A economia global em 2025 pode acelerar para um crescimento de 3,2%, após um ritmo de 3,1% em 2024, de acordo com o último relatório Economic Outlook 2025 do Mastercard Economics Institute (MEI). Na Europa, a estimativa é que a trajetória económica enfrente fatores adversos decorrentes de uma política orçamental mais restritiva e da incerteza comercial, mas também ventos favoráveis decorrentes de uma política monetária mais flexível e de sólidos fundamentos para o consumo. Já as trajetórias de inflação e crescimento devem continuar a estabilizar. A economia portuguesa deverá crescer 1,4%, acima da média de 0,9% da zona euro.
os portugueses têm mostrado uma sensibilidade aos preços, sobretudo no setor do turismo, com a componente de gastos com viagens “cá dentro”, em relação a viagens para o exterior
O relatório revela que os portugueses têm mostrado uma sensibilidade aos preços, sobretudo no setor do turismo, com a componente de gastos com viagens “cá dentro”, em relação a viagens para o exterior, a crescer 4,6 p.p. no terceiro trimestre de 2024, por comparação com o período homólogo, indicando que os portugueses viajaram menos para o estrangeiro nos meses de verão. Já no setor da restauração, o crescimento de gastos nas opções económicas de alimentação e de fast food foi de 0,2 pp nesse período, por comparação com 2023, uma mudança menos pronunciada do que em outros países europeus. Por outro lado, a sensibilidade aos preços começa a desanuviar na moda, com os gastos em moda premium a aumentaram 1,5 pontos percentuais, por comparação com os produtos “budget ou low cost”.
Segundo o estudo, os consumidores europeus continuam a estar atentos aos preços e estão a optar por produtos e serviços mais económicos do que os de gama alta, um comportamento que deverá inverter-se com a melhoria do poder de compra. A restauração, a moda ou as viagens são precisamente alguns dos setores que oferecem um vasto leque de opções de preços que permitem perceber as principais tendências de consumo.
O facto de, em Portugal, a sensibilidade aos preços no consumidor estar a começar a desvanecer-se, reflete os fundamentos de um consumo mais forte, resultado de um maior crescimento económico em comparação com outros países europeu.
Aceleração moderada do crescimento na Europa
Na Europa, o crescimento será ligeiro em 2025, apoiado pela descida das taxas de juro, mas prejudicado por uma política orçamental mais restritiva, fruto da reintrodução das regras orçamentais pela EU, pela incerteza na política comercial. Em Portugal estima-se que o PIB real cresça 1,4%, abaixo de Espanha (1,9%) e acima de países como o Reino Unido (1,2%), França (0,8%), Itália (0,7%) e Alemanha (0,6%). Nos países nórdicos, o crescimento deverá aumentar de 1,3% para 1,7% e na Europa Central e de Leste de 1,8% para 3,0%.Por sua vez, a inflação na maioria dos países europeus deverá aproximar-se da meta do BCE.
Os consumidores europeus continuam resilientes. Prevê-se que as taxas de desemprego permaneçam historicamente baixas na Europa, ainda que ligeiramente mais elevadas. O crescimento do rendimento disponível real – a diferença entre os aumentos salariais e a inflação –, permanecerá positivo, assegurando a continuação da recuperação do poder de compra dos consumidores. Em Portugal, prevê-se que a taxa média de inflação se situe nos 1,8%, abaixo de Espanha (2%) e do Reino Unido (2,6%). Já os gastos de consumo reais devem crescer 1,9% em Portugal, acima de outros países europeus como o Reino Unido (1,3%), França (0,8%), Alemanha (0,6%) e Itália (1,1%). Simultaneamente, as taxas de juro mais baixas aliviarão o aperto das famílias com hipotecas com taxas variáveis. Já nos países nórdicos, onde predominam as hipotecas a taxa variável, prevê-se que as taxas de juro mais baixas possam revitalizar os mercados imobiliários e o consumo das famílias. As taxas de juro mais baixas também deverão desincentivar as taxas de poupança das famílias, atualmente elevadas.
Um dos exemplos é Dublin, que está a testemunhar um maior crescimento das transações hoteleiras por comparação com Londres, enquanto Copenhaga está a ultrapassar Amesterdão.
As alternativas turísticas mais económicas estão a ganhar popularidade na Europa. No setor das viagens, observa-se uma preocupação dos viajantes europeus com os preços, levando-os a efetuarem a seleção por “destino” – ou seja, alternativas mais baratas ou com menos turistas. Um dos exemplos é Dublin, que está a testemunhar um maior crescimento das transações hoteleiras por comparação com Londres, enquanto Copenhaga está a ultrapassar Amesterdão. Da mesma forma, Estocolmo, a “Veneza do Norte”, está a ganhar força sobre Veneza e Sevilha oferece uma alternativa atraente a Madrid. Já nas viagens intrarregionais, particularmente dentro da Europa, as despesas hoteleiras transfronteiriças continuam a dominar.
Um foco contínuo nas experiências, com os gastos a subirem. A tendência de gastos com experiências e “grandes momentos” mantém-se robusta. No entanto, espera-se que a queda das taxas de juros amplie os gastos, impulsionando as compras de bens de maior dimensão, como eletrónica, móveis e eletrodomésticos. Além disso, os consumidores europeus continuam a procurar valor e a manter-se atentos, por um lado à maior escolha no sector retalhista proporcionada pela inovação e pela digitalização e por outro, à maior eficiência operacional das empresas.
A ascensão da SHEeconomy
O mercado de trabalho global, incluindo a Europa, está a assistir a um ressurgimento notável de mulheres que estão a ser reintegradas na força de trabalho, um fenómeno conhecido por “SHEeconomy”. Quase todas as economias europeias registaram aumentos significativos nas taxas de participação das mulheres na força de trabalho, impulsionadas por regimes de trabalho mais flexíveis, maior criação de emprego em setores como a saúde e a educação, e um ponto de partida que permite mais espaço para crescimento. Portugal é também um dos países que segue esta tendência com o crescimento da participação das mulheres na força de trabalho de 1,66pp (versus 1,3pp nos homens) em 2023, por comparação com 2019, acima de Espanha (1,43%) e muito abaixo da Irlanda (4,72%).
Natalia Lechmanova, economista-chefe para a Europa do Mastercard Economics Institute, explica que “o crescimento económico da Europa deve acelerar moderadamente em 2025, apoiado pela descida das taxas de juro, mas permanecerá ligeiro, dadas as expectativas de uma política orçamental mais restritiva e incerteza comercial global. Os consumidores continuarão a ser o ponto positivo, sustentado por fortes fundamentos de consumo e pela recuperação em curso do poder de compra. Mesmo que a sensibilidade ao preço seja moderada, os consumidores vão provavelmente continuar a apreciar o valor, quando escolhem experiências enriquecedoras ou coisas novas.”
Maria Antónia Saldanha, Country Manager da Mastercard Portugal, acrescenta que “apesar dos desafios resultantes de políticas orçamentais restritivas e incertezas comerciais na Europa, Portugal poderá destacar-se, uma vez que as previsões de crescimento refletem um cenário resiliente no consumo e no mercado de trabalho. O relatório mostra que os portugueses estão sensíveis ao preço, ao darem prioridade, em alguns casos, a produtos e serviços mais económicos, em vez de opções premium, uma tendência que poderá diminuir gradualmente com o aumento do poder de compra. Já o fenómeno SHEeconomy, também seguido em Portugal, reflete avanços estruturais significativos, graças a regimes de trabalho mais flexíveis, uma maior criação de emprego e um movimento de inclusão que não só promove a igualdade de género, mas também potencia a construção de uma economia mais justa.”