Opinião: “A importância das empresas de táxi para o turismo português”

Por Carlos Guimarães Pinto, economista e deputado do IL
(Artigo publicado na edição 341 da Ambitur, dezembro 2022)

As empresas de táxis no aeroporto de Lisboa têm tido problemas financeiros nos últimos anos. Primeiro com a construção da linha de metro e depois com o aparecimento dos TVDEs. A pandemia trouxe problemas adicionais. Com o aumento do preço dos combustíveis, algumas podem mesmo correr o risco de deixar de operar. Temos que agir antes que seja tarde e o que venho aqui propor é uma injeção de 3 mil milhões de euros no sector pelas razões que exporei.

Os taxistas do aeroporto de Lisboa apresentam o país a milhões de estrangeiros que se deslocam para o hotel a partir do aeroporto. É nos táxis que muitos turistas ficam a conhecer o país, a nossa língua e a nossa música. Aqueles automóveis transportam a nossa bandeira, a nossa cultura. São automóveis de bandeira que não podemos permitir que desapareçam.

Os taxistas geram milhões de euros em receitas todos os anos, pagando dezenas de milhões de euros em IVA, IRS e Segurança Social. Sem uma injeção de dinheiro no sector do táxi, arriscamo-nos a perder muitas receitas fiscais, desequilibrando o orçamento e colocando em causa o Estado Social.

Com as receitas que recebem dos passageiros do aeroporto de Lisboa, os taxistas fazem compras de milhões de euros a centenas de fornecedores, incluindo restaurantes, hipermercados, mecânicos e muitos outros pequenos negócios. Sem eles, muitos negócios entrarão em dificuldades pela perda destes clientes. São milhares de empregos e receitas fiscais em risco.

Mais importante do que isso, existem os efeitos no turismo. Os turistas transportados pelos taxistas do aeroporto de Lisboa gastam milhares de milhões de euros em alojamento e restauração. Sem os taxistas do aeroporto de Lisboa, todas estas receitas de turismo se perderiam porque os turistas nunca chegariam à cidade de Lisboa, ficando a deambular pelo aeroporto até ao seu voo de regresso.

Corre por aí uma teoria segundo a qual se as empresas de táxis do aeroporto de Lisboa deixassem de transportar os passageiros do aeroporto para a cidade, apareceriam rapidamente alternativas, novas companhias de táxis e TVDEs. Só os fanáticos religiosos da Iniciativa Liberal, que não percebem como funciona o mercado do transporte de passageiros, é que podem achar isto. Sem os taxistas, o asfalto em frente às Chegadas ficaria deserto durante muitos anos com os passageiros a deambular pelo aeroporto sem possibilidade de chegarem à cidade. Mas vamos supor que é verdade. Vamos supor que os fanáticos da Iniciativa Liberal têm razão e que o eventual desaparecimento dos táxis do aeroporto de Lisboa, levaria ao aparecimento de outras empresas de táxi ou TVDEs que levariam os turistas à cidade de qualquer forma. As plataformas de TVDEs são estrangeiras pelo que o dinheiro pago pelos turistas iria para fora do país. Em vez de termos taxistas portugueses a transportar estrangeiros do aeroporto de Lisboa, passaríamos a ter plataformas estrangeiras a transportar portugueses. Substituiríamos exportação de serviços por importações com os respetivos impactos na balança comercial.

Se levou este texto a sério, provavelmente já não tem cura. Se levou este texto a sério, provavelmente irá aceitar que se injete qualquer montante de dinheiro, não importa quão alto, em qualquer empresa em dificuldades. Todas as empresas em todos os sectores têm trabalhadores, fornecedores, servem clientes que por sua vez serão clientes de outras empresas e pagam impostos. Se, por outro lado, percebeu a ironia deste texto desde o princípio, desafio-o a encontrar as diferenças entre os argumentos para esta intervenção e outras intervenções. E se concordou com outras intervenções, tente explicar-se a si mesmo porque é que estes argumentos parecem ridículos para esta intevenção e não nos exemplos de intervenção com os quais concordou.