Opinião: “A minha casa é melhor que o teu hotel”

Por Miguel Quintas

É o tema do momento e um bicho papão que se advinha aparecer ao virar da esquina. Ele existe mas não sabemos o seu tamanho.
A hotelaria está de prevenção. Os legisladores continuam de caneta em punho. A fiscalização não sabe como reagir. A distribuição está a fazer contas de cabeça. Os programadores de software atarefados a desenvolver tecnologia. E os mais afoitos procuram novas oportunidades de negócio. Segurem-se, porque quem tem uma casa disponível pode alugar a qualquer viajante!
Discute-se acaloradamente sobre os problemas que advêm de uma lei de alojamento local mal-amado sendo que os três principais argumentos são: a vinda do turista “low cost”; o medo dos políticos legislarem em tempo de crise sobre uma economia submergida e; a concorrência desleal resultante da disparidade dos custos legais obrigatórios e investimentos em equipamentos. Discordo em total com as duas primeiras e simpatizo com a terceira.
Uma pesquisa rápida no Air B&B permite ver uma tarifa média de 93€ por quarto num dia de semana em fevereiro de 2015, em Lisboa. Seguramente uma tarifa mais alta que muitos hotéis de 4 estrelas da capital e mesmo alguns de 5 estrelas, segundo a minha pesquisa. Isto significa que o turista pode não ser tão “low-cost” como se pretende fazer crer. Antes indicia alguém que quer pernoitar, que está disposto a pagar um valor interessante para a média nossa indústria hoteleira, mas que não quer ficar num hotel. Aquela é a pedra de toque que os hoteleiros devem refletir: Porque não quer o cliente ficar num hotel e prefere um outro alojamento? Não acho que qualquer lei vá mudar este paradigma. Nem devem ser os aspetos económicos a vigorar sobre o desejo do cliente. Deve ser o cliente a determinar o que deseja, pois no final do dia, é ele que paga e portanto, decide. Apenas depois, aí sim, as leis estarão para garantir o bem estar social e não uma indústria.
Queira-se ou não, as redes “peer-to-peer” são uma realidade (que só é nova para quem anda distraído) porque o cliente as deseja. É uma realidade de milhões de dormidas por ano no mundo. Chama-se evolução do mercado. Podemos insurgir-nos, criticar, tentar travar, mas elas existem, crescem rapidamente e vão continuar a ocupar um espaço que era quase exclusivo da hotelaria. Legalize-se então e apenas. E deixem o cliente decidir.

 

O artigo de opinião foi publicado na Edição 285 da Revista Ambitur.