OPINIÃO: “Diz ao Mundo! Cala-te em Portugal”

Por Miguel Quintas

“Quanto mais experientes a gente estejamos (…) mais conhecimento estamos, melhor também estamos.”. Esta é uma das frases mais famosas proferida por Jorge Jesus, há cerca de dois anos, na altura treinador de futebol do Benfica, quando tentava explicar o que era conhecimento. Quem gosta de futebol, seguramente se lembra. Para quem não acompanha aquele desporto, saiba que o referido treinador é considerado um dos melhores na sua atividade em Portugal (senão mesmo o melhor).
Sendo excelente, Jorge Jesus é controverso. E é controverso apenas porque treina em Portugal. Passo a explicar: Jorge Jesus tem êxito. É bom no que faz. Sabe o que faz. Com melhores e piores equipas ele consegue sempre bons resultados. Se lhe faltam elementos para jogarem numa determinada posição, ele avalia o potencial dos seus recursos, forma-os, treina-os e eleva-os a um estatuto de excelência que poucos líderes conseguem fazer para, finalmente, colocá-los num novo patamar profissional. Mais: Jorge Jesus tem cuidado com os detalhes. E vence muitas vezes por essa mesma razão. Jorge Jesus também é exigente consigo e com as equipas que lidera. E vence ainda mais vezes por isso mesmo. Em resumo, Jorge Jesus é brilhante naquilo que faz.
Por outro lado, aquele treinador, sabendo das suas capacidades, não se inibe de se autoelogiar. Aliás, tal como provavelmente muitos dos adeptos de futebol também o consideram, Jorge Jesus acha-se, provavelmente, o melhor de Portugal. Mas… qual sacrilégio! Para nós, portugueses, tal egolatria é absolutamente imperdoável! Alguém assumir-se como melhor que outros pares no nosso país é a morte. Aparentemente, em Portugal todos temos o dever de nos considerar iguais. Mesmo com mais conhecimentos, com mais trabalho, com mais provas dadas e mesmo com mais capacidades. E tem de ser assim porque não se pode ser sincero quando falamos de nós próprios. E porquê? Porque não podemos tirar proveito de tudo o que bem e bom fazemos…? Porque não nos podemos auto-motivar quando sabemos que fazemos coisas excelentes…? Por uma razão principal, entre outras, de termos no nosso país um desporto mais praticado que o próprio futebol – a inveja. E a inveja aniquila o talento, trava o conhecimento e ofusca o futuro. A inveja tira os olhos do essencial e coloca em evidência o supérfluo, como por exemplo enfatizar erros gramaticais e de construção frásica iguais aquela que abrem este texto.
O melhor treinador do mundo (mundialmente aceite como tal), antes de o ser disse de si mesmo que era o “Special One”. Mas disse-o em Inglaterra – e todos o respeitaram. Melhor ainda, passou a ter esse mesmo epíteto de aí em diante. O melhor treinador do mundo é Português e chama-se José Mourinho. Por isso Jesus será fenomenal se algum dia sair de Portugal. Tal e qual como José Mourinho. Nessa altura poderá dizer aquelas “barbaridades” de se achar melhor que os outros. Entretanto, aqui no arrabalde vamos gozando com o que é realmente importante: O (possível) melhor treinador de Portugal não fala bem português! Coincidência da vida, o melhor treinador do mundo também não fala bem Inglês. E isso nunca foi um problema no país onde nasceu o futebol. Afinal o que é realmente importante?