Opinião: Da hotelaria à cultura da hospitalidade: os desafios no contexto dos negócios de base digital

Por  Sofia Almeida professora de Turismo da Univ. Europeia

A concomitância de diversos acontecimentos de alcance global tem vindo a aumentar a importância do Turismo na economia nacional, nomeadamente: a disseminação generalizada da Internet; a criação da Booking.com, que revolucionou a relação entre o hotel e o hóspede; o surgimento da TripAdvisor, que permite a partilha de experiências, comentários e avaliações de serviço; a Trivago que compara os preços;  as companhias aéreas lowcost que democratizaram as viagens e o aparecimento de plataformas como a Airbnb que têm vindo a desempenhar um papel na história do Turismo na era digital.

Presente em mais de 190 países, a Airbnb é, antes de mais, uma estrutura organizacional em rede na qual flui de forma eficaz a relação entre os vários atores, os hóspedes e os anfitriões. Apesar de os problemas iniciais identificados como resultantes de uma regulamentação inexistente ou insuficiente, é um caso de sucesso.

Segundo um artigo do jornal Expresso de julho, “A Airbnb trouxe no ano passado a Portugal 3,4 milhões de turistas que renderam 2 mil milhões de euros”. As razões que explicam este sucesso, são a flexibilidade, uma vez que os anfitriões podem facilmente alterar os preços. O excesso de oferta, que começa a dar sinais de saturação, obrigou a uma grande redução dos preços praticados no alojamento local (AL), sob pena de muitos quartos ou casas ficarem vazias. A Airbnb forçou o mercado a ajustar-se, tal e qual como os condutores da Uber fizeram relativamente aos táxis. Enquanto novo concorrente dos negócios tradicionais de alojamento, contribuiu para a qualificação de muitos dos hotéis e cadeias hoteleiras, especialmente no segmento das 2 e das 3 estrelas, que se encontravam estagnados pela falta de concorrência.

O setor hoteleiro tem vindo a alargar o espectro e a qualidade da oferta de serviços de alojamento. Segundo dados do INE (2019) entraram no mercado mais 2.059 estabelecimentos e recebemos 21,1 milhões de hóspedes. Os números falam por si e provam que o setor hoteleiro é promissor.

Estamos sempre a aprender a lidar com novos desafios: a forma de vender quartos de hotel hoje é diferente de há 100 anos e aprendemos a lidar com novos softwares hoteleiros, novas plataformas de vendas, novos canais de distribuição, novas formas de publicidade online, novos canais de comunicação, como são exemplo as redes sociais.

Por tudo isto, o turismo português tem de ser cada vez melhor. Receber bem é uma arte que se aprende e felizmente apesar de tantas coisas novas, de tanta modernidade, continuam a existir boas escolas de turismo, excelentes cursos de gestão hoteleira que ensinam as teorias de sempre e as boas práticas de agora. A gestão hoteleira é uma profissão do presente e do futuro. Por muitas tecnologias que inventem para facilitar a vida aos hóspedes, aprender a receber será sempre uma profissão nobre e desempenhada pela excelência de tantos profissionais. Por muito que o mundo gire, os hotéis continuarão a existir como pontos de encontro, palco de conversas cruzadas e um espaço facilitador de relações entre quem chega, quem está e quem parte.