Opinião: “Ano Europeu do património cultural – 2018 – uma oportunidade para pensar o património em risco”

*Por Isabel Vaz Freitas, docente e investigadora da Universidade Portucalense

O espanto generalizou-se, e bem, quando há pouco tempo se falou na devastação que ocorreu na Síria. Património da Humanidade, vítima de conflitos armados. O mundo correu perplexo, repito, e bem. Infelizmente na à nossa porta o património é vítima declarada de vandalismo. Um, assumido, em prol do desenvolvimento da terra, outro, vítima da má formação de quem ignora o que faz. Ambos são preocupantes, mas o assumidamente declarado pela gestão local é ainda mais surpreendente. E desengane-se se quem, neste momento, pensa que se fala contra o desenvolvimento ou contra o bom andamento da política local. Expressões que já mostram a incultura e a insensatez de quem as usa.

Não, não se trata de aniquilar o desenvolvimento local, não se trata ou de manter as míseras condições só porque se trata de conservar o património. Por favor, não usem o mote de que salvaguardar o património é um viver no passado incondicional e absorto de qualidade de vida ou de adequação aos novos tempos ou de miseras condições.

Por favor, entendam que salvaguardar o passado é uma forma de desenvolvimento local, de atratividade de visitantes que procuram a diferença e a diversidade num mundo que tende a ser igual em todo o lado. Salvaguardar a memória não é evitar a passagem do tempo e as suas mudanças, mas sim, acompanhar as mudanças mantendo vivo o que marca cada um de nós e a nossa comunidade, os nossos lugares de vida. Salvaguardar o património, evitar a sua destruição e aumentar a sua comunicação e imagem, mantendo-o em excelentes condições de visita, é promover o futuro e desenvolver as regiões. Acompanhar a reabilitação guardando, sempre, a memória, valoriza os lugares e aumenta a vinculação dos residentes.

O nosso património está em risco? Claro que sim, em muitas cidades, em muitos lugares. Apesar dos muitos prémios vencidos na área do turismo, e bem merecidos, há ainda um outro Portugal, um outro país que ignora a sua memória. Não usem da ignorância para justificar a destruição do património. Identifiquem-se claramente os riscos e o património em risco, incluindo o classificado, analisem-se os impactos, encontrem-se soluções para que o património, fonte de riqueza cultural, social e económica possa conviver com a passagem do tempo.

Não se destrua o futuro. A destruição do património é irreversível. Não é possível reverter o processo destrutivo. Destruir é perder informação, perder o que somos e o que nos diferencia.