Por Miguel Quintas
Não há nada como um bom exemplo ou um êxito para andar nas bocas do mundo. Mas não há nada melhor ainda que um bom azar ou uma crítica azeda para chamar a atenção do povão. Por alguma razão, gostamos sempre mais da desgraça e da inveja que ovacionar os feitos. Aliás, neste país, êxitos e triunfos apenas têm relevo após o ocaso ou a morte de alguém. Por tal razão, hoje apetece-me criticar quem nos critica.
Rui Moreira, Presidente da Câmara do Porto (cidade que adoro, admiro e donde tenho raízes) decidiu recentemente criticar, nas redes sociais, a instituição Turismo de Portugal sobre a sua falta de apoio para a eleição do Porto como o melhor destino europeu de 2017. Claro está que, considerando os seus seguidores e o seu discurso inflamado de permanente rivalidade Norte/Porto Vs Sul/Lisboa, os ânimos, já de si acirrados, se incendiaram ainda mais. Como resultado desta ação, a página do Facebook do Turismo de Portugal desceu de uma pontuação de 4,6 estrelas para 1,6 (5 estrelas é a pontuação máxima). Os comentários de ódio regionalista e pior ainda, comentários negativos em inglês apenas geram e gerarão, em primeiro lugar, prejuízos gratuitos para a referida instituição e, em segundo lugar, para todas as Regiões de Turismo e portugueses em geral. O Turismo de Portugal, o órgão público (e portanto de todos nós) que tutela o turismo em Portugal tem feito um trabalho de exceção nos últimos anos, conforme atestam os prémios internacionais que tem recentemente recebido. Tão internacionais como os da cidade do Porto. Falar de falta de apoio de uma forma pública, com uma rede de seguidores excitados e inflamados revela falta de sentido de estado para um Presidente da Câmara. Neste caso, da segunda maior cidade do país. Pode até assistir-lhe alguma razão na sua observação (em minha opinião, não). Pessoalmente penso que ficar-lhe-ia muito melhor, revelar publicamente que, em 2016, a região de Turismo do Porto e Norte de Portugal recebeu 3,25 milhões de euros para a sua promoção turística do tal instituto que, supostamente, não apoia a sua cidade.
Michael O’Leary, CEO da Ryanair, falando sobre os aeroportos de Lisboa, veio criticar que se fosse ele, em seis meses construía um terminal que teria acesso para mais uns quantos milhões de passageiros. Nós por cá não sabemos exatamente como, mas acredito que estamos dispostos a receber e aprender os seus ensinamentos. Particularmente de quem tem o espírito peregrino de querer colocar os passageiros a viajar em pé, de chamar os seus clientes de “idiots” ou achar que as Agências de Viagens se devem “lixar” ou mesmo “disparar sobre elas”. Pessoalmente, penso que não precisamos de mais histéricos por cá, mas a avaliar como o mundo anda… nunca se sabe.
PS: Uma palavra de agradecimento à Ambitur e em particular à Inês e ao Pedro, pela oportunidade que me deram de escrever regularmente nesta publicação de excelente referência do nosso setor e cuja colaboração termina nesta edição. Muito obrigado e longa vida, cheia de êxitos, à Ambitur.