“O futuro passará pela construção de fortes pilares de confiança junto de decisores e participantes”

Jorge Vinha da Silva, CEO da Altice Arena, em entrevista à Ambitur, lembra que o espírito de resiliência esteve presente desde o início da pandemia. O lançamento das “Magic Meetings”, em junho, com soluções para eventos adaptadas à nova realidade, veio confirmar isso mesmo.

Como encara a Altice Arena o atual contexto? De que forma foi possível mitigar o impacto e reinventar parte do negócio?
A Altice Arena encarou esta crise sanitária e económica com a seriedade que nos deve merecer a todos. Contudo, desde o primeiro dia tentámos permanecer focados nas soluções e com o espírito que a todos nos deve nortear, um espírito de resiliência. Rapidamente avançámos para a criação de soluções para eventos adaptadas à nova realidade e assim nasceram as Magic Meetings, um modelo de eventos híbrido que garante a participação on site com lotações mais reduzidas e, em paralelo, a experiência online, tentando transpor para esta realidade o melhor do presencial.
Outro eixo importante de atuação foi garantir a implementação imediata de planos de segurança e higiene de acordo com as normas mais exigentes, de forma a garantir a saúde tanto da equipa interna como de quem nos visita.

O que é imprescindível que seja feito ao nível do Quadro Legislativo e Financiamento por parte do Governo para o vosso setor?
Acredito que o esforço para a retoma do turismo globalmente, e mais especificamente na realidade do Turismo de Negócios, se deve centrar em ações que restituam a confiança ao mercado. Essas medidas deveriam quanto a mim assentar em quatro pilares: Informação clara e objetiva das medidas a adotar nos mercados alvo, e que permita gerar confiança nos decisores e participantes, realçando os fatores diferenciadores do nosso destino, potenciando o facto de estarmos no topo em termos dos ranking da ICCA; Articulação entre entidades públicas e privadas com a criação de uma task-force orientada para a captação, junto das principais associações e agências internacionais, de congressos e reuniões; Estimular o mercado interno de eventos como forma de manter atividade nos próximos meses, essencial para a viabilidade de muitas empresas; e finalmente, medidas de apoio financeiras (com apoios diretos ao setor do Turismo a fundo perdido) e fiscais que gerem um impacto imediato e positivo nas empresas, e permitam a preservação da sua atividade e respetivos postos de trabalho.

Que perspetivas existem relativamente ao desenvolvimento do negócio nos próximos meses. Quais os maiores desafios que consideram ter pela frente?
Depois de enormes perdas reportadas globalmente pelas principais associações o futuro será necessariamente desafiante. Mas essa realidade não nos pode retirar o otimismo realista que nos deverá pautar a todos.
Com o passar dos meses, acredito que estamos a entrar numa nova fase, em que os eventos híbridos serão uma solução que permitirá alcançar outros objetivos e aproximar as duas realidades – presencial e virtual – permitindo que se caminhe progressivamente para um novo normal mais próximo daquele a que estávamos habituados.
Para além do desenho de novos modelos de eventos acredito que o futuro passará necessariamente pela construção de fortes pilares de confiança junto de decisores e participantes realçando os fatores diferenciadores do nosso destino, dos nossos venues, o que inclui a segurança sanitária em termos de toda a cadeia de valor. Só assim será possível vencer o medo e fazer a confiança crescer progressivamente. Esse é um fator chave de sucesso.

Uma das iniciativas que promoverem este ano são as “MAGIC MEETINGS By Altice Arena”. Qual o seu objetivo, em que consiste e de que forma está a ser recebida pelo mercado?
A apresentação do conceito ao mercado, que ocorreu a meio de junho, correu muito bem tendo o setor comparecido “em peso” no evento de lançamento.

As MAGIC MEETINGS juntam o melhor de dois mundos, ao aliar os benefícios da proximidade e contacto humano de uma plateia que se junta fisicamente no mesmo espaço, à experiência de participação remota de um número virtualmente infinito de participantes, graças às últimas tecnologias e qualidade de streaming. Garantimos assim um formato com total versatilidade, pois temos um modelo para a Sala Altice Arena, dos 100 aos 1.000 participantes, e outro para a Sala Tejo, até 100 pessoas, garantindo assim resposta a todas as necessidades dos nossos clientes.
Este novo produto permite ter uma plateia presencial a quem é garantida total segurança e para quem tudo é pensado ao pormenor – acessos, circulação, higienização, purificação do ar e soluções de catering. Do outro lado do ecrã, fora da Altice Arena, para quem assiste ao evento virtualmente, é oferecida toda uma experiência inovadora com recurso às mais modernas ferramentas do mundo digital como realidade aumentada, avatares e muito mais.
Este modelo, desenhado para ser entregue “chave na mão” aos clientes e parceiros, é totalmente flexível, sendo possível optar pela sala Altice Arena ou pela Sala Tejo, dependendo da capacidade da plateia física e do orçamento.

Qual a vossa estratégia de recuperação de negócio nos eventos corporativos?
O trabalho tem sido intenso na área de eventos e gestão de clientes, no reagendamento de todos os eventos e na gestão futura da agenda em termos de conciliar esses mesmos adiamentos, com os eventos já previstos para o futuro. Essa tendência acentua-se ainda mais na meeting industry, em que os eventos são planeados com muita antecedência.

É muito importante centrarmo-nos na ideia de que todos teremos que nos adaptar e reconverter o modelo de negócio, e ter noção que, pelo menos até ser encontrada uma solução para a pandemia, alguma atividade é melhor do que a total ausência da mesma se ficarmos agarrados a modelos do passado.

O atual contexto irá obrigar a parcerias internacionais mais fortes? Tendo em conta o contexto europeu, que tendências se podem antecipar ao nível do setor dos eventos?
Depois de vários meses em que assistimos a inúmeros eventos online, e que foram de extrema importância, para nos manter ativos e ligados, fica a certeza de que o virtual nunca substituirá o presencial, mas poderá ser, cada vez mais, uma ferramenta essencial para determinado tipo de eventos e necessidades de comunicação, bem como um importante complemento ao evento presencial, permitindo ampliar o alcance da audiência, que em condições normais não poderia estar presente mesmo num período pós pandemia.

Toda esta aceleração digital, veio trazer novas potencialidades à indústria e abrir mais oportunidades para formatos futuros e novas perspetivas, principalmente na área do Turismo de Negócios e eventos corporate.

Já preparam 2021? Com que perspetivas?
Há que fazer as coisas de modo diferente e adaptadas a esta nova realidade, tendo sempre presente que estamos numa fase de transição pois acredito que na área dos eventos globalmente, o presencial e o partilhar de mensagens e emoções será retomado logo que possível, principalmente na situação dos eventos Internacionais. Claro que toda esta aceleração digital vai trazer novas potencialidades à indústria, e pela sua massificação nesta fase veio mesmo para ficar e abrir mais oportunidades para formatos futuros. Esta realidade, apesar de já existir no passado, abre de facto novas perspetivas principalmente na área do Turismo de Negócios e eventos corporate. Também os hábitos de trabalho e a forma como o fazemos vão ficar forçosamente alterados. Acredito, no entanto, que aos poucos, à medida do que for possível, o presencial vai voltar até porque é essa a essência dos eventos, sejam eles públicos ou privados. Para 2021, estamos a trabalhar em conjunto com os nossos clientes e focados no que podemos controlar, aguardando os maiores ou menores condicionamentos que a evolução da pandemia irá provocar em toda a nossa indústria.