Opinião: “A UBER e os velhos do Restelo”

Em trânsito por Lisboa, hoje fui bloqueado pelos taxistas da capital numa manifestação anti-Uber. O transtorno que me causou e aos meus demais colegas automobilistas na mesma situação foi quarenta e cinco minutos parado no tráfico da cidade. Uma pequena chatice e uma verdadeira irritação. Esses três quartos de hora também me permitiram pensar, entre outras coisas, sobre porque protestam os taxistas. Afinal é para isso que se fazem estas ações de rua – obrigar à reação.
Sou defensor da Uber pelo que representa de inovação, de qualidade, de serviço, da livre concorrência, de aposta nos interesses dos clientes e pelo valor que traz à sociedade. Mas gosto ainda mais da Uber por ter levado à exposição pública a fragilidade de um sector taxista que representa muito mal o nosso país, com impacto direto no nosso turismo e que precisa de reforma profunda. O facto de ter conduzido a “consciência taxista” deste país a manifestar-se significa que os “profissionais do volante” entenderam, indiretamente, que os seus clientes querem ser bem tratados e por mais que reclamem a questão legal, infelizmente estão muito longe da qualidade do produto/serviço Uber. A milhas, eu diria. Não tenhamos dúvidas que a impotência e incapacidade de concorrer em qualidade, serviço e preço aliados a alguns lobbies e negócios meios cinzentos naquele mundo do volante, são as principais razões deste mal-estar geral. Tão-somente por esta possibilidade de mudança de status quo, já admiro a empresa americana. Pessoalmente não conheci ainda ninguém que, depois de experimentar o serviço da empresa de São Francisco, prefira o tradicional táxi ao Uber. Esta pressão, que faz os taxistas “espumar” em rebeldia manifestante ou mesmo agredindo física e verbalmente condutores e clientes que recorrem ao serviço dos “carros de aluguer com condutor”, é o melhor que pode acontecer à freguesia dos táxis. Hoje, quando necessitamos do serviço de táxi, quase temos que “pedir o favor” de nos levarem a algum sítio. Com alguma sorte, o piloto do carro creme, que resmunga a cada vinte metros do percurso, pode no final da corrida não voltar a fazê-lo, caso lhe deixemos uma gorjeta. Mais: usamos um serviço que, regra geral e nos “táxis da minha terra” é feito num Mercedes velho, com cheiro a tabaco e semi-higiene interior idênticos ao uso e idade do carro e um condutor a destilar raiva por cada vez que é ultrapassado ou, pior ainda, mal-educado com o cliente e/ou outros colegas condutores – particularmente se sai do aeroporto para uma viagem inferior a 2 quilómetros ou 6 euros de corrida. Eu sou um cliente e queria outro serviço. Um serviço melhor. Muito melhor! E curioso da vida, aquilo que me pareceu impossível durante anos aparentemente existe, e até a preços mais baratos, nalguns casos. Bastou fazer uma coisa que se faz pouco, particularmente no nosso país – entender o cliente e dar-lhe o que ele quer. Inovar! O potencial hiato legal em nada invalida o avanço que se conseguiu em se saber que existe possibilidade de servir o cliente por menor preço e muito, mas muito melhor qualidade. É assim que o mundo avança. É óbvio que precisamos destas lições. Queixamo-nos muito, fazemos menos, e se alguém inova, é melhor manifestarmo-nos contra ou mesmo tapar a toca a quem quer sair dela. Velhos do Restelo…

por Miguel Quintas

publicado na Edição de Setembro 2015 da Revista Ambitur.