“Não sou defensor de mais intervenção do Estado”

Numa extensa entrevista a Ambitur, o administrador da Vila Galé Hotéis, Gonçalo Rebelo de Almeida, deu a conhecer o pensamento que tem para a empresa relativamente ao futuro, assim como o que marca a filosofia e características do grupo(Ver Edição 262 da Ambitur). Em outra vertente,que aqui publicamos, o responsável aborda o associativismo hoteleiro em Portugal e a vertente política, onde considera que “quando o SET diz que quer deixar de ter intervenção, eu quero que continue a haver uma intervenção e um acompanhamento dado ao turismo dentro do Ministério da Economia e que olhe para o turismo com seriedade”, apesar se não ser defensor de mais intervenção do Estado.
A política interessa-lhe?

Interessa-me cada vez mais, estranhamente, apesar de alguma desilusão, não sei se por força destas circunstâncias todas em Portugal.O queé facto é que me vejo constantemente a acompanhar debates políticos edeclarações políticas. Quanto a envolver-me na política, não. Gosto de ser umobservador e de estar informado, gosto da política, mas não me vejo envolvido.Porque são estilos diferentes. Para quem está a trabalhar há 15/20 anos e quetem uma determinada forma de trabalho em que o que interessa é ser eficienteepôr coisas em prática e definir medidas concretas, o que assisto napolíticasãodiscursos muito generalistas. Têm pouco conteúdo. E isto édifícil deconjugarpara quem está habituado no dia-a-dia quando é precisoresolver algumproblemaligo e digo amanhã faz assim. Na política o discurso é demasiado vago para compatibilizar com esta minha ânsia de querer coisas feitas para amanhã. Nãotenho nada contra o discursopolítico.Acho que depois detantos anos detrabalho numa empresa eradifícilhabituar-me a gerirdeterminados compromissos.E também pelo estilo de gestão que temos, muito próximo das pessoas, as decisões tomam-se ao telefone, não há burocracias nenhumas, temos uma empresa muito ágil.
Onde deve parar a intervenção política e iniciar-se o campo de acção dos privados?

A linha não é muito fácil de traçar. Acho que aintervençãodo Estado ou do organismo de tutela no sector do turismo se deviapreocupar,por um lado, só em minimizar em termos de legislação e procedimentos,tudo oque é custos de contexto, de agilizar os processos das empresas, seja emtermosde licenciamentos, seja em termos depois operacionais. Aqui tem de ser o Estado, que é o regulador, portanto deve manter alguma regulação mas não excessiva de modo a não complicar. E não intervir naquilo que já é acomponentedo negócio hoteleiro. Eu tenho muitas dúvidas que o Estado tenha que intervir a dizer qual é o tamanho dos quartos, ou se os quartos têm que ter isto ou aquilo,o Estado já não devia chegar a este limite,porque este limite é o mercado e são os operadores que o vão ditar. Se eu sentir que os clientes que tipicamente eram de 4* estão dispostos a abdicar de um quarto de 16m2 e que se contentam com um quarto de 12m2, e se o mercado procura um quarto de 12m2, não tem que ser o Estado que me impede de criar um produto diferente para ter um quarto de 4* com bom serviço de 12m2. OEstado nãotem aagilidadeparaestaraacompanhar astendências dosconsumidores.Paraquemestá nomercadoeu seioquetenho de darparavender quartos.Portanto euacho queaqui temquehavermenos legislação.
Por outro lado, em termos de investimento público,tipicamente tem de ser só a nível macro da promoção do destino Portugal. Penso que não deveriam entrar a nível micro de determinadas acções ou workshops. A intervenção do Estado devia-se limitar a fazer uma campanha de promoção genérica de destino, e deixar aos privados ou aos privados em associações público-privadas, que pode ser um modelo também interessante, actuarem nesse capítulo. Portanto, não sou defensor de mais intervenção do Estado, acho que o Estado deve intervir nos níveis que são transversais a todo o destino, e intervir no nível em que os privados, individualmente ou em associação, não conseguem intervir. Porque depois a certa altura começa a colidir com os negócios particulares.
Penso que os movimentos associativos que deveriam ser melhor trabalhados em Portugal. Continuo a achar que temos muita dificuldade em trabalhar em associação.
A nível associativo o que está mal e o que está bem? Gostava de ter um papel maisactivo?

Eu só me envolverei no dia em que houver um projecto de fazer uma única associação hoteleira. E como nenhum dos candidatos adiferentesassociações de hotelaria tem esse projecto de fazer uma fusão dasdiferentesassociações de hotelaria, não me vou envolver. Eu estou disponívelparaparticipar num projecto que envolva a fusão da AHP, AHETA e APHOR, emqueseconsiga dar força, quer política, quer institucional, quereventualmenteatédepoder pôr em campo algumas acções concretas, não fazsentido nenhumpara adimensão do país que temos estar a trabalhar comdiferentesassociaçõesem quecada uma anda com guerras contra a outra. Nasubstâncianão há nada derigorosamente diferente. Por isso não consigo encontrar uma linha da AHETA que me diga que é completamente diferente de uma linha da AHP.
Acredita que será possível um dia?

Tenho esperança que sim. Espero que haja algumas tentativas de aproximação, já têm sido feitas por algumas pessoas mas ainda sem sucesso. Em determinada altura é impossível acompanhar os movimentos das diferentes associações, posso ter tempo para acompanhar uma.

Quais os temas que devem constar da agenda política a nível de turismo?

Tem de haver algum esforço de promoção do Estado? Não pode haver para um sector tão importante para aeconomiaportuguesa desinvestimento do Estado. Quando o Estado investe na promoção do destino ele tem um retorno, os turistas vêm, deixam cá impostos,dinheiro. É indiscutível o retorno do investimento que se faz em promoção turística. E tem que agilizar alguns destes processos burocráticos de licenciamentos, de intervenção legislativa excessiva.
Tendo um secretário de Estado liberal podemos estar descansados quanto à desregulamentação?

Quero acreditar que sim, é um dos bons aspectos.Quando o SET diz que quer deixar de ter intervenção, eu quero quecontinue ahaver uma intervenção e um acompanhamento dado ao turismo dentrodoMinistérioda Economia e que olhe para o turismo com seriedade. Apesar doturismo dentrodos sectores económicos ser aquele que melhor se safasozinho,também é dossectores que pode produzir muito mais.