Jornadas ECEO: “O turismo do futuro vai ser o genuíno”

Na passada sexta-feira, 17 de maio, refletiu-se sobre as assimetrias regionais no turismo português — nomeadamente o interior do país –, no âmbito das Jornadas da Escola de Ciências Económicas e das Organizações (ECEO), do Departamento de Turismo, da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.

Luís Coito, representante do Turismo de Portugal, afirma que a “grande prioridade cada vez mais patente em toda a estratégia nacional do turismo” assenta na coesão territorial e na promoção e dinamização do turismo no interior de Portugal seguindo uma lógica de sustentabilidade.

O objetivo é que “todo o país, de uma forma igual, consiga beneficiar daquilo que se está a sentir nas regiões mais conhecidas e mais tradicionalmente turísticas”, como Lisboa, Porto e Algarve, mostrando que “o turismo é a verdadeira âncora do desenvolvimento económico, social e ambiental do nosso país”.

O representante do Turismo de Portugal defende que “o turismo do futuro vai ser o genuíno”, isto é, o novo turista procura cada vez mais o local e o autêntico, com recurso a experiências sensoriais.

Energia nova no interior

Já Pedro Pedrosa, da A2Z, que também ele se mudou da cidade para o campo, dá conta da baixa taxa de sucesso dos que se mudam para o interior, não permanecendo por muito tempo. Na sua perspetiva, a qualidade de vida no interior é muito melhor mas “o desafio social é muito grande”. Quem para lá se muda vem com ideias novas e o desenvolvimento de uma região tem de ser feito com a comunidade local “mas não por iniciativa deles mas pela energia nova que é introduzida no território”.

O responsável frisa que Portugal está no “top of the mind” da escolha das pessoas para férias. No entanto, para os turistas, Portugal ainda é apenas Lisboa, Algarve, Douro e Madeira. “É mau porque resulta no ‘overtourism’ mas também é bom porque as pessoas estão permeáveis.” Quem vier para Portugal logo, quando aqui chega, sendo confrontado com boas propostas para outras regiões, aventura-se.

Boom Festival

O Boom Festival é já um case study de sucesso no que respeita a um projeto turístico e artístico no interior de Portugal. O evento foi criado em 1997, perto de Setúbal, mas decidiu “migrar” para Idanha-a-Nova — o 2.º maior concelho do país e também a 2.ª área mais desertificada — por ter “na sua génese e no seu DNA, desde o início a sustentabilidade. Gostaríamos de ir para um sítio onde fizéssemos, efetivamente, a diferença”, explica Alfredo Vasconcelos, responsável do Boom. Luís Couto acrescenta que “um Boom Festival tem mais peso na região de Idanha-a-Nova do que o Web Summit em Lisboa”.

O Festival acontece de dois em dois anos, durante nove dias, e recebe em cada edição cerca de 48.000 pessoas de 154 nacionalidades diferentes (apenas 9% são portugueses). Mas “trabalhar hoje no interior tem os seus custos e dificuldades”, garante o responsável, estimando-se que custe 33% mais realizar o evento em Idanha-a-Nova do que em Lisboa, por exemplo.

Alfredo Vasconcelos alerta que: “Estamos a consumir demais, fazemos tudo demais. Está na altura de abrandar, nós não podemos continuar a consumir desta forma”, ameaçando o planeta. E foi assim que o Boom Festival decidiu reduzir a sua capacidade para os 38.000 visitantes. Além disso, no que respeita aos bilhetes, o evento mantém quotas por continentes, de forma a manter a diversidade, e diferentes preços consoante o nível de desenvolvimento dos países.

O responsável assegura que “o turismo em Portugal só pode ter um caminho e é o caminho da sustentabilidade”. Todos temos de estar conscientes para a preservação do interior, uma “preservação ambiental socialmente sustentável”, termina.