Opinião: “A importância do turismo no crescimento do consumo privado em território nacional”

Por Sandra Primitivo e Rui Faustino, EY Parthenon
(Artigo publicado na edição 341 da Ambitur, dezembro 2022)

A evolução recente da economia e da sociedade portuguesas, nomeadamente no rescaldo da grande crise económica e financeira de dimensão mundial, foi marcada pelo crescimento significativo do turismo, com ritmos sempre superiores aos do Produto Interno Bruto (PIB).

Em 2019 representava 8,1% do VAB nacional e assumia-se como o principal protagonista no reequilíbrio das contas externas (as exportações das viagens e turismo representavam 20% do total nacional). A pandemia e, em particular, o período de confinamento de 2020, quebrou drasticamente este crescimento virtuoso, seguindo-se em 2021 uma recuperação importante, mas insuficiente para colocar o setor nos valores de 2019 (5,8% do VAB e 11% das exportações em 2021), o que deverá acontecer no já no corrente ano.

A relevância do turismo está também patente no crescente peso que tem vindo a assumir no consumo privado no território nacional. Entre 2010 e 2019 o peso do consumo de não residentes no consumo privado realizado em Portugal duplicou, alcançando 12% do total, como resultado de um crescimento sempre superior ao registado no consumo dos residentes (ver gráfico) – em termos acumulados o consumo de não residentes foi responsável por 40% do crescimento nominal do consumo privado em território português.

Importância dos não residentes no consumo privado em território nacional (2011-2022)

Os números mostram que este contributo tendeu a ser mais relevante entre 2011 e 2013 – no período de intervenção financeira do Fundo Monetário Internacional no país –, onde o crescimento do consumo de não residentes atenuou a queda no consumo registada nos residentes e as suas consequências no abrandamento da atividade económica.

O contributo do consumo de não residentes assume ainda maior relevância no que são os impactos indiretos na economia, tendo em consideração as atividades que mais dinamiza – alojamento e restauração. Estas atividades, por via do menor conteúdo de importações face à média (e sobretudo face à indústria), detêm um efeito multiplicador mais acentuado, o que significa que 1€ de consumo dos turistas tende a ser globalmente mais impactante que o 1€ de consumo de residentes ou que 1€ de exportações de bens.

Este contributo foi suspenso apenas no ano de 2020, mas com o alívio das restrições de controlo da pandemia e a progressiva recuperação da procura turística, o consumo de não residentes regressou aos níveis pré-pandemia já no 1º semestre de 2022, o que permite antecipar um retomar da trajetória que vinha exibindo até 2019. Com a expectável retoma do dinamismo do turismo nos próximos anos, o crescimento do consumo privado no território nacional tenderá a tornar-se mais dependente do consumo dos não residentes, sobretudo nos períodos de abrandamento económico.