“Não está a haver menor promoção”

Numa altura em que o Turismo “dá cartas” na economia do país, Ambitur lançou o desafio a Manuel Caldeira Cabral e o Ministro da Economia aceitou-o. O governante partilha a sua visão sobre a importância do Turismo a nível nacional, a sua vitalidade e o que está a ser feito para que continue a crescer, de forma sustentada.

A articulação com outros ministérios é diferente hoje no que diz respeito a programas que se queiram desenvolver no campo turístico…
Nos Transportes a captação de rotas aéreas tem sido muito trabalhada com o Ministério do Planeamento. O REVIVE foi um bom exemplo de cooperação entre a Cultura e o Turismo – uma cooperação que vai permitir, de forma sustentável, recuperar e manter património histórico que estava ao abandono. Vai permitir ter uma oferta turística diferenciada que valoriza o património histórico, que sabemos que é uma oferta extremamente procurada. Muito do REVIVE está espalhado pelo país, sendo o património um foco de chamamento dos turistas. O interesse que temos tido de investidores estrangeiros nestes espaços diferenciados e únicos é também muito importante.
Com o Ministério do Ambiente estamos a dialogar para reforçar o turismo nos Parques Naturais. Vamos fazer aí um projeto muito interessante, com algum paralelo com o REVIVE. Tem havido um diálogo muito bom com a estrutura do Governo em geral.

A evolução das verbas para a promoção do país não corresponde à evolução dos resultados da atividade. Considera que o atual valor é o justificável?
A evolução das verbas para a promoção turística do país tem sido a que é possível. Temos continuado a investir na promoção do país. Temos tentado investir de forma mais seletiva, fazendo em algumas áreas mais com menos dinheiro, e temos feito em outras áreas um trabalho muito intenso de procura direta dos promotores, que tem tido resultados muito interessantes. Não está a haver menor promoção. A visibilidade do turismo português está a aumentar e isso é um esforço que vamos continuar a fazer pois está a trazer resultados turísticos, como se vê.

Devido ao crescimento da oferta, a falta de mão-de-obra começa a preocupar o setor.
Esse é um assunto que hoje preocupa o setor e o Governo. É um assunto ao qual o Governo começou a dar resposta há quase um ano, com as orientações que demos ao Turismo de Portugal na área da formação. Ao mesmo tempo estamos a trabalhar com os Politécnicos para apoiar cursos, para se coordenar melhor a oferta destes na área do turismo. Se o setor está a crescer é preciso apostar mais na formação para que continue a crescer com qualidade. A diminuição da sazonalidade continuará a ter um efeito muito importante na qualidade da mão-de-obra no turismo, porque ao permitir que as pessoas tenham emprego durante todo o ano, vai dar-se um incentivo maior a que os próprios empresários apostem sistematicamente nos colaboradores. O facto de estarmos a crescer mais na época baixa e a maior estabilização do emprego em 2016 permite que, na formação ao nível da experiência de trabalho, as pessoas vão aprendendo e melhorando a sua qualidade. Tem que se apostar em formar as pessoas para que possam servir melhor, garantir que o turismo continue a evoluir no sentido da qualidade, mas ao mesmo tempo que a formação e aumento da qualidade, do preço e do RevPar determinem que os salários e a remuneração também possam subir. Se tivermos trabalhadores mais produtivos e com mais qualidade não há nenhum problema em serem melhor pagos porque o rendimento que geram também é mais elevado.

O que nos pode adiantar sobre o ET27?
A Estratégia de Turismo até 2027 tem muito do que falámos aqui. A ideia da sustentabilidade social, económica, social e ambiental como um fator muito forte. A ideia da inovação como um eixo estratégico muito importante. A ideia de que, dentro da sustentabilidade, é importante que o crescimento do turismo se reflita mais por todo o território. Num crescimento com qualidade, em número de turistas e em valor, mais forte. A ideia da redução da sazonalidade, mas com uma aposta na qualidade e na manutenção dos postos de trabalho, na qualificação e valorização dos colaboradores.
Como metas, queremos chegar aos 80 milhões de dormidas e aos 26 mil milhões de euros de receitas. Queremos continuar a crescer, mas com qualidade e não apenas em números. Portugal tem condições fantásticas para ter turismo ao longo de todo o ano.

Que desafio quer deixar aos empresários turísticos?
O desafio é que respondam a esta estratégia. A verdade é que, como esta foi muito desenhada também por eles, é o desafio de responderem à sua própria ambição. O importante é que os empresários continuem a fazer o que fizeram nos últimos 10 anos, que foi responder com mais qualidade, uma oferta diferente, olhando cada vez mais para a experiência do turista de forma integrada. A valorização desta experiência é um desafio grande para todo o setor. Mas é um desafio que, olhando para os últimos 10 anos, os profissionais do setor têm sabido responder. Se há coisa de que nos podemos orgulhar é da resposta que o turismo português deu e a forma como, com um envolvimento bastante grande da sociedade portuguesa, somos hoje um país de referência no acolhimento a nível mundial. O papel do Estado, que é o que se reflete nesta estratégia, é também pôr todas estas ambições a trabalhar em conjunto e bem. Há espaço para melhorar e por isso desafiamos todo o setor a responder, com uma estratégia a médio e longo prazo, e não, apenas, com uma estratégia de navegação à vista, porque só assim podemos garantir que há um crescimento sustentado ao longo de uma década e que isto não é apenas uma moda.

Esta é a 3ª e última parte da Grande Entrevista publicada na Edição 300 da Ambitur.

Leia aqui a 1ª Parte e a 2ª Parte desta Grande Entrevista.