Miguel Frasquilho: “A TAP vai mesmo ter de mudar os hábitos de apresentar resultados negativos”

Haverá retoma sem transporte aéreo?“, eis a pergunta feita pela consultora BDC – Empower to Lead e o Jornal Económico, ontem, a alguns dos principais players da indústria da aviação. Uma conversa franca acerca do “presente e futuro do setor” não poderia deixar de fora a TAP e o seu plano de reestruturação. Muito se discute o apoio estatal atribuído à companhia mas o seu charmain, Miguel Frasquilho, realça que “a alternativa seria sempre muito pior para Portugal.

O charmain da TAP afirma que “não podemos mudar o passado mas podemos influenciar, com as novas decisões e aquilo que projetamos, o futuro”. Convém “não ignorar o que estamos a passar hoje” com o setor do transporte aéreo “desde o início na linha da frente dos impactos” negativos da pandemia. Miguel Frasquilho sublinha que “a procura praticamente desapareceu” com a companhia de bandeira nacional a registar apenas 30% da procura de 2019.

Tornou-se então necessário “socorrer de auxílio financeiro dos Estados em que as companhias estão sediadas” sendo que a TAP não foi caso único neste âmbito. O charmain dá conta de que contabilizam-se já cerca de 150 mil milhões de euros de apoios estatais, a nível global, para a indústria da aviação – revestidos sob a forma de empréstimos diretos, apoios não reembolsáveis à manutenção dos postos de trabalho, garantias públicas para financiamento no mercado, injeções de capital diretas etc.

Miguel Frasquilho comenta que a TAP está a “desenhar um plano de reestruturação” até mais “conservador” do que as perspetivas da IATA que apontam para uma retoma “bastante lenta” de 50% dos níveis de 2019 durante o próximo ano. A transportadora nacional prevê, para 2021, uma procura “mais de 50% inferior a 2019” e alcançar tais valores só no “fim do horizonte do plano de reestruturação em 2025”.

“A TAP vai mesmo ter de mudar os hábitos de apresentar resultados negativos”

A frota foi “ajustada” para 88 aeronaves de passageiros e foi também necessário “ajustar custos incluindo, infelizmente, custos laborais”, indica o responsável. Mas a reestruturação é “absolutamente necessária porque assegura a sobrevivência e a sustentabilidade da TAP”, confia. É que a companhia “vai mesmo ter de mudar os hábitos de apresentar resultados negativos como aconteceu na esmagadora maioria do seu passado”.

O chairman refere que a TAP “continua a ser muito importante, a que mais transporta visitantes para Portugal” além do setor ser “absolutamente essencial à retoma” pois “se o transporte aéreo não estiver disponível quando a procura regressar, a retoma será seriamente recondicionada”.

Miguel Frasquilho vai mais longe e garante que “este investimento que o Estado português está a conceder à TAP é justificado porque é muitíssimo inferior ao que se perderia se a TAP fosse deixada cair e não fosse apoiada”, pelo que qualquer alternativa “seria sempre muito pior para Portugal”. Por exemplo, em termos de emprego, a TAP foi responsável por nove mil empregos diretos em 2019 e, apesar do plano de reestruturação apontar para um “excesso de dois mil trabalhadores”, se a companhia não fosse ajudada perder-se-iam muitos mais.

Assim, o charmain acredita que “é isto que os portugueses também querem” e agradece-lhes pois “é com o auxílio do Estado português que a TAP está a sobreviver e vai trabalhar para ultrapassar este período da pandemia e continuar ao serviço do nosso país”.