Opinião: “Democracia Representativa e a Democracia Participativa, pequenos e grandes!”

Por Tiago Raiano, presidente da Mesa de Assembleia Geral da APAVT

É corrente, no mercado da distribuição turística, ouvirmos dizer que os interesses dos grandes grupos estão permanentemente protegidos em detrimento dos pequenos agrupamentos ou pequenos empresários.

Em abono da verdade, entendo que esta visão é redutora e que, em muitos casos, materializa uma justificação individual para a demissão das nossas responsabilidades enquanto agentes económicos do sector.

Esta demissão, e fazendo aqui um paralelismo com a nossa responsabilidade enquanto cidadãos, traduz-se nos níveis de abstenção a que assistimos nos actos eleitorais para os órgãos centrais, locais ou regionais do Estado e, também, nos actos eleitorais para as Associações representativas dos sectores económicos, como a APAVT.

Numa democracia representativa, a ausência de participação nesses momentos, estratégicos por natureza, impede-nos de conseguirmos assegurar, ainda que indiretamente, a defesa dos nossos princípios, das nossas opções ou dos nossos interesses! Mas parece não nos impedir de ser agentes críticos das decisões que são tomadas nos diferentes órgãos de decisão, sejam eles políticos ou associativos. Assim, em vez de agentes de mudança, tornamo-nos meros espetadores, opinativos, mas escassamente interventivos.

Esta critica, mais não tem subjacente do que a perceção de que existe uma demissão individual e colectiva nas decisões de aspectos fundamentais do nosso dia-a-dia ou do nosso futuro, que começa na falta de participação nos actos eleitorais ou nos diferentes fóruns cívicos.

Muitas vezes, é mais fácil encontrar justificações para a inércia, para a omissão, para o afastamento progressivo das instâncias de decisão. No entanto, urge adotar posição, assumir perspetivas, promover a discussão e o debate, ouvir e ser ouvido. É altura de cada um de nós, dentro do sector, assumir responsabilidade pelos desígnios coletivos, defendendo a nossa posição no mercado e, consequentemente, um turismo de qualidade e com qualidade. É altura de assumirmos responsabilidades individuais para o bem coletivo.

Nos últimos dois anos, entendeu a Direcção da APAVT assumir um papel activo na evolução do seu modelo democrático representativo, indo ao encontro dos seus associados, numa logica mais participativa, tentando recuperar quase o ideal da Democracia Directa Grega, onde se privilegiava a participação activa e efectiva dos cidadãos na vida pública.

Para esse efeito, para além das reuniões dos diferentes capítulos, passou a fazer a maior parte das suas reuniões de Direcção nas diferentes regiões do território nacional, promovendo sempre reuniões abertas aos associados com o intuito de promover o debate e os esclarecimentos sobre os diferentes aspectos que afetam a nossa actividade.

A verdade é que o sucesso desta medida, depende e muito, da participação dos associados, sejam eles pequenos ou grandes.

Aquilo que constatamos, é que os ditos grandes não perdem a oportunidade para participar nos diferentes encontros da APAVT e entendem que a participação associativa é fundamental para a defesa dos seus interesses, seja na definição de uma estratégia comum, seja no acesso ou partilha de informação, seja na criação de enquadramentos políticos que facilitem a defesa dos seus interesses, seja no mero exercício do seu direito de participação, independentemente da temática.

Estes entendem que o mero exercício democrático representativo não é suficiente para acautelar os seus interesses e estratégias futuras em relação às suas organizações, independentemente da sua dimensão.

Talvez boa parte da razão da afirmação inicial se traduza nessa participação cívica ou na sua demissão, conforme a perspetiva.

Na verdade, quanto menor for a participação de cada um de nós em cada um dos momentos de participação associativa, menor será a nossa capacidade de influenciar as decisões e apresentar soluções para os desafios que temos pela frente, ficando à mercê de um pequeno grupo de decisores (pequenos ou grandes)!

Será que cada um de nós está a fazer a sua parte?