Licínio Cunha defende “preparação de um plano de recuperação e de reorientação” do turismo em vigor já em 2021

Secretário de Estado do Turismo em quatro governos constitucionais, entre os anos de 1978 a 1979 e de 1983 a 1991, Licínio Cunha foi um dos oradores convidados no webinar “Covid-19 e Turismo: e daqui em diante?”, em conjunto com anteriores SET, um evento promovido esta terça-feira pela Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE).

O turismo vive hoje um “momento único” marcado por uma crise “profunda” e “avassaladora: nunca antes o turismo” passou por tal, diz o antigo dirigente político, ressaltando que, “pela primeira vez, a crise de turismo é causa da crise da economia ou do seu agravamento, em particular nos países como Portugal que dele depende fortemente”. E o que provocou esta crise situa-se num “domínio inesperado e desconhecido”, considera o responsável, sublinhando que a “importância do turismo passou a ser reconhecida em todo o mundo”, afastando as dúvidas que ainda se colocavam a esse respeito.

Neste quadro marcado pelas incertezas, Licínio Cunha recorda que o turismo teve um “papel importante” na recuperação das crises económicas e financeiras no passado: através dos seus “meios”, foi capaz de superá-las num “curto prazo”. Hoje, é o setor que demorará mais tempo a recuperar, precisando de ser “suportado por medidas de carácter sanitário e políticas económicas e sociais” por tempo indeterminado. Segundo o ex-governante, ainda são “muito poucos os países a controlar a pandemia” e uma “segunda vaga” é uma questão que se coloca e à qual ainda ninguém consegue responder.

Sem qualquer previsão sobre a procura turística, o responsável recorre à estimativa da OCDE que prevê “perdas de rendimentos” de cinco anos nos principais países até ao final de 2021, acrescentando que, sendo esta uma “doença desconhecida” e controlada pela “eliminação da deslocação” de pessoas, “não se conhece nenhum modelo de previsão da procura turística” capaz de responder a esta condição “indispensável” ao turismo.

Sobre o futuro, Licínio Cunha acredita que “as pessoas vão começar a viajar” para “destinos mais próximos” mas, sobretudo, para lugares que “oferecem segurança e credibilidade”, “dois fatores críticos” do sucesso nos próximos anos.

“Salvar as empresas e empregos, manter as infraestruturas dos destinos e das estruturas complementares da oferta turística” são questões que o ex-governante considera fundamentais: estão em causa “equipamento, valores intangíveis, relações estabelecidas, conhecimentos adquiridos e eixos de comunicação” que demoraram muito tempo a ser consolidados. Estes pontos de interrogação e outras questões estruturantes ao turismo levam Licínio Cunha a considerar fulcral a “definição de uma estratégia de médio e longo prazo que garanta a recuperação da procura”, possibilitando a “afirmação do paradigma do desenvolvimento humano sustentável”.

Daquelas que poderão ser uma das soluções, seria “aconselhável a preparação de um plano de recuperação e de reorientação” do turismo com um “horizonte temporal de 2030 e a vigorar a partir de janeiro de 2021”, subdividido em dois planos. O antigo secretário de Estado explica que o primeiro, com uma duração de dois a três anos, teria como objetivos a “reestruturação das empresas, generalização de implementação de sistemas de controlo de doenças contagiosas, recuperação da procura turística, aceleração da digitalização e a promoção de projetos inovadores em detrimento do crescimento da oferta em zonas costeiras”. Já os objetivos do segundo centra-se-iam na “promoção de produtos de valor acrescentado, melhor aproveitamento do turismo para uma melhor diversificação da economia, fortalecimento da competitividade das empresas e destinos e da adaptação às previstas transformações tecnológicas”.

Mas qualquer que seja o plano definido, há condições que merecem ser observadas, a começar pela “estratégia de desenvolvimento da economia nacional”, que terá de “integrar o turismo a fim de promover o desenvolvimento das atividades que ele dinamiza e fortalece”, implicando que “cada área de governação passe a incluir o aproveitamento do turismo nas políticas que desenvolve nas respetivas áreas”. Outra condição foca-se em “garantir a racionalidade e o rigor na utilização das verbas comunitárias”, eliminando assim as “insuficiências e os erros do passado”. Há ainda uma terceira condição que passa por garantir que “todos os programas criados sejam monitorizados e avaliados em permanência”. Recuperar o turismo e garantir que seja o “motor de desenvolvimento”, criando a “aceitação generalizada” e que “evite a turismofobilia”, é um desafio que Licínio Cunha considera como uma oportunidade.

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