Opinião: “A oportunidade a não perder”

Por Pedro Pedrosa, Empresário e Consultor em Turismo de Natureza (a2z.pt); Membro da direção da Assoc.Moradores da Ferraria de São João

Portugal ardeu fortemente em 2017. Destruiu-se um património natural incalculável. Perderam-se demasiadas vidas. Decorrente deste facto criou-se uma “oportunidade” dada pela visibilidade que uma parcela esquecida do país – o interior – tem hoje.

Aquilo que era uma tendência é hoje uma verdade absoluta, que ninguém que analise a curva demográfica e migratória pode negar: o lento esvaziamento do interior. Contrariado por projetos que são como uma brisa de acalmia numa tempestade de ventos de mudança. Porque convenhamos que daqui a 20 anos grande parte do território interior estará abandonado. O que é necessário realmente pensar não é como evitar isso, mas sim como lidar com esse facto e criar um novo paradigma para este território. E nunca como agora tantos olharam para tão pouco.

Não se pense que se consegue alterar o paradigma sem contar com pessoas no território, especialmente os que lá faltam e que se têm de atrair para haver energia de mudança ou geração de economia. É aí que o turismo tem um papel fundamental e uma oportunidade.

Há muitas aldeias condenadas a desaparecer. É inevitável. Mas esse é um processo paralelo ao de outras aldeias (e vilas) que estão condenadas ao sucesso. Associadas em redes e sob a alçada de uma boa marca turística, como já hoje existem as Aldeias Históricas e as Aldeias do Xisto, ou noutro tipo de associação territorial em volta de um produto turístico, como a Rota Vicentina, com a promoção correta, os agentes motivados e as populações envolvidas criam-se produtos turísticos únicos, autênticos, diferenciadores e muito procurados internacionalmente. É necessário investir bem, dinheiro público e privado. Por cada euro gasto em investimento estrutural, investir outro na dinamização e promoção. Se cada turista deixar 100€ no território onde pernoita, para injetar 1 milhão de euros por ano num território de baixa densidade só seriam precisos 10.000 turistas. Parece muito? O Caminho de Santiago Português, para dar um exemplo, cresce a médias acima de 10-15% ao ano e teve 59 mil turistas “espirituais” em 2017 com início cada vez mais a sul (de Lisboa já saíram oficialmente 2400 peregrinos pelo caminho central). A Rota Vicentina, criada em 2012, conseguiu em 5 anos atingir um número estimado de 30 mil utilizadores ano. Outros projetos seguirão este caminho. A margem de crescimento é enorme, e a procura internacional deste tipo de produtos também. Turismo em territórios de baixa densidade que exige parcerias fortes e consolidadas. E precisa de habitantes locais, de serviços qualificados e de investidores. Turismo experiencial de base local que exige intermediação social para ser sustentável e responsável. O interior de Portugal também precisa desta resposta do setor turístico. E esta nova economia baseada no turismo nestas regiões tem que ser capaz de contribuir para desenvolvimento ambiental e social do território e de garantir a segurança de quem nos visita.

Vivemos o tempo de olhar para alguns dos nossos concorrentes ou vizinhos como nossos parceiros. De criar redes e sinergias. De dar visibilidade a quem faz bem e melhor que os outros de modo a inspirar e promover a excelência. Para chegar mais longe. Para não perder a oportunidade.