Opinião: “Da Série Idade do Gelo do Turismo, ep. 33”

Por Maria José Silva, CEO RAVT

WOW! Espreguiça, inspira, conta 700 elefantes, 454 leões, 10 lobos, 1 marmota. Expira, repete 17 vezes. E foi assim que após meses de hibernação no turismo, alguém acorda Frozen! O estranho é que quem continuou na caça, nas manadas, nas matilhas, nas migrações, no amealhar de ossos para as temporadas dos próximos 100 anos, enquanto outros nem para 1 semana conseguem, não tenha produzido grandes rugidos e nem a defesa da espécie.

Passo a explicar. Uma tal marmota… Upssss, afinal é um esquilo-dente-de-sabre, nome mais Jet Set para os tios de Lisboa entenderem, de uma tal TAP que já nem sabemos bem o que é, decidiu seguir cegamente atrás da bolota mesmo que com isso, pelo caminho, se perca a visão de toda a floresta, toda a envolvente, das consequências. Valem todos os meios para atingir os fins de uma marmota qualquer. Vejamos:

A cada dia se nota a temperatura a descer no relacionamento entre a TAP e a Operação e Distribuição turística, bem como o defraudar de expectativas e de serviços a clientes. Se antes estávamos a -2 graus, em janeiro 2020 passámos a -50 graus com o novo formato de TAP Distribution. Entraremos na nova Era do Gelo que vai esganar, asfixiar, congelar empresas, criar mais desemprego, inibir as exportações e a vinda de muitos turistas e, consequentemente, desfazer em pedaços centenas de agências de viagem, quer operam no lazer ou no corporate, quer sejam outgoing ou incoming, IATA ou Não-IATA.

Porquê? Questionam os pinguins desse lado. Porque a TAP retirou inventário, acesso ao seu produto e venda a agências novas nos GDS desde julho. Como não existem ainda as novas formas anunciadas para 2020, seguem inibidas de venda. Ok, podem dizer que são livres de dar acesso de venda a quem quiserem. Pois é, mas esses também pagam impostos e sustentam uma TAP pública há mais de 70 anos. Depois disto, entramos em novembro e recebemos a comunicação que, para venda do produto TAP, fica-se sob análise de pedido de cada agência e pseudo-city. Sendo que existem uns que são primos, seguem a linha dos governos, que são grandes grupos de lobos, de grande produção, e mais algumas exceções de outras espécies, que são os protegidos e queridos. O criar e direcionar para cartel puro, oligopólios no segmento aéreo e às claras. Estas manadas e matilhas quase não sofrem alterações a não ser na forma técnica de aceder aos produtos. Continuam a utilizar as mesmas ferramentas, GDS, com inventário, com um Private Chanel acessível, que podem escolher qual a via de reserva. Se via GDS, parceiros de longa data e da era moderna que permitiram um avanço enorme a todos os níveis com a facilidade de procura, comparação, adequação de produto a perfil de cliente, facilidade na reserva e emissão de bilhetes, que ainda retribuem e permitem atingir objetivos de rappeis ou overs quando produção em larga escala e com isso fazem o direcionamento claro. Esta vertente de retribuição via GDS acaba. Contudo, têm acesso, podem vender via NDC.

O problema reside no seguinte, as restantes manadas de espécies pequenas são ignoradas e maltratadas, sejam lá IATA ou Não IATA, que sem autorização ou pela pouca produção passam a ter acesso apenas via WEB, tal e qual como uma Low Cost. Algo espetacular para uma companhia de bandeira e líder de um país com alto nível de competitividade no Turismo em lugares elevadíssimos no ranking. O mais grave é a desigualdade de acesso a tarifas, preços, serviços, em que os melhores e mais competitivos seguem apenas para as matilhas de grandes lobos. Onde está a autoridade da concorrência aqui? Traduzindo, as pequenas perdem retribuição seja de segmentos ou de rappeis que já não tinham, não têm comissão alguma, e ainda perdem o crucial acesso a inventário via GDS, via Private Chanel e via WEB nem se sabe.

Como pode um esquilo qualquer decidir borrifar-se para o resto das espécies e ninguém sequer mugir e nem rugir???????!!!!!!! Como pode alguém estar tão cego e em fase de prejuízos fazer de tudo para afastar elevado número de empresas, provocando entropia tal, desgaste em tempo, desgaste de recursos humanos, exigir investimentos elevados em tecnologias e ainda certificações, para poder vender a TAP? Como se colocam tantas empresas em risco de falir e empregados em risco de entupir mais o fundo de desemprego? Alarme exagerado? Não, saibam que cada rede de agências, mesmo as mais pequenas com 80% de produção de lazer, tem uma dependência da TAP em média de 45% e chega às corporate acima de 60%! Acreditem que não porque querem ou esta TAP de hoje mereça, mas porque ainda existem algumas rotas e slots em que dominam ou são mais favoráveis. Contudo, com serviços low cost para parceiros e para clientes, sem já bagagens, sem refeições, sem qualidade de serviço, com atrasos mil e irregularidades sem fim, com o fugir constante de proteção e cumprir de direitos de passageiros, passará rapidamente para menos de metade deste share num ápice. Low Cost por Low Cost venha lá outra qualquer. Afinal foram mais de 70 anos de preferência pela companhia, que ainda respeitava parceiros e comunicava, e que de repente esqueceu quem a alimentou e promoveu aos 4 cantos do mundo, quando não existiam outros canais e nem outros parceiros, e lhes permitiu chegar até hoje. Engordou-se a galinha, e agora já se acha que por ser ave pode voar só, defecando em cima de tudo e todos.

Se creem que só as agências de lazer sofrem, pois bem, pelo comunicado verifica-se a intenção clara de contactar direto empresas e lhes dar o mesmo acesso web, veremos qual a capacidade de resposta para a exigência de tal população. Nem para low cost servem quanto mais.

Outra questão se coloca, onde raio está o ministério da Economia, secretaria de estado do Turismo e o Instituto de Turismo de Portugal que a todos que cruzam dois serviços ou mais, como intermediários, têm que ter uma licença RNAVT, pagar impostos, taxas e fundos de garantia, mas estes vendem tudo, cruzam milhentos serviços, deles e de outros e nada e ninguém exige coisa nenhuma e menos fiscaliza?

As eleições acabaram, as guerras das cadeiras idem, podem agora ver o que se passa? Não podem dizer que desconhecem, que nada se passa, que a mensagem não passa e nem é clara, pois aqui gaga não sou. Pode alguém de uma vez dar uns berros, desculpem rugidos fortes, fazer uns pipis e de uma vez marcar o território, mostrar forças e impor respeito?

Com isto é fácil entender que o clima vai arrefecer, destruir uma boa parte da fauna e da flora da cadeia de valor do turismo. Ou será que aqui não há “Greta” que faça defesa perante estas graves alterações climáticas? Alterações que nos levam – para vender um miserável bilhete de 30 euros, sem direito a coisa nenhuma e daqui a pouco nem ao assento e para poder entrar no avião até as rodas do trem de aterrragem teremos que pagar extra – para a Era da Pedra, todos Flinstones, a entrar na Idade do Gelo, com o exigir de horas infinitas de trabalho extra para entrar em mil paginas de cada companhia, cada uma com as suas manias e espertezas, nada standard, perdendo todos produtividade, rentabilidade, capacidade de resposta, capacidade de promoção e venda a vários mercados e países, ou nos calha o euromilhões, ou uma herança de 5 milhoes de um dinossauro qualquer para poder desenvolver ferramentas e tecnologias para aceder via PSS e mesmo assim só sendo primo de algum qualquer porco, ou integração via lobo qualquer.

Estamos literalmente “entregues aos porcos” (George Orwell), o setor a saque! Serei a única a desejar que um raio acerte na marmota, desculpem, no esquilo e mais à maldita bolota? Com tudo isto estou incrédula e FROZEN!