Opinião: “Da Cultura e de outras coisas”

Por Paula Oliveira

Com o turismo a correr extremamente bem, com perspectivas de crescimento muito positivas para os anos futuros , com a taxa turística a ser implantada nação fora fazendo cair no esquecimento todas as marés contrárias à implementação da taxa pioneira, com conquistas relevantes em matérias de eventos, etc etc, ficam muito reduzidos os temas que eventualmente poderiam ser relevantes abordar sem parecerem meros elogios ao sucesso conquistado.

Das dores de crescimento que é necessário estar preparado para resolver em tempo , como é o caso do novo aeroporto de Lisboa, também já se fala o suficiente, nos forum próprios e com os interlocutores adequados e habilitados.

Falemos de cultura e da sua importância no turismo e vice-versa. As cidades , desde tempos imemoriais, são palco privilegiado da cultura e das várias manifestações de arte. As cidades proporcionam contextos privilegiados tanto na produção e na criação da arte, como na participação e no consumo culturais. É impossível dissociar a cultura duma cidade à sua importância e apelo turístico. A cultura , arte e património são poderosos instrumentos também de comunicação turística.

No caso de Lisboa, é visível o caminho mais ou menos paralelo que tem levado o desenvolvimento turístico e o aparecimento de eventos e novos equipamentos culturais. O desenvolvimento cultural contribui obviamente para a internacionalização do produto turístico. Mas o contrário também é verdadeiro. A cultura internacionaliza-se, também, por via do turismo. E em Lisboa essa parceria tem sido frutuosa e aprofundada de tal forma que o próprio turismo participa activamente em projectos de cariz ,em principio, estritamente cultural como é o caso de equipamentos como o Museu Judaico. Ou as Jóias da Coroa, por exemplo.

Mas apesar disso, e de o turismo ser uma industria transversal a diversos sectores, não é na verdade o motor , a alavanca fundamental do desenvolvimento cultural. Da mesma forma que a cultura também não é o motor crucial para o desenvolvimento turístico. Complementam-se. Porque a cultura , nas suas variadíssimas disciplinas , pelo menos no meu entender, não terá como base dirigir-se a públicos internacionais especificamente ( exceptuando quando internacionaliza fisicamente uma determinada iniciativa ou evento).

Disse Derek Walcott, Prémio Nobel da Literatura em 1992: ” Uma cultura, todos sabemos, é feita pelas suas cidades”.

E assim continuará.

* A cronista não escreve de acordo com o Novo Acordo Ortográfico.