A sustentabilidade e o turismo foram, uma vez mais, o mote para a Conferência Smart and Green Tourism, organizada pela Ambitur e Ambiente Magazine, em parceria com a Fundação AIP. O primeiro painel desta 4ª edição foi, como é habitual, dedicado à Hotelaria, desta vez com a temática “Geração Ambiental”, contando com Elisabete Félix, diretora do Departamento de Dinamização Empresarial do Turismo de Portugal como moderadora, e com Francisco Santos, Head of Sustainability da Highgate Portugal, Ana Parreira, Quality and Sustainability Manager da PHC Hotels e Fernando Morais, diretor de Sustentabilidade da Six Senses Douro Valley, como oradores.
Na Highgate, que conta atualmente no seu portfólio com 15 unidades hoteleiras em Portugal, país onde existe há há dois anos, o trabalho em prol da sustentabilidade ainda é recente, admite Francisco Santos, tendo começado por um diagnóstico completo pois as realidades dos hotéis eram diferentes. Com mais de mil trabalhadores, “a estratégia tem que passar pelo envolvimento, este é o pilar”, frisa o responsável, que garante não sentir um peso por assumir a estratégia de sustentabilidade no grupo pois “já há um mindset quer da administração, como de todos os departamentos”. A Highgate optou então por avançar com um processo de certificação através da Biosphere “porque está de acordo com o que é a sustentabilidade hoje em dia e com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, e o orador explica que se trata de “um processo bastante dinâmico que permite ter uma «fotografia» do que somos e, a partir daí, ver as metas para a frente”.
Francisco santos reconhece a importância das parcerias neste processo e indica que a Highgate Portugal tem trabalhado sempre com a Global Compact ou com a BCSD, estando “atentos ao que fazem os nossos colegas, que dão sempre inputs positivos para o nosso caminho”. E aponta como próximo passo a descarbonização e a economia circular.

Os campos de golfe são um elemento polémico nesta questão da sustentabilidade, naturalmente no que diz respeito à utilização da água. A verdade é que a Highgate Portugal gere três campos de golfe e, por exemplo, o Campo de Golfe dos Salgados já só utiliza água reutilizada, proveniente de uma ETAR, sendo que os outros dois campos têm como principal fonte barragens pluviais. “Sabemos que no Algarve, e não é de agora, mas sim dos últimos 15 anos, estamos em seca. Temos uma capacidade de um milhão de m3 de água. Há 15 anos isso não era um problema pois tínhamos um volume de água que dava para anos, mas hoje estamos a estudar alternativas, incluindo a mesma do campo dos Salgados”, explica o Head of Sustainability da Highgate Portugal.
De facto, adianta o orador, no grupo estão ser tomadas várias medidas mas a prioridade passa sempre pela prevenção e redução, quer de água como energia ou resíduos. A empresa instalou entre 2500 e três mil painéis fotovoltaicos nas seis unidades que tem em Albufeira, uma quantidade que embora saiba ser considerável não permitirá resolver a questão energética só por si, pois os custos energéticos de um hotel são muito elevados. Por isso defende que a primeira coisa a fazer é reduzir a quantidade de energia que é gasta. Por outro lado, os hotéos do grupo avançaram também, já há sete anos, com pontos de carregamento elétrico e hoje estão a ser feitas intervenções de fundo em unidades que vão ganhar uma nova marca e que terão também tecnologias mais recentes. “Há hotéis que vão ter mais de 100 pontos de carregamento de carros elétricos e todos os hotéis estão a ficar equipados com tecnologias d egestão de água e energia consentânea com 2025”, sendo que o “objetivo é poupar, poupar e reduzir, pois os problemas resolvem-se na origem”, explica Francisco Santos.
Outra questão muito importante na hotelaria é a parte alimentar, relacionada com o desperdício. Com 50 restaurantes no grupo, o orador sabe que “o potencial de desperdício é grande”. Uma vez mais a aposta passa por tecnologia. “Estamos a alinhar com softwares que permitem ter fichas técnicas informatizadas e saber ao milímetro o que vamos ter que fazer para termos o mínimo de desperdício”. O grupo não avançará com este processo nos 50 restaurantes em simultâneo, será faseado. Há, por exemplo, dois hotéis que vão deixar de ser All Inclusive e aí o desperdício será menor.
Por outro lado, “não é só com tecnologia” que este processo avança, mas sim com as pessoas. “Somos mais de 1000 e só com liderança e tecnologia é que as coisas funcionam”, sublinha o responsável. E adianta que a Highgate Portugal está a avançar com uma formação de cozinha sustentável com o Turismo de Portugal.
“Temos que envolver todas as equipas”, sublinha, admitindo que “não chegaremos aos nossos objetivos se não envolvermos os mais de 1000 colaboradores e também os nossos hóspedes”.
A Highgate Portugal tem um plano de formação em sustentabilidade, geral para todos os colaboradores e depois ações específicas para cada um dos departamentos, recorrendo a parceiros como o Turismo de Portugal, a ADENE ou as Nações Unidas. O grupo está também a preparar um projeto de formação, envolvimento e incentivo dos colaboradores para a redução de consumos de água e energia. “A ideia é que todos tenham uma patre ativa e, no final do ano, vermos as reduções de consumo-custo”.
Também os hóspedes são alvo de iniciativas da Highgate até porque “há clientes que já nos procuram” por esses motivos.
“A sustentabilidade não é um fardo, é uma oportunidade”, frisa Francisco Santos.
Por Inês Gromicho. Fotos @Raquel Wise
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