Opinião de Raúl Ribeiro Ferreira: E depois da crise?

Por Raúl Ribeiro Ferreira, presidente da ADHP*

“O País comemorou há uns dias a liberdade, data essa que tem como um dos seus hinos a música (Depois do Adeus). Parece-me uma frase que se encacha no sentimento que atualmente vivemos.

A grande questão de momento, é o “Depois da Pandemia”? Todos já perceberam que o problema se divide entre a parte da saúde versus o impacto económico.

No que respeita à saúde, todos nós parecemos que tirámos um curso de medicina com a especialidade de Saúde Pública, o que nos permite interpretar ou mesmo opinar sobre as medidas que os técnicos de saúde devem tomar.

Das escolas aos cabeleireiros, passando pelas lojas de bairro e não nos esquecendo dos restaurantes e hotéis, todos têm opinião, quais as medidas mais corretas a tomar para garantir a segurança dos clientes e dos funcionários nessas empresas. É óbvio que os responsáveis dos vários setores, desde o dia em que fechámos ou condicionámos a atividade, que estudamos a forma de minimizar esse problema.

Na hotelaria e restauração, que é a nossa área e que tem concentrado os nossos esforços, é preciso lembrar que as medidas de segurança que vão ser adotadas, genericamente, não são estranhas ao setor. Noutras alturas já tivemos receções protegidas, já servimos buffets (serviço feito por um colaborador) em vez do cliente se servir, também a preocupação com a limpeza e desinfeção sempre existiu nas unidades, agora só muda o tipo de produtos a usar e a frequência com que é feito; até a existência de álcool gel, não é novo.

Com isto, não quero desvalorizar a gravidade do que estamos a viver, mas quero deixar uma palavra de confiança porque, ao longo da história, sempre no nosso setor conseguimos ajustarmo-nos às condicionantes. Deixemos os técnicos de saúde em conjunto com a Confederação de Turismo, (que baseia a sua opinião no trabalho feito com as associações do setor) estabelecer as regras de segurança, para que nós as possamos implementar.

Na parte do impacto económico, muito haveria que dizer, penso mesmo que esse será o dano mais demorado de passar. Permitam-me que lhes fale do nosso setor e dando-vos alguns números do que conseguimos apurar do mercado.

Numa altura particularmente difícil e quando todos nós estamos preocupados em salvar as nossas empresas/ unidades, é fundamental, mais do que nunca, que o trabalho em conjunto seja o mote para mostrar que o setor do turismo/ hotelaria está unido e sabe qual o caminho que tem de levar para sobreviver à pandemia.

Como já referi atrás, é fundamental que a Confederação do Turismo seja o nosso principal megafone e que sejam eles que reúnam a informação e que a vinculem de forma a não haver ruído desnecessário.

Com o que é conhecido à data de hoje, é importante dizermos que, primeiro, os hotéis nunca receberam ordem de encerramento. O encerramento da maior parte das unidades deu-se por uma questão de segurança financeira, porque de repente ficámos sem clientes. Mas aproveito para deixar aqui uma palavra de reconhecimento a todos os empresários que mantiveram à sua responsabilidade as unidades em operação. Não deixo também de agradecer publicamente aos diretores e neles a todos os funcionários dos hotéis por eles dirigidos, que se mantiveram a assegurar os serviços das unidades.

Segundo os dados que temos, acreditamos que 15% das unidades fechadas, retomem a sua operação em maio e 70% durante o mês de junho. Ficando as restantes para os meses subsequentes.

Voltando à música, o medo que nos assola a todos nós é que, em vez de estarmos preocupados com o “Adeus à Pandemia”, que tenhamos um “até Já à Pandemia”.”

* A opinião foi solicitada por Ambitur.pt no âmbito de um conjunto de artigos que estamos a elaborar com empresários e responsáveis do setor sobre a atual situação que o país/mundo vive no âmbito da Covid-19.