“O turismo é o nosso segredo”

Rui Horta, o homem por detrás de um dos maiores negócios de viagens em Portugal que deu azo à Top Atlântico, hoje nas mãos da Springwater, não se cansa. Em 2011 volta ao ativo e lança a TopMic, que poderá faturar este ano 10 milhões de euros. Novamente eleito presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Associação do Turismo de Lisboa, entidade da qual é um dos fundadores, Rui Horta aborda em entrevista a relação entre Lisboa e o turismo, o papel das associações e revela parte do seu percurso profissional.

IMG_3661Os novos órgãos sociais da Associação do Turismo de Lisboa (ATL) continua a desempenhar as funções de presidente da Mesa de Assembleia Geral, no entanto, olhando ao histórico da entidade, parece haver uma mudança de interlocutores…
Está a haver duas coisas. Primeiro a ATL está a rejuvenescer-se, estão a entrar novas pessoas, com novas ideias.
Por outro lado, a vinda do Dr. Ponce de Leão, representante dos Aeroportos de Portugal, para o Presidente Adjunto é sintomático de uma preocupação que o Dr. Fernando Medina, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, tem no sentido de se resolver o problema da acessibilidades a Lisboa. A questão do Aeroporto de Lisboa tem de ser resolvida. A estrutura está numa encruzilhada muito grande. Neste momento só há uma alternativa viável, que é a utilização simultânea do Aeroporto Humberto Delgado mais o Aeroporto do Montijo, que vai demorar cerca de três anos a implementar. Só assim se conseguirá resolver o problema da acessibilidade a Lisboa para os próximos dez anos.
Na direção da ATL houve ainda entidades que rejuvenesceram os representantes. Entraram também pessoas ligadas com outras temáticas, como ao nível da organização de eventos/festivais.

Há uma coisa engraçadíssima e que demonstra que realmente estou a ficar velho (risos), há um elemento da direção do qual o avô já era meu amigo e com quem tinha negócios, depois fui amigo e tive negócios com o pai e agora tenho negócios com o neto, que está na direção da ATL, o José Marto.
IMG_3621Quais os principais desafios que enfrenta a região de Lisboa ao nível turístico?
A cidade tem que se organizar para haver uma convivência salutar e pacífica entre turistas e habitantes locais. Nesse sentido a Câmara está a tomar as medidas certas para que os vários locais não sejam afetados pelos turistas e vice-versa. Por exemplo, no negócio dos tuk tuks, que é uma coisa boa e bem-vinda, tem que se ter a certeza que se implementa veículos elétricos, pois não pode haver viaturas a fazer barulho e a poluir os bairros históricos. Não se deve inviabilizar as novas ideias, mas sim modernizar face ao que existe e que sejam amigas do ambiente e dos locais. Por outro lado, tudo aquilo que for feito para os turistas automaticamente beneficia os habitantes. Moro num sítio altamente frequentado por turistas e não me sinto rigorosamente nada afetado e, aliás, até me sinto beneficiado porque há muita coisa a abrir que também me beneficia, há atividades, segurança, iluminação, entre outros.
Ainda sou do tempo que Alfama tinha 60 mil habitantes, hoje tem oito ou nove mil. As pessoas foram-se embora. Vieram os turistas para os substituir. Há poucos anos era impensável ir para a Baixa à noite porque corria-se o risco de se ser assaltado, porque estava tudo deserto e um pouco abandonado e mal frequentado e hoje é um prazer andar na baixa e ir até á Praça do Comércio.
Claro que depois temos as situações extremas do Cais do Sodré e das bebidas na rua e do barulho, obviamente que são incómodas, mas não sei se são os turistas que estão a fazer esse barulho ou os filhos dos residentes. Não generalizemos, tem de haver um equilíbrio, bom-senso, não se pode cair em exageros. Por exemplo, o caso da Rua Augusta tem de ser equilibrado, pois na medida que se está ali a construir hotéis corremos o risco de esta rua daqui a 20 anos não ter uma única loja de comércio tradicional.
A Associação do Turismo de Lisboa tem aqui um papel a desempenhar, ao nível de lobby, permitindo o desenvolvimento turístico para que haja um desenvolvimento coordenado em toda a cidade. Sei as celeumas que existem em Lisboa, havendo uma corrente que indica que há turistas a mais… Eu ainda sou do tempo em que o Dr. António Oliveira Salazar escrevia “cuidado porque o turismo passa e Portugal fica”, ou seja, não deixava desenvolver esta atividade no país devido ao contacto dos turistas com o povo. Sou ainda testemunha de um famoso economista que afirmava durante o PREC que o Turismo era a prostituição do povo. Agora voltam os profetas da desgraça que dizem que o turismo está a estragar isto. É estranho, porque a única atividade promissora a funcionar, a ser rentável, que alimenta milhares e milhares de empresas e postos de trabalho, no país, é o turismo. É uma asneira falar-se contra o turismo. Mas enquanto não descobrirem petróleo no país o turismo é o nosso segredo.

IMG_3655Ao nível associativo como encara o trajeto da CTP e da APAVT?
Existem desafios extraordinariamente importantes que a APAVT tem de enfrentar. Por exemplo, os DMC’s, que só fazem incentivos e congressos estão a ser altamente prejudicados pelo regime do IVA que está a ser aplicado. Em Espanha há uma exceção para os DMC’s e o regime do IVA é completamente pró atividade, em Portugal verificamos um regime completamente contra as agências. É fundamental que o Governo encare este problema e que nos ponha em pé de igualdade com a Espanha. Estamos todos os dias a perder negócio. Qualquer operador estrangeiro que mande um grupo para Portugal não pode deduzir o IVA, se for para Espanha pode fazê-lo. Estamos a falar de 23% do valor, se bem que sobre a margem. É preciso que a APAVT se mentalize que o seu papel principal é a defesa do interesse dos agentes de viagens, apesar de não ver como poderia estar a fazer muito melhor do que faz.
Em relação à Confederação hoje atua principalmente como um lobby político. É um meio para se dialogar com os políticos, não tenho noção de que problema concreto tenha resolvido. Nestes últimos anos também não se apercebe de nenhum grande objetivo que a CTP tenha conseguido em prol dos empresários. Mas os empresários hão-de estar provavelmente satisfeitos com o que está acontecer neste momento, pois apoiaram recentemente a direção. Não sou membro da CTP por isso não me posso pronunciar melhor.

IMG_3586Em 2011 decide aventurar-se num novo projeto empresarial, a TopMic. O que o levou a este novo projeto? Como correram estes cinco anos?
Comecei a TopMic, numa altura em que ninguém investia nada. Em 2011, precisamente no ano em que fiz 65 anos. O conjunto de empresas entraram em funcionamento em 2012. Desde esse ano que fomos crescendo, contando hoje com mais de 20 empregados, vendendo quase 10 milhões de euros. É uma empresa que tem dado lucro todos os anos, estou particularmente satisfeito com o investimento que fiz. Tenho dois sócios mais novos, com metade da minha idade, para dar continuidade à empresa, apesar de ainda aqui estar.

Só perdemos dinheiro no primeiro ano, em 2012, pelas razões de ser o ano da fundação, quando foi preciso preparar e comprar tudo. A partir de 2013 foi sempre a ganhar dinheiro, funcionar e crescer. Em 2013 passamos a ser IATA. A TopMic tem sido um desafio constante mas está a correr muito bem.

IMG_3583Quem são os accionistas? Qual o caminho que pretende a empresa trilhar?
Somos três acionistas maioritários com cerca de 96 por cento do capital, eu, o António Bento e a Catarina Neves. A nossa ideia é ter quatro a cinco empresas a funcionar: a TopMic Turismo, TopMic DMC, TopMic Congressos, TopMic Eventos e TopMic Concierge Services e TopMic Safaris. Atualmente deste conjunto, alguns são apenas, e ainda, departamentos autónomos, outras já empresas. Mas o objetivo é que todas venham a ser empresas autónomas, o timing depende do desenvolvimento do seu negócio. Neste universo julgamos que vamos chegar aos 10 milhões de euros de vendas este ano. Sendo o objetivo a cinco anos de vista chegar aos 15 milhões. Em termos de staff, atualmente, temos 22 funcionários, podendo duplicar dentro de 10 anos. O ano passado tivemos um EBITDA de 340 mil euros, o que é excecional e não haverá muitas agências em Portugal com este tipo de resultados.«