“Olhamos muito para nós próprios”

Háuma estratégia para o desenvolvimento do turismo nacional? Há dias discutia-se aqui na região aefectuação de umPlano de Desenvolvimento Estratégico para o Turismo daMadeira, sem termos agarantia que os diferentes agentes querem umaefectivamente levar por diante uma estratégia de afirmação turística é difícil.Mas eu andaria um passo para trás. A estratégia de turismo não pode viver deper si. A par da grandeumbrela que é a tipificação do macrodestinoPortugal, as estratégias dedesenvolvimento são qualquer coisa quetêm de serassumidas à escala regional.Uma estratégia de desenvolvimentodoturismo daMadeira tem muito pouco a vercom a estratégia dedesenvolvimentodoAlgarve.Há que encontrar e criar apartir deste guiãoos guidelines do queefectivamente o destino quer sere onde podechegar. Istopassa,desde logo,por definir muito bem o que se querparaoterritório.Depois,que tipo deprocura se quer, para se poder adaptaraoferta àstendênciasque essa ofertaquer, que é necessariamentediferentedoAlgarve, paraLisboa, entre outros,definindo então o queexactamentesequerpor base daregião. Há aqui um outrofactor que éparticularmenteimportante queé quetipo de acessibilidades équesequer realmente. Oquefoi uma falha muitogrande em termosestratégicosfoinão colocar oturismo como fundamental naanálise dadiscussão daprivatizaçãoda ANA.Porque os aeroportos e apolíticaaeroportuária sãofundamentais napolítica que se quer para osdiferentesdestinosnacionais. Ose terolhadopara uma visão somente muitocontabilísticadetesouraria naprivatização;onão se ter criadopreviamenteas regrasdejogopara estaprivatizaçãoforam,quanto a mim,uma falha queeventualmente nospoderácustarcaro.
O facto de não se ter falado ao longo dos tempos numaestratégia a adaptar muito conjunturalmente ao mercado pode acontecer e advémmuitas vezes das políticas ou da consequência delas, que intermedeiam muitasvezes duas eleições, e esses prazos muitas vezes são demasiados curtos emuitasvezes as próprias discussões que se colocam sobre o desenvolvimento deumplanoturístico, por exemplo, levam a que as metas sejam relativamentecurtase osobjectivos se definam a relativamente curto prazo.
Falta um diagnóstico sobre a procura? Sobreo queo nosso cliente quer? Falta. Essa é uma área em que efectivamentefaltatrabalho. Assim como falta inclusivamente um benchmarking dos destinosque nossão verdadeiramente concorrenciais. Olhamos muito para nós próprios,discutimosmuito da oferta para a procura e não suficientemente no sentido desaber o que omercado quer. Para sabermos o que o mercado quer de nós, háalgoque deve serprévio, que é o conhecimento do negócio turístico.Sobretudo nósPortugal, nósdestinos turísticos portugueses, temos muitopróximos de nósdestinos com umadimensão efectivamente maior – as Canáriastêm uma capacidadeinstalada de maisdo dobro da nossa a nível nacional. Onegócio turístico ésempre muito cíclico,quem o determina muito também éaoferta. A bacia doMediterrâneo tem uma ofertasuperior à procuraeuropeiaeaqui temos de ter emconsideração que a nossagrande procuraparaPortugal–independentemente dointeresse crescente, e porissolhedigoque éfundamental a separação dasdiferentes realidades daofertaturísticaportuguesa, mas se pegar no grandebolo da procura emrelação àsomadaoferta portuguesa evidentemente que aEuropa tem umpeso muitogrande.Ficamos muito virados para nós próprios e nãoolhamospara aconcorrência, equando esta evolução no tempo, da bacia domediterrâneo,que se faz sempre,quando cresce num lado decresce no outro,evice-versa,temos que saberaproveitar aos primeiros sinais de algumadebilidade noleste quais são osnossos grandes factores deatractividade,epor isso operceber o que é queaoferta concorrenteestá a fazer equaisastendências que a ofertaconcorrencialestá aefectuar e querespostaestá aternos estímulos àprocura, éfundamentalpara nós,para podermosinclusivamentetrabalharsobre oquetemos, saber o quetemos de melhorareter efectivamenteumaoutraagressividade junto dadiferenteprocura.Temosdeter a consciênciaque somos demasiadospequenos para fazer osgrandesdiagnósticos deprocuraporesse mundo. Háum ponto fundamental queédefinirmosestrategicamentebem quaissão osnossos grandes clientes eapartirdaí fazemos algumtrabalho de copypaste e não andar a falar demercadosemergentes para oqual não temosacessibilidades nem massacrítica.
Temos que consolidar nos grandes produtores e apartir daífazer copy paste para alguns dos mercadosemergentes.
& Estamos a assistir a uma desarticulação dofoco doTurismo de Portugal? Delega-se nas entidades públicas emdemasia. Somosmuito pouco pró-activos. Tem que se reformatar em termosempresariais a nossacapacidade de aproximação à procura. Julgo que a ofertaturística em algumasregiões, progressivamente terá de encontrar fenómenos deconcentração graduais,podem estar só numa área de promoção, depois daformação, numa área dequalificação de produtos e porque não na própria gestãointegral. Isso acontecepor exemplo em Espanha, de criação associativa quenãoseja propriamente daassociação de concorrentes, mas de associação deinteresses privados e deobjectivos de resultados anuais. Julgo que esta éumadas áreas fundamentais noreequacionar da postura da oferta turísticaportuguesa perante omercado.
Relativamente à evolução recente da promoçãoturística dopaís não tenho condições, como empresário, para poder dizer que oTurismo dePortugal não teve um compromisso de apoio nas acções promocionais noexterior.O que julgo que faltou ao Turismo de Portugal foi também umacapacidade daclasse empresarial em despertar a motivação e o interesseparadeterminadasáreas.
Se este país, para ganhar competitividade, tivesseque pararum ano a sua promoção para requalificar a oferta para atingirstandards degrande competitividade, eu faria essa opção. Os grandes problemasque secolocam ao nível do negócio turístico em Portugal devem-se mais a umproblemade competitividade da oferta em relação àquilo que surgiu de novo, maisbarato,na bacia do Mediterrânico, mais atractivo e com menos custos deexploração.Temos um problema de acessibilidades forte em termos de Portugal.Estes doisfactores são no momento presente uma situação em relação à qualurgeumaabordagem mais profunda do que pensarmos em requalificar toda apromoção,atéporque os últimos indícios que apontam para uma aproximação daoperaçãoturística aos transportadores têm dado efectivamente resultadosinteressantes.No intervalo dos últimos três meses, a administração do maiorgrupo turísticoeuropeu veio duas vezes a Portugal, num percurso pelaMadeirae pelo Algarve.Isso não aconteceria se o destino não gerasse umaaproximaçãoimportante entredestino e origem e o sector público e privadona abordagemdessa operaçãoturística. Este é um dos vários exemplos emqueo mercado olhapara Portugal deuma forma efectivamente diferente, eparamelhor. Agora semagarantia dasacessibilidades e de que o ciclodaofertase estáefectivamentea modernizarpara acompanhar a suaconcorrência,corre-seefectivamente umsério risco denãose conseguirosobjectivos.
Num momento onde há tantas dificuldades no crédito,terá quehaver uma percepção por parte do sector público e por parte da banca,da áreafinanceira, em criar alternativas e elevar este problema à escala demáximaqualidade, requalificar o produto, mas também dos pequenomacro/micro-produtos,ou seja, também os destinosdeteriorados.
Por PedroChenrim