Opinião: “Atividade turística em Portugal para 2022: depois da tempestade, que venha (finalmente) a bonança”

Por Tiago Oom, diretor da REDUNIQ

Em 2019, o World Travel & Tourism Council (WTTC) destacava Portugal como o país europeu com maior crescimento no setor do turismo e viagens, antecipando que esta tendência se iria manter nos anos seguintes. De facto, e de acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), Portugal registou uma taxa de crescimento médio anual de 7,2% nas dormidas – um aumento de 37 milhões de dormidas em 2010 para 70 milhões de dormidas em 2019, o maior valor de que há registo. Paralelamente a este crescimento, registou-se, nas receitas turísticas, uma taxa média de variação anual de 10,3%, o que permitiu que de 7,6 mil milhões de receitas em 2010 se passasse para 18,4 mil milhões em 2019.

Estes números promissores fizeram de 2020 um ano completamente idílico que, infelizmente, não correspondeu, de todo, à realidade. Com o aparecimento da COVID-19 e, consequentemente, respetiva implementação de medidas restritivas, como o fecho de fronteiras, o turismo mundial sofreu, em 2020, segundo a OMT, o pior ano já registado, com um decréscimo das chegadas internacionais de 74% – com Portugal a sentir uma quebra acentuada na procura, para 25,9 milhões de dormidas (-63,0%).

Uma recuperação a conta gotas

Contudo, e porque depois da tempestade, vem a bonança, ao longo do ano de 2021, com a evolução da vacinação e uma maior normalização na convivência com o vírus, conseguimos, aos poucos, identificar uma recuperação da atividade económica nas diferentes categorias e regiões em Portugal. O último ano fechou, inclusivamente, e de acordo com o último relatório anual do REDUNIQ Insights, com um crescimento acumulado de faturação proveniente de cartões de 22% face a 2020, com a faturação contactless a crescer 126%. No que diz respeito à atividade turística, o cenário foi bastante animador, com Portugal a entrar numa nova fase de crescimento e a registar uma faturação total de mais de 61%, em comparação ao período homólogo, sendo que, em abril, já teria alcançado os valores superiores a 2020.

Neste mesmo relatório, e numa análise mais detalhada, é possível observar as variações homólogas negativas registadas na faturação deste setor durante o primeiro trimestre do ano com quebras de 82% face ao mesmo período do ano anterior. Esta quebra surge do elevado número de casos registados no seguimento das festividades (Natal e Ano Novo) e respetiva implementação do estado de emergência, em vigor até ao final de janeiro, com uma série de implicações, desde: suspensão das atividades de comércio, retalho e prestação de serviços em estabelecimentos abertos ao público; dever geral de recolhimento domiciliário; encerramento de um conjunto de instalações e estabelecimentos, incluindo atividades culturais, lazer e desportiva; suspensão das atividades letivas; entre outras. A partir do final de março, com o início do plano de desconfinamento, a aproximação dos meses mais quentes e do período típico das férias, Portugal começou, finalmente, a dar pequenos passos em direção à retoma do crescimento da faturação neste setor em específico.

Adicionalmente a estes indicadores, e já em antevisão ao que idealizamos para 2022, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou, recentemente, que Portugal registou 853.200 hóspedes e dois milhões de dormidas em janeiro, o que corresponde a aumentos de 183,7% e 185,9%, respetivamente, em termos homólogos. Apesar do evidente crescimento, e de serem resultados bastante promissores, continuam a ser inferiores aos observados em janeiro de 2020, quando ainda não havia efeitos da pandemia, com reduções de 39,9% nos hóspedes e 38,8% nas dormidas, o que significa que ainda há muito trabalho pela frente.

[blockquote style=”1″]hoje constatamos que o comportamento do consumidor mudou e este tornou-se muito mais tecnológico e preparado para aceitar quaisquer formas de pagamento disruptivas, que podem ir desde o cartão contactless, ao smartphone, ou ao wearable, sem esquecer o contínuo crescimento do online[/blockquote]

Em suma, e tendo em conta estes dados, que aspetos devem ser considerados para este setor, até agora tão fustigado pela pandemia? Após mais de dois anos marcados por grandes desafios de superação e de adaptação, conseguimos identificar uma série de oportunidades impulsionadas pela pandemia, como por exemplo: A adoção da transformação digital, que pode passar, por exemplo, pela implementação de soluções integradas dos pagamentos que facilitem a gestão de operações como o próprio ato de pagamento – hoje constatamos que o comportamento do consumidor mudou e este tornou-se muito mais tecnológico e preparado para aceitar quaisquer formas de pagamento disruptivas, que podem ir desde o cartão contactless, ao smartphone, ou ao wearable, sem esquecer o contínuo crescimento do online com os clientes a procurar, cada vez mais, fazer a gestão de toda a sua reserva em qualquer momento e em qualquer lugar; e o plano Reativar o Turismo | Construir o Futuro, que foi aprovado, em 2021, em Conselho de Ministros, para incentivar a retoma do setor do turismo nacional – este plano pretende ser um guião orientador para o setor turístico, público e privado, cujas ações estão totalmente integradas com os objetivos do Plano de Recuperação e Resiliência e da Estratégia Portugal 2030, assegurando assim uma estratégia concertada para a retoma da economia nacional. O setor do turismo acaba por ser uma das atividades económicas fundamentais para a geração de riqueza e emprego em Portugal e, por isso, é fundamental pensar em soluções, como a transformação digital, e em medidas, com o plano Reativar o Turismo | Construir o Futuro, para voltar a alcançar os feitos de 2019: o país europeu com maior crescimento no setor do turismo e viagens.