Opinião: “Agentes de Mudança”

Por Prof. Doutor João Heitor, coordenador Científico da Licenciatura em Gestão do Turismo do ISG

Os 17 (dezassete) objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas estão a assumir-se como guias de reorientação e de reestruturação das políticas económicas e sociais. As empresas têm adotado novas estratégias com o objetivo de assegurar a sua própria sustentabilidade, implementando uma inovação disruptiva que incide no design, nos materiais, na tecnologia, na obtenção de certificados de qualidade, na cultura, executando, cumulativamente, uma inovação incremental que abarca as competências, o consumo de recursos, a produção de resíduos, entre outros.

A aplicação dos objetivos de desenvolvimento sustentável na atividade turística avoca-se como um fator determinante para o setor e para o futuro do planeta. Para além da consciencialização, do envolvimento e do compromisso dos decisores, a subsistência do turismo depende de efetivas políticas ambientais que coincidam com efetivas políticas económicas e sociais. Adquirindo esta conjugação estratégica, de planeamento e ação, conseguir-se-á catapultar para o epicentro do consumo turístico a ética e a responsabilidade social e individual.

O Plano Turismo + Sustentável 20-23 evidencia o consumo da atividade turística e os seus impactos no meio ambiente. Todavia, estes objetivos já constavam, há alguns anos, na agenda para a economia circular e na promoção para a transição climática. Acreditamos que mais do que envolver os stakeholders do turismo num compromisso conjunto ou recordar as metas definidas na Estratégia do Turismo 2027, urge reerguer o setor do turismo face à crise pandémica.

Se a estruturação da oferta e a promoção de Portugal enquanto destino sustentável se assumiam como desideratos nacionais e internacionais regista-se, com agrado, a aposta na qualificação dos agentes do setor como agentes de mudança. Mais do que integrar a educação para a sustentabilidade nos projetos educativos – que em abono da verdade já são lecionados, transversalmente, em diversas unidades curriculares de licenciaturas em turismo – impõe-se concretizar uma efetiva aposta na formação.

Se a qualificação dos agentes do setor os tornará: agentes de mudança (de mentalidades, práticas, métodos), com vista à sustentabilidade económica, ambiental e social, a formação assumir-se-á (uma vez mais) como a receita para as necessidades coletivas. As universidades e os politécnicos, os professores e os alunos, estarão, como sempre, empenhados na obtenção de habilitados recursos humanos para o mercado de trabalho. Deseja-se que as empresas, as instituições, as associações e o próprio estado, lhes reconheçam a capacidade e o mérito, concedendo-lhes a correspondente remuneração pelo seu valor.

Uma última nota. Na retoma da atividade turística, que agora se verifica, não voltaremos a obter trajetórias de crescimento económico e de consumo turístico sustentados num elevado número de turistas. Os novos padrões de sustentabilidade e a própria procura vão valorizar a reputação e requerer a qualidade, com redução do número de turistas e consequente diminuição da pegada ecológica e social. Em contrapartida, pela referida reputação e qualidade, obteremos uma maior receita média diária, a par da procura por experiências únicas. Como a estratégia bem o identifica, para responder a todos estes desideratos, a nova atividade turística contará, para o efeito, com todos os stakeholders e com os (re)valorizados agentes de mudança.