Opinião: “Cultura 2.0 ou a Nova Economia”

Por Felix Lopes – Account Executive, Capgemini Portugal

Todos fomos afetados por esta pandemia. Sem exceção. Não obstante, um dos setores mais impactados foi, sem sombra de dúvida, o turismo e a cultura. O setor do turismo, que em 2019 representou 15.6% do PIB nacional, em 2020 ficou-se pelos 8% do PIB.

No entanto, o impacto, não se acentuou apenas ao nível das receitas. O impacto também se fez (e se fará) sentir na forma e nos requisitos inerentes à forma de fazer turismo. A expedia Group efetuou um estudo em 2021 a 16.000 turistas que expressaram a sua vontade de efetuar turismo usando preferencialmente o carro, de forma mais longa no tempo e usufruindo de um turismo ativo com atividades ao nível indoor e outdoor. Para além deste predicado, existem ainda os requisitos referentes a todos os serviços que são identificados como requisitos essenciais, sejam eles serviços de streaming, wifi, banda larga …. Quando olhamos para este estudo, verificamos de forma clara e vincada, a realidade inerente a uma nova geração. Uma nova geração que está a entrar no mercado de trabalho e que vê o turismo como um predicado da sua forma de estar e de viver. Se queremos continuar a ter turismo e turismo ativo e cultural em particular, não nos podemos esquecer da nova geração. Uma geração que vive e respira tecnologia e que se encontra online 24×7, 365 dias por ano.

Se a nova geração é uma geração tecnológica em que a tecnologia faz parte do seu ADN, como podemos garantir que o turismo cultural em particular deixe de ser um turismo “analógico” para se metamorfosear num turismo digital, vivo e dinâmico que vá ao encontro de um novo publico e ao encontro das necessidades de uma nova geração.

Se olharmos para o setor da cultura de forma restrita, verificamos que a mesma apenas tem um peso de 0.21% no orçamento de estado em 2021, embora tenha atingido a marca dos 5M de visitantes em museus, palácios e monumentos (2018).

Para se ter uma ideia da importância da Economia Cultural, esta corresponde a 7,0% do PIB mundial. Nos EUA, atinge um pouco mais, 7,7% (2003) e a 8,2% do PIB do Reino Unido. Em termos de emprego, representa 4,0% do emprego total nos EUA e 6.4% do emprego na Inglaterra (Banco Mundial, 2006).

Ao lado da Economia do Conhecimento ou da Informação, a Economia da Cultura integra o que se convencionou chamar Nova Economia, dado que o seu modo de produção e de circulação de bens e serviços pode ser altamente influenciado pelas novas tecnologias. Este facto pode ser inclusivamente analisado em maior detalhe na nova “framework policy” disponibilizada pela UE de forma a impulsionar a digitalização do património cultural.

E as soluções existentes no mercado atual são inúmeras. Para além da simples digitalização, podemos contar com várias soluções interativas que podem ser usadas, como guias de áudio com reconhecimento de localização, aplicativos online e móveis, jogos, monitores interativos, sistemas de realidade virtual / aumentada, mundos virtuais 3D.

Se algumas destas soluções podem ser mais futuristas, o que é visível é que muitas delas já estão a ser implementadas por esse mundo fora. Um dos exemplos é o projeto Europeana (biblioteca virtual) desenvolvido pela EU que possui um acervo de mais de 50 milhões de itens culturais em formato digital e que detém mais de 500.000 visitas mensais.

Mas se existe tecnologia que tem vindo a ganhar adeptos ao longo dos últimos anos, é AR (Realidade Aumentada). Ao contrário da VR (Realidade Virtual) que garante uma experiência totalmente imersiva e que por este motivo carece de hardware específico, a AR pode ser usada e experienciada de forma simples e ao alcance de um qualquer smart phone. Isto permite que esteja acessível a qualquer turista e com um baixo custo de adoção.

Alguns exemplos práticos da utilização de AR, foi efetuado pelo Art Gallery of Ontario, que resolveu dar vida a todas os seus quadros, ou o Smithsonian Institution que deu vida aos seus esqueletos ou o Akron Art Museum (USA) que ao ser forçado a fechar o museu fruto do lockdown, resolveu “levar as peças de arte para a rua” disponibilizando posters que permitiam a interação com as diversas peças de arte através de um simples QRCode.

Seja para dar vida a espécies extintas, dar vida a museus ou permitir “fazer” viagens no tempo a tecnologia seja ela mais ou menos imersiva pode levar a experiência cultural para um novo patamar. Uma nova realidade que irá permitir educar de forma menos teórica e mais real chegando desta forma a um novo públicos e novas gerações.

Este deveria ser um desígnio que permita, por um lado, garantir a conservação digital do nosso património para as gerações futuras, mas ao mesmo tempo dar-lhes uma nova vida. Uma vida que permita a qualquer cidadão do sec XXI viajar no tempo para vivenciar in loco uma guerra, a construção de um monumento ou simplesmente acompanhar um pintor na criação de uma peça de arte.