Mais de 40% das unidades de alojamento rural vão encerrar

A Associação de Hotéis Rurais de Portugal (AHRP), reunida em Assembleia Geral no dia 22 de dezembro de 2020, analisou, de entre outros assuntos, a situação que o setor do turismo, no segmento Turismo Rural, atravessa no atual momento, em consequência da pandemia Covid-19, tendo sido retiradas as seguintes conclusões:

1 – No mês de novembro, a AHRP realizou, junto dos seus associados, um inquérito para aferir da situação em que se encontravam ao momento em várias vertentes de gestão, tendo sido obtidos os seguintes resultados:

– A vossa unidade de alojamento já encerrou ou irá encerrar durante a época baixa? Cerca de 40% das unidades de Turismo em Espaço Rural ou já encerraram ou irão encerrar;

– Prevê a redução de postos de trabalho na unidade? Mais de 65% destas unidades deverá reduzir o número de funcionários;

– Qual a taxa de ocupação no ano de 2019? Cerca de 61% das unidades de turismo em espaço rural tiveram em 2019, uma taxa de ocupação superior a 40%;

– Qual a previsão da taxa de ocupação para o ano de 2020? Cerca de 79% das unidades de turismo em espaço rural preveem para 2020, uma taxa de ocupação inferior a 40%;

– Qual a previsão de quebras de receita para o ano de 2020? Cerca de 56% das unidades de turismo em espaço rural preveem para 2020, uma quebra de receita superior a 40%.

De salientar ainda que a maioria dos inquiridos referem uma quebra de valores de receitas para um recuo de cinco anos, considerando as receitas de 2020 equivalentes às receitas de 2015.

Quando questionados sobre os apoios disponibilizados pela Estado todos os respondentes foram unanimes em declarar a sua insuficiência, face ao contexto que é sentido e face às limitações que têm sido impostas para conter a proliferação infeciosa. Face à celeridade/morosidade nos processos de apoio ao setor, há um consenso generalizado quanto ao empenho e celeridade nos processos diretamente dependentes do Turismo de Portugal.

Em face do atrás exposto, e da manutenção dos sucessivos estados de emergência, resultantes dos aumentos de infeção por Covid-19, as empresas do setor encontram-se numa situação extremamente debilitada financeiramente, e impedidas de trabalhar em face das sucessivas restrições à circulação de pessoas e a impossibilidade de funcionar em períodos tradicionalmente de maior procura.

O mês de dezembro, foi, desde sempre, pela natureza da época que representa, um mês de faturação excelente para o setor do turismo, seja através das festas/jantares de natal das empresas, seja através dos encontros de famílias no natal, ou seja através das festas de fim de ano. O mês de dezembro de 2020 foi completamente o oposto, assumindo-se como um dos piores períodos de receitas do setor.

O trimestre que se segue, se em tempos normais era tradicionalmente de baixa faturação, adivinha-se altamente preocupante tendo em conta a situação pandémica no país, que não augura bons indicadores no sentido de dar liberdade aos cidadãos para poderem viajar e sair de suas casas em segurança. A acrescer a esta situação existe ainda a perda de rendimentos de milhares de famílias, resultante da perda de empregos. Por outro lado, a retoma dos fluxos turísticos internacionais não são previsivelmente visíveis no primeiro semestre de 2021.

Todos estes fatores conjugados, levam a concluir que estamos perante uma situação pior do que aquela que enfrentamos no início da pandemia em 2020, porque o setor tinha tido um ano de 2019 excelente, e as empresas estavam económica e financeiramente saudáveis, o que não é o caso atual, dadas as gigantescas quebras de receitas verificadas durante o ano de 2020.

Propostas da AHRP

– A reedição dos programas de apoio à tesouraria, para as micro e pequenas empresas do setor, com uma componente de subsídio, de forma a ajudar as empresas a ultrapassar a difícil situação em que se encontram, e com a condição de manutenção do número de postos de trabalho:

  • Microempresas, 750€ por trabalhador x 6 meses com limite de 25.000€
  • Pequenas empresas, 750€ por trabalhador x 6 meses com o limite de 50.000€

– Abertura de uma linha de apoio direta do Turismo de Portugal, reembolsável, sem juros e com um período de quatro anos incluindo um ano de carência:

  • Microempresas até ao limite de 25.000€
  • Pequenas empresas até ao limite de 50.000€

– Alargamento da Medida “APOIAR Restauração” às unidades de alojamento com restaurante aberto, que possuam CAE elegível, nomeadamente os CAE 55202, 55111 e 55119, que se viram excluídos dos apoios disponibilizados no âmbito do “APOIAR Restauração”.

A Associação apelou ao apoio do Turismo de Portugal para que, junto da Secretaria de Estado e do Governo, possam encontrar medidas que efetivamente apoiem as empresas do Turismo em Espaço Rural e impeçam a morte anunciada deste setor que tanto contribuiu para o crescimento económico do país nos últimos anos, tendo em conta que a maioria das PME’s que atuam no setor do alojamento em Espaço Rural estão situadas em regiões desfavorecidas, com fracas infraestruturas e atividade turística, sendo estas o ponto dinamizador da economia local,
conseguindo o efeito de potenciar a pernoita a turistas nacionais ou estrangeiros. Esta condição gera a que se desenvolva uma pequena ou média estrutura de abastecimento direto de produtos e de serviços, cria emprego indireto e fixação dos habitantes locais.

A unidade de alojamento é, muitas vezes, um importante polo de emprego na região. É através destas unidades que se têm desenvolvido projetos dinamizadores da região, que atrai turistas, investidores, público em geral. Temos, por isso, uma responsabilidade acrescida na sustentabilidade de regiões menos favorecidas, sendo que o impacto negativo da falência destas unidades terá, nestas regiões, um efeito dramático e multiplicador, porque se é verdade que a atividade turística tem um efeito transversal no desenvolvimento económico, o seu oposto gera o efeito negativo nas pequenas economias locais e regionais.