VABGT representou 9,1% do VAB nacional em 2023 (8,6% em 2022) e o CTTE foi equivalente a 16,5% do PIB (15,6% em 2022), reforçando assim o seu peso relativo no total da economia e atingindo máximos históricos.
Aplicando o Sistema Integrado de Matrizes Simétricas Input-Output aos principais resultados da Conta Satélite do Turismo, estima-se que a atividade turística tenha gerado um contributo direto e indireto de 33,8 mil milhões de euros para o PIB em 2023, o que corresponde a 12,7% (12,1% em 2022 e 7,8% em 2021). Estes resultados refletem um contributo de 1,1 pontos percentuais (p.p.) para o crescimento real do PIB em 2023 (2,3%)
Em 2023, o VAB (direto) gerado pelo turismo aumentou 16,0%, correspondendo a 9,1% do VAB nacional
O VABGT totalizou 21 051 milhões de euros em 2023 e representou 9,1% do VAB nacional (8,6% em 2022), voltando a registar um novo peso relativo máximo desde 2000, ano mais recuado para o qual se dispõe de informação da CST.
O CTTE cifrou-se em 43 683 milhões de euros e aumentou o peso relativo no PIB para 16,5%, ultrapassando igualmente os registos verificados em anos anteriores (15,6% em 2022).
O VABGT e o CTTE registaram, respetivamente, aumentos nominais de 16,0% e 15,5% em 2023 face a 2022. O VABGT e o CTTE aumentaram de forma mais acentuada que o VAB (10,1%) e o PIB nacionais (9,6%) evidenciando um maior dinamismo do setor do turismo do que o observado para o total da economia em 2023.
Em 2023, o consumo turístico teve um contributo total de 12,7% para o PIB
Estima-se que, em 2023, o consumo turístico tenha tido um contributo total (direto e indireto) de 12,7% (33,8 mil milhões de euros) para o PIB e de 12,4% (28,7 mil milhões de euros) para o VAB da economia nacional. Neste ano, o PIB do Turismo aumentou 15,2% em termos nominais face a 2022 e 33,1% face ao período pré-pandemia (2019). Contudo, é importante notar que há um forte efeito preço neste período, pelo que, em volume, o PIB do Turismo deverá ter-se situado 13,5% acima dos valores de 2019.
Em termos reais, o PIB aumentou 2,3% em 2023, prolongando o ciclo de crescimento iniciado dois anos antes (5,7% em 2021 e 6,8% em 2022). O turismo foi determinante para esta expansão, contribuindo com quase metade (1,1 p.p.) para o crescimento real do PIB em 2023 (2,3%).
Evolução do turismo 2016 – 2023
Os principais agregados da CST, o CTTE e o VABGT, bem como os respetivos pesos no PIB e no VAB nacionais, refletiram a forte dinâmica do turismo nos períodos pré-pandemia, 2016 – 2019, e pós-pandemia 2022 – 2023.
Entre 2016 e 2019, o CTTE cresceu 40,0% e o seu peso no PIB aumentou 2,7 p.p.; o VABGT cresceu 35,7% e o seu peso no VAB nacional aumentou 1,2 p.p. Esta dinâmica foi interrompida em 2020 pela pandemia, altura em que se registaram acentuados decréscimos nestas variáveis, mas que apresentam uma rápida e acentuada recuperação. Com efeito, o CTTE e o VABGT registaram já em 2022 valores superiores aos de anos anteriores, que foram novamente superados em 2023, correspondendo a máximos históricos.
O VAB total gerado pelo turismo acompanhou a trajetória do VABGT entre 2016 e 2023. Efetivamente, a pandemia determinou uma interrupção na trajetória de crescimento destes agregados, mas desde 2022 que se assiste a uma recuperação, a um ritmo mais intenso do que no período anterior à pandemia COVID-19, verificando-se máximos históricos nos últimos dois anos. Assim, e apesar dos dois anos de crise no setor motivados pela pandemia, entre 2016 e 2023 o VAB total gerado pelo turismo aumentou o seu peso no VAB em 2,9 p.p..
O peso do turismo no PIB também tem vindo a aumentar, verificando-se, desde 2022, um contributo direto e indireto para o PIB superior ao que se verificou em 2019, retomando-se a trajetória de crescimento que se registava no período pré-pandemia, e a um ritmo mais intenso. À semelhança do verificado com o VAB, também o peso do turismo no PIB nacional subiu no período 2016-2023 (+3,0 p.p.), apesar dos resultados menos favoráveis em 2020 e 2021, o que enfatiza o significativo crescimento no período pós-pandemia.
No período entre 2020 e 2023, o contributo do turismo para a evolução real do PIB da economia foisignificativo. Em 2020, primeiro ano de pandemia, o turismo foi responsável por cerca de dois terços do decréscimo do PIB nacional (-5,5 p.p. em -8,3%). Em 2022, já em contexto de recuperação, voltou a registar uma significativa importância relativa (4,2 p.p. em 6,8%), bem como em 2023, ano em que o turismo foi responsável por cerca de metade do crescimento real do PIB (1,1 p.p. em 2,3%).
Entre 2016 e 2023, o VABGT, registou um maior dinamismo do que a economia nacional. Com exceção dos anos atípicos da pandemia e respetiva recuperação (2020 a 2022), foi em 2017 que se tinha verificado a maior distância (12,6 p.p.) entre o crescimento do VAB nacional (4,7%) e do VABGT (17,3%), seguido de 2023 com 5,9 p.p. (com o VAB nacional e o VABGT a registarem taxas de variação de 10,1% e 16,0%, respetivamente).
Entre 2016 e 2023, as exportações de turismo aumentaram 96,2% e as importações 77,5%. Esta variação refletiu um forte ritmo de crescimento do turismo, apesar dos decréscimos muito acentuados em 2020 (-57,8% e -47,1%, para as exportações e importações de turismo, respetivamente), ano em que mais se fizeram sentir os efeitos da pandemia.
Excluindo da análise os anos de 2020 e 2021, verifica-se que o ritmo de crescimento nos últimos dois anos tem sido mais intenso que o registado até 2019, principalmente nas exportações. Assim, entre 2016 e 2019, a taxa de variação média de crescimento das exportações foi 12,2%, subindo para 17,3% em termos médios, no período pós-pandemia (2022-2023).
As dormidas em estabelecimentos de alojamento turístico, em Portugal, de residentes e não residentes, aumentaram respetivamente 34,6% e 29,6%, revelando igualmente um contexto de crescimento do turismo bastante acentuado no período entre 2016 e 2023. Contudo, em termos de dormidas, apenas em 2023 se registaram valores superiores aos do período pré-pandemia, verificando-se um crescimento muito significativo principalmente das dormidas de não residentes, que face a 2019 aumentaram 9,8%.
Portugal manteve o segundo peso relativo mais elevado da procura turística (CTTE) no PIB, em 2022 (15,6%)
Em 2022, e à semelhança do verificado no ano anterior, de entre os países europeus para os quais há informação
disponível (dados provisórios ou preliminares), Portugal foi o segundo país que registou maior importância relativa da procura turística no PIB (15,6%), tendo sido apenas superado pela Islândia (17,4%). Todos os países em análise aumentaram o peso do CTTE no PIB, traduzindo a recuperação do setor do turismo no período pós-pandemia.
Com exceção da Áustria, que iniciou a recuperação da sua procura turística apenas em 2022, este grupo de países europeus não só prosseguiu a trajetória de recuperação da procura turística iniciada em 2021 como a intensificou, verificando-se taxas de variação do CTTE superiores em 2022, quando comparado com o ano anterior.
A taxa de variação mais alta verificou-se na Áustria (90,2%) e a mais baixa na Finlândia (17,4%). Em Portugal, a procura turística aumentou 78,1% em 2022, depois de ter aumentado 26,1%, em 2021 (decréscimo de 48,8% em 2020).
Despesa do turismo recetor e interno com taxas de variação aproximadas: 28,2% e 29,4%, respetivamente
A despesa do turismo recetor apresentou, em 2021, uma taxa de variação positiva de 28,2%, mais próxima, mas ainda inferior à do turismo interno, com 29,4%. Estas variações positivas sucedem-se a decréscimos significativos ocorridos em 2020: -59,4% no turismo recetor e -34,7% no turismo interno. A despesa de outras componentes do consumo do turismo aumentou 2,5% em 2021 (1,7% em 2020)
Em 2021, a despesa do turismo recetor contribuiu com 51,9% para o total do CTTE e a despesa do turismo interno com 40,0%, valores idênticos aos de 2020 (51,0% e 39,0%, respetivamente) em resultado de uma evolução semelhante de cada uma daquelas componentes, entre os dois anos: 29,4%, na despesa do turismo interno e 28,2% na despesa do turismo recetor.
Note-se que, em 2021, em consequência da recuperação apenas parcial da atividade turística, ainda não se tinha atingido a composição do CTTE do período pré-pandemia onde, em média entre 2016 e 2019, o peso da despesa do turismo recetor foi 64,6% e o da despesa do turismo interno foi 29,9%. No entanto, em toda a série 2016 a 2021, a despesa do turismo recetor manteve-se como a mais preponderante face à despesa do turismo interno e às outras componentes.
A despesa do turismo recetor representou 12,3% do total das exportações de bens e serviços, em 2021, mais 0,7 p.p. do que em 2020, ano em que foi atingido o mínimo da série iniciada em 2016 (11,6%).
O maior dinamismo do turismo recetor, que registou um aumento nominal de 28,2% em 2021, quando comparado com o das exportações de bens e serviços no mesmo ano (20,4%), resultou num aumento de 6,5% do peso do turismo recetor no total das exportações de bens e serviços.
A despesa do turismo emissor registou igualmente uma recuperação, com um aumento de 31,2%, ligeiramente acima do da despesa do turismo recetor (28,2%), traduzindo-se num crescimento de 26,6% do saldo dos fluxos turísticos. Em 2021, este saldo fixou-se em 7 090 milhões de euros, que foi apenas cerca de metade (46,7%) do registado em 2019 (15 196 milhões de euros).
Em 2021, o emprego e as remunerações das atividades caraterísticas do turismo cresceram 0,1% e 5,3% respetivamente, mas com ritmos inferiores aos do total da economia (2,4% e 7,2%, pela mesma ordem)
O emprego nas atividades caraterísticas do turismo cresceu apenas marginalmente em 2021 (variação 0,1%), enquanto a economia nacional registou um aumento mais expressivo de 2,4%. Este diferente comportamento resultou num ligeiro decréscimo (-0,2 p.p.) do peso do emprego medido em equivalentes a tempo completo (ETC) das atividades caraterísticas do turismo no total do emprego nacional. Os 426 230 ETC daquelas atividades passaram a representar 8,9% do total, em 2021.
A quase estagnação do emprego das atividades caraterísticas do turismo em 2021 (0,1%) resulta, no entanto, de um dinamismo distinto das respetivas componentes de emprego remunerado e não remunerado daquelas atividades. Enquanto o emprego não remunerado aumentou 11,2% face a 2020, o emprego remunerado decresceu 1,9%. A recuperação mais acelerada do emprego não remunerado surgiu após diminuir de forma mais acentuada em 2020 (-15,3%) do que o emprego remunerado (-6,7%), refletindo os impactos fortemente negativos da pandemia sobre a atividade turística.
Os serviços culturais e desporto, recreação e lazer, a par dos outros transportes (rodoviários, ferroviários e marítimos), foram as atividades caraterísticas do turismo que, em 2021, evidenciaram um crescimento do emprego (ETC). Todas as outras atividades registaram decréscimos, com maior impacto nos transportes aéreos (-11,0%) e nas agências de viagens (-9,8%).
As remunerações das atividades caraterísticas do turismo registaram uma recuperação mais pronunciada (5,3%) do que o total dos ETC daquelas atividades (0,1%). Os transportes aéreos e as agências de viagens foram as atividades que, em 2021, ainda evidenciaram uma dinâmica de redução, -11,7% e -3,6%, respetivamente.
Em 2021, as remunerações nas atividades caraterísticas do turismo representaram 7,5% do total de remunerações da economia nacional.
À semelhança do que se verificou no emprego, o crescimento das remunerações das atividades caraterísticas do turismo (5,3%) foi inferior ao da economia nacional (7,2%).
A remuneração média por trabalhador nas atividades caraterísticas do turismo foi inferior à média nacional, tendo-se verificado, no entanto, uma ligeira redução nessa diferença face ao ano anterior: -10,8% em 2021, que compara com -12,8% em 2020 (e -3,9% em 2019).
Registaram-se, no entanto, diferenças relevantes por atividade em 2021, com remunerações médias superiores à média da economia nacional (7,2%) nos transportes aéreos (116,2%), no desporto, recreação e lazer (42,7%) e no aluguer de equipamento de transporte (7,4%).
As restantes atividades agravaram o distanciamento da remuneração média por trabalhador face à da economia nacional, destacando-se os restaurantes e similares (-27,3%) e os hotéis e similares (-14,2%). Esta é uma
realidade que já se verificava em 2020 e também no período pré-pandemia.