No Verride Palácio Santa Catarina “trabalha-se para o futuro” com a certeza de que “não queremos desaparecer do mercado”
Na capital portuguesa, de um palácio histórico nasceu um hotel de luxo – o Verride Palácio Santa Catarina – que procurou oferecer à cidade “algo que ela não tinha”. A sua história é recente, para a qual contribui uma equipa jovem e empenhada em traçar o futuro. Chegou a pandemia e o hotel palácio teve de se ajustar com a certeza de continuar o seu trabalho de “afirmação” no panorama hoteleiro nacional.

Foram seis anos de recuperação de um palácio histórico do século XVIII, que sobreviveu ao terramoto de Lisboa, para dar origem ao hoje reconhecido hotel Verride Palácio Santa Catarina. Abriu portas em janeiro de 2018 com a ambição de “criar beleza e algo único na cidade” de Lisboa, como nos conta o seu hotel manager João Silva. “É um far away from home [19 quartos], para que os clientes se sintam em casa”, em pleno conforto e bem estar, na “elegância” do hotel palácio.
O seu luxo e requinte acabaram por o consagrar o hotel “com a cama mais cara de Lisboa”, rondando os 3 mil euros por noite, sendo que 98% da procura no Verride vem do mercado estrangeiro. “Cerca de 70% dos Estados Unidos e Brasil”, adianta o responsável, e os seus principais mercados emissores europeus são o Reino Unido, a Alemanha e a França. “O primeiro ano correu bastante bem para ano de abertura” e “2019 foi o ano de afirmação” com uma taxa de ocupação de 65%. João Silva realça que “abriam-se perspetivas ótimas para o projeto que temos e o hotel que somos” pelo que “existiam pensamentos futuros de crescermos”, nomeadamente, para 2020 planeava-se “começar a apostar no Médio Oriente e na Ásia”.
2020 começava “perfeito” até ao 1.º confinamento
O ano de 2020 começava “perfeito” com o hotel a “bater todos os números” logo em janeiro, atenta o hotel manager, tanto que março “já estava todo vendido em fevereiro”. “Previa-se um ano excelente para nós” até que é decretada a pandemia de Covid-19 e surge o primeiro confinamento no país. O hotel encerra a 16 de março e é dos primeiros a “adquirir o selo Clean & Safe”, do Turismo de Portugal. João Silva garante que “preparámos o hotel todo” cumprindo todas as regras de segurança e higiene. A equipa do Verride Palácio Santa Catarina é “muito jovem, formada, com muita vontade de trabalhar e de aprender” pelo que muitos dos colaboradores “vivem sozinhos com contas para pagar”. Neste sentido, “a direção do hotel tomou a iniciativa de sermos dos primeiros a ir para lay off junto com a equipa”, acrescenta.
Voltar a fechar portas “com a certeza de que não queríamos desaparecer do mercado”
Após o lockdown foi “dos primeiros hotéis cinco estrelas a reabrir”, a 24 de julho, “com a vontade de seguir em frente”. O responsável reflete que “agosto e setembro não correram mal mas com um tipo de cliente diferente daquele a que estávamos habituados”, no sentido em que era “mais jovem e ficava menos tempo”. O hotel manager explica que também “não baixámos os preços pois as pessoas não viajam não é porque o preço é alto mas sim por causa da pandemia”.
Na altura, João Silva recorda que “se falava que a economia ia recuperar” mas tal não aconteceu e a incerteza acerca das quarentenas e corredores aéreos, sobretudo por parte do Reino Unido, também não ajudou à recuperação da operação hoteleira. “Tornou-se muito difícil e em setembro tivémos de decidir parar novamente” mas “com a certeza de que não queríamos desaparecer do mercado”, afirma.
O restaurante Suba manteve-se aberto “para dar algo à cidade de Lisboa”

Todavia, o Verride Palácio Santa Catarina decidiu desta vez manter o restaurante Suba aberto até ao atual confinamento. João Silva relembra que o hotel é direcionado para um “nicho de mercado de luxo e por norma não português” mas que queria, ainda assim, “criar algo que pudéssemos dar à cidade” de Lisboa e daí surge o Suba, no rooftop do hotel com “a melhor vista da capital”, com o objetivo de “desmistificar a ideia que os restaurantes de hotel são muito caros e não se come nada”. Considerado um dos “10 melhores restaurantes da cidade”, e com propostas para estrela Michelin, o Suba alcançou uma “taxa de clientes portugueses acima de 80%” fruto de menus de degustação e executivos a “preços acessíveis”.
Chegamos aos dias de hoje e o hotel manager admite que “custou-nos bastante este encerramento agora” pois “já tinhamos os nossos clientes habituais”, que se sentiam seguros na esplanada ao ar livre do restaurante e “gostavam da experiência que tinham”, da oportunidade de conhecer o hotel até chegarem ao seu último piso. No entanto, João Silva diz que “não havia uma cadência certa de clientes”, face às sucessivas alterações nas medidas do Governo, “o mercado estava muito incerto mas, felizmente, as coisas agora estavam a encaminhar-se”.
Agora trabalha-se para um futuro que talvez chegue na primavera
A perspetiva é de que o Verride Palácio Santa Catarina possa “reabrir na primavera”, contudo o responsável coloca agora a hipótese de que “não vamos poder trabalhar em abril”. Apesar de não existir nenhuma regra que dite o fecho dos hotéis, “sabemos que o turismo está em baixa e para o nosso mercado [internacional] está difícil desde março passado”. Mesmo que a reabertura possa vir a ser adiada, João Silva assegura que “acreditamos que podemos voltar e em força, não só o Verride mas Portugal”. Depois de ultrapassada esta fase atual “de uma má imagem para fora”, a nível nacional, o hotel manager acha que “podemos ser um refúgio e um bom lugar para as pessoas que nos escolham”. A recuperação do turismo pode até ser “acelerada” mas antes de 2022 será difícil retomar os números de 2019.

No Verride Palácio Santa Catarina “só trabalhamos para o futuro”, ou seja, “queremos continuar a trabalhar para ser mais e melhor porque a isso o nicho de mercado em que estamos nos obriga”, argumenta. O hotel procura reabrir com o pensamento de que “é difícil mas também se não fosse não era para nós porque somos hoteleiros”.
O que o hotel manager aprendeu com a pandemia foi que “nada é certo” na hotelaria, sublinha. “Descobrimos que crescemos de forma descontrolada”, sustenta, com a abertura prevista para 2020 de mais de 20 hotéis de cinco estrelas em Portugal. No primeiro mês de confinamento, “percebemos que toda a gente não tinha como se aguentar” num país que “cresceu sem cash flow” e com a ideia de que “dá para todos e não precisamos de ter um background seguro porque isto vai dar sempre”, avança João Silva.
No fundo, a Covid-19 mostrou que “temos de estar preparados para eventualidades e que não se criem negócios sem qualquer base”. No Verride pensa-se no futuro, de forma sustentada, e procura-se “ser únicos” pois “para sermos iguais aos outros não vale a pena”, conclui João Silva.