Interesse dos americanos por Portugal “vai continuar a solidificar-se”

Luís Araújo

Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, esteve hoje no debate promovido pelo Pestana Hotel Group e a Câmara de Comércio Americana em Portugal (AmCham) para falar sobre o valor, potencial e desafios do investimento norte-americano no turismo e imobiliário portugueses. O orador começou por lembrar que, nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, se verificou um crescimento das dormidas dos norte-americanos no nosso país da ordem dos 65%. Quando comparado com iguais meses de 2019, este crescimento foi superior a 100%. O que significa, diz, que o interesse deste mercado por Portugal “vai continuar a solidificar-se”.

E, para que tal aconteça, recordou que há alguns fatores essenciais. Em primeiro lugar, a conectividade aérea, sendo que neste ponto, o país tem atualmente cinco companhias aéreas com ligações ao mercado dos EUA, e quatro dos cinco aeroportos nacionais com voos diretos (o Algarve é ainda a exceção). E se, em 2016, havia um milhão de lugares disponíveis entre os EUA e Portugal, hoje são dois milhões.

Mas, adiantou, não se trata apenas da conectividade aérea. “Existe uma estima por parte do norte-americano relativamente a Portugal”, admite. E apontou como segundo pilar desta ligação a capacidade de Portugal atrair públicos diferentes com mensagens segmentadas. “Temos feito um trabalho muito B2B numa ótica de segmentação”, esclareceu.

Luís Araújo não duvida de que se trata de “um mercado com potencial para Portugal” até porque “a nossa proposta de valor enquanto país é muito próxima do mercado americano”.

“Os americanos descobriram Portugal”

Patrícia Barão

Também Patrícia Barão, diretora do departamento residencial da JLL Portugal, concorda que “os americanos descobriram Portugal” nas várias frentes do imobiliário. E garante que 2022 foi já um ano recorde do investimento norte-americano no nosso país. De um total investido de 1150 milhões de euros, 33,7% vieram dos americanos. E, no primeiro trimestre deste ano, este peso no total já ascende a 67%. “Estamos no radar dos americanos”.

John Calvão

E um exemplo é do investidor luso-americano, John Calvão, managing principal e co-head do fundo da Arrow Global (recorde-se que, por exemplo, em 2021, adquiriu a Vilamoura World à Lone Sar, entre outros investimentos), um dos maiores iinvestidores em Portugal, com plataformas locais que empregam já mais de 1200 pessoas. Apesar do apetite pelo mercado português, John Calvão reconhece que há dificuldades que, muitas vezes, acabam por dissuadir os investidores, como a falta de consistência. “Precisamos de previsibilidade”, frisou, e não de constantes alterações a nível de políticas fiscais, nem de burocracias.

Algo que Patrícia Barão corrobora, dizendo que o processo imobiliário longo e que, muitas vezes “os investidores não querem ter o capital parado durante tanto tempo”, acabando por procurar outras opções. Mas, defende, “temos de passar uma mensagem de confiança para captar os investidores”. Ou seja, contribui John Calvão, “facilitar”, pois “Portugal tem muito para dar, tem muito valor, mas tem se ser fácil fazer negócio”.

O lado das companhias aéreas

Sofia Lufinha

Presente neste debate esteve também Sofia Lufinha, chief strategy officer da TAP, que lembrou que, em geral, e não falando somente da TAP, houve um crescimento dos voos semanais entre Portugal e EUA na ordem dos 40%, havendo hoje mais de 100 frequências por semana para aquele país. Na TAP, concretamente, este aumento em termos de voos semanais foi de 60%, tendo atualmente uma oferta superior a 60 voos todas as semanas para os EUA. “Há muito crescimento recente”, revela a responsável, apontando mais 15 frequências só este verão.

Já o número de passageiros entre o primeiro trimestre de 2019 e de 2023 mais do que duplicou na TAP, e a receita triplicou, esclareceu a responsável. “Os americanos têm muito poder de compra”, admite.

Além disso, Sofia Lufinha referiu que a TAP tem ainda um hub e muitos dos passageiros estão apenas de passagem, para serem ligados a outros destinos da Europa, África ou Tel Aviv. “Temos de aproveitar este tráfego para promover o turismo em Portugal”, defendeu a representante da TAP, referindo-se ainda ao programa Stopover, que tem sido um “sucesso”, com mais de 120 mil passageiros que pararam em Portugal neste primeiro trimestre, revela.

Sofia Lufinha reconhece que a questão aeroportuária é uma limitação, acreditando que o atual Aeroporto de Lisboa ainda pode ser alvo de investimentos; e que a própria TAP tem limitações até pelo processo de reestruturação que limita o número de aviões. Mas “isso não limita o crescimento, vamos continuar a crescer e a otimizar”, garante.

Miguel Mota

Miguel Mota, sales manager para Portugal da Air France KLM & Delta Air Lines, falou num crescimento superior a 10% no segundo semestre de 2022 e, nos primeiros meses deste ano, de um aumento de 30% no turismo de lazer para os EUA. Para o futuro, a capacidade de voos diretos à partida de Portugal para aquele país aumentará 35% este verão, sendo que os vosso indiretos também terão um crescimento superior a 25%. O responsável acredita que o mercado norte-americano tem beneficiado até pelo facto de ter se ter aberto mais cedo do que outros, com as companhias aéreas a ajustarem a oferta. E, por isso, também antevê que a capacidade vá estar sob pressão, pois outros destinos já abriram entretanto ou vão começar a abrir, pelo que “importa puxar pela qualidade do destino”.

Por Inês Gromicho

EUA são mercado que mais tem crescido para Portugal em turistas e despesa turística