Por Paulo Cavaleiro, diretor geral da Upstream Portugal.
A partir do próximo dia 1 de julho entra em vigor o Certificado Digital Covid, um “livre-trânsito” sanitário atribuído a quem foi vacinado, a quem demonstrar ter um teste negativo à covid-19 ou a quem já se encontre imunizado, por ter contraído a infeção e desenvolvido anticorpos. O objetivo maior, dizem, é o de facilitar a circulação e evitar quarentenas nas deslocações entre os 27 países da UE, ainda a tempo das viagens para a época turística do próximo verão.
Porém, independentemente das objeções de diversa ordem levantadas ao longo do acalorado debate sobre este assunto, permanecem as dúvidas sobre a eficácia potencial deste instrumento para o Turismo e as reais garantias que oferece.
É verdade que não há Turismo sem deslocação, e “viajar” (em contexto de lazer) é materializar sonhos pelo que, em princípio, este certificado de vacinação poderia acalentar e reforçar as expectativas do potencial turista ansioso por viajar e ajudar à reanimação do Turismo na Europa.
Mas, como ficou agora mesmo bem patente com a chauvinista atitude britânica de retirar Portugal da “lista verde”, viajar depende hoje muito mais de um mascarado protecionismo económico, da “certificação” do destino e da confiança que este conseguir consolidar nos consumidores dos mercados emissores do que num inócuo certificado de vacinação individual, o qual pouco ou nenhum impacto terá na retoma dos fluxos turísticos para Portugal.
Aliás, quem viaja para África conhece um “certificado” similar– o célebre boletim de vacinas amarelo – desde há décadas exigido à entrada de alguns países afetados pela febre-amarela, entre outras doenças infecciosas, mas é questão para perguntar se este documento contribuiu significativamente para aumentar a visitação turística daqueles países ou se, pelo contrário, reforçou a desconfiança e a percepção do “perigo sanitário” em que incorre quem se atreve a escolher tais destinos para férias…
Como refere o IPDT na última edição da Turismo’21, o nível de confiança médio para o regresso dos turistas internacionais a Portugal é bastante positivo, sobretudo nos mercados emissores europeus, mas é a confiança dos turistas quanto à imunidade de grupo e aos protocolos de higiene, bem como os factores relacionados com a competitividade do destino, a retoma e o custo das viagens aéreas, e a oferta de novos produtos e serviços focados no Turismo de Natureza e Cultural e, sem surpresa, no “Sol e Mar”, que terão real impacto no Turismo.
Portugal é hoje uma marca Premium quanto à autenticidade, diversidade e segurança! Há que manter assim e reforçar! O que será certamente perdido com novo descontrole da pandemia, nomeadamente nas camadas mais jovens e por via das novas variantes, e nesse caso não haverá “certificado” que nos valha…
Enfim, os seres humanos acreditam naquilo em que querem ou gostam de acreditar, e, até há bem pouco tempo, a eficácia da “medicina” de curandeiros e “médicos” centrava-se no efeito placebo, que a esperança e a expectativa positiva do paciente reforçavam.
Será só este o efeito do certificado digital Covid para o Turismo em Portugal?