A Ambitur.pt volta a oferecer-lhe esta rubrica inteiramente dedicada à Rota Vicentina com o intuito de convidar os nossos leitores a embarcarem numa viagem pelo Sudoeste e a conhecerem de perto o que é possível ver e viver nesta região. E quem melhor do que os empresários locais para mostrarem o que a Rota Vicentina tem de melhor? Conversamos hoje com Sara Magalhães, bióloga marinha e diretora geral da Mar Ilimitado.
Como se descreve, na primeira pessoa?
Não sei viver longe do mar. Sou independente, sonhadora, determinada, trabalhadora, e tenho um grande sentido de ética. Faço uma gestão intuitiva e pouco comercial.
Que tipo de atividade desenvolve?
O nosso projeto promove viagens de barco, principalmente para observação de fauna marinha, que são utilizadas como plataforma de oportunidade para aumentar o conhecimento científico sobre as espécies de cetáceos na região (baleias, golfinhos e botos), entre outras. Paralelamente fazemos investigação científica.
Como surgiu o interesse em explorar este negócio? O que esta região tem de tão especial?
Este negócio partiu da vontade de continuarmos ligados à investigação científica de cetáceos, mas de uma forma independente, após uma carreia na Universidade dos Açores, região onde vivemos alguns anos. Sagres foi eleita na altura (2005), pelas suas características de beleza natural e estado selvagem, com um acesso ao mar intrigante (aqui estamos rodeados em 270 graus, pelo oceano). Por outro lado, ainda não se sabia praticamente nada sobre a ocorrência de cetáceos na região, fator que nos aguçou o espírito de biólogos e a vontade de conhecer e compreender a biodiversidade aqui existente. Foi uma boa surpresa. No início tínhamos que mostrar fotografias das espécies encontradas (golfinhos, baleias, etc) para as pessoas acreditarem que os encontrávamos!
Como contribui a Rota Vicentina para o desenvolvimento turístico da região?
A Rota veio contribuir para a estruturação e projeção do turismo de natureza na região, nomeadamente os percursos pedestres e de bicicleta, e ao mesmo tempo estimular o sentimento de identidade, pertença e a interação entre os parceiros da Rota.
O que há de diferente na atividade de acolhimento/prestação de serviços aos turistas?
Gostamos de pensar que trabalhamos na área do conhecimento e não do puro lazer. Somos pouco comerciais, já que a gestão e a operacionalidade da empresa são conduzidas por biólogos marinhos. Há uma maior vocação e foco na produção de conhecimento e contribuição para conservação do oceano, e isso transparece em tudo o que fazemos. A grande maioria dos turistas que nos visitam trazem sede de conhecimento. Tentamos dar tempo e espaço para corresponder a essa vontade de aprender. Na vertente educativa, recebemos estudantes que nos procuram para ganhar experiência e ampliação de conhecimento.
Qual a experiência que pretendem proporcionar aos vossos clientes? Que serviços vos distinguem?
Queremos proporcionar uma experiência que desperte paixão, reflexão e respeito pelo mar aos turistas. Não diria que são os nossos serviços que nos distinguem, mas a forma como os abordamos e o valor que deles retiramos: as nossas viagens de observação de fauna marinha têm permitido monitorizar continuamente as populações de cetáceos que aqui ocorrem e de contribuir para um melhor conhecimento da biodiversidade de Sagres, que de outra forma não estaria disponível nas duas últimas duas décadas. Queremos partilhar conhecimento. E queremos ser sentinelas do oceano, estar atentos (incluindo ao nosso próprio impacto).
De que forma se relaciona a atividade/produto/serviço com a região?
Através do oceano, do sentimento de descoberta, do contacto profundo com a natureza em estado selvagem e em particular com o oceano e o seu constante debate com a terra.
Da vossa oferta, se tivesse que eleger uma atividade/produto qual seria o que melhor reflete a identidade da região?
Cada uma das nossas viagens de barco permite contactar com diferentes espécies ou características da região, sejam elas oceanográficas, climáticas ou geológicas. A observação de cetáceos no seu estado selvagem é talvez a experiência eleita, pois a abundância e diversidade de espécies corrobora essa ideia selvagem que temos desta costa. Mas um passeio pela costa oeste (ou o regresso junto à costa depois de um passeio de golfinhos) é profundamente inspirador e dá-nos o outro olhar sobre este território enigmático, em fusão com o mar, e uma visão redentora de um território com ainda relativa pouca construção humana, especialmente no contexto do Algarve.